A novela sobre a escolha do presidenciável tucano que enfrentará Lula nas eleições em outubro finalmente terminou na tarde do dia 14. A cúpula do PSDB oficializou a candidatura a presidente do atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Na noite anterior, Serra esteve reunido com o “triunvirato” tucano – Tasso Jereissati, Fernando Henrique Cardoso e Aécio Neves – para tentar chegar a um acordo. Tasso teria consultado ainda os governadores tucanos. A palavra final saiu de uma conversa entre Serra e Alckmin, após a qual Serra telefonou para Tasso e comunicou a decisão.

Riscos
Embora Serra estivesse bem colocado nas pesquisas, próximo a Lula e com intenções de votos maiores do que Alckmin, pesaram para a definição do candidato tucano as recentes mudanças na conjuntura eleitoral, em especial a recuperação de Lula. Esse elemento contribuiu muito para as vacilações do prefeito de São Paulo em assumir a pré-candidatura à presidência da República.

Ao lançar Serra, o PSDB estaria abrindo mão da prefeitura paulistana e, ao mesmo tempo, abrindo caminho para que adversários conquistassem o governo do principal estado do País, sem a garantia de que isso resultaria na derrota de Lula e na vitória dos tucanos. Com Serra fora da disputa nacional, é muito provável que seu nome seja indicado para concorrer ao governo de São Paulo.

O Estado de São Paulo é responsável por 32,6% do Produto Interno Bruto (PIB), por 32% das exportações e 45% das importações. Perder de uma tacada a prefeitura e o controle do estado significaria, portanto, uma profunda crise do PSDB. Alckmin, por sua vez, não tinha nada a perder, e conquistou apoio nacional dos tucanos utilizando o aparato do governo de São Paulo.

Por isso ele avaliava que, no caso de prévias partidárias, poderia ganhar a disputa contra Serra.

Outro elemento que pesou foi o risco de o PSDB sair profundamente dividido caso fosse Serra o candidato. De acordo com a avaliação do tucano, uma vitória pontual poderia ser transformada em derrota num horizonte bem próximo, pois Serra poderia ver Alckmin cruzar os braços em São Paulo, maior colégio eleitoral do País, com 22,36% do eleitorado.

Serra avaliava também que não teria o apoio dos tucanos de Minas Gerais, outro colégio eleitoral muito importante. Contudo, apesar de “tirar o time de campo”, o PSDB sai profundamente em crise. Prova disso foi que José Serra sequer foi ao lançamento oficial da candidatura do insosso adversário.

De qualquer forma, entre os dois tucanos não havia diferenças de conteúdo e de política. O PSDB optou pela tática mais segura: tentar garantir o que já está na mão.

Tradição, família e religião
Visto pela maioria da população como um político sem carisma, Alckmin destaca-se nas elites por possuir um amplo apoio no meio empresarial.

Além de ser amigo dos banqueiros e dos empresários, Alckmin também tem um histórico político contrário às lutas dos trabalhadores. Depois de ser indicado, o tucano declarou à imprensa que sua plataforma política está baseada na tradição, família e religião. Qualquer semelhança com a ultra-reacionária TFP (Tradição, Família e Propriedade, organização católica que apoiou a ditadura e perseguiu militantes de esquerda) não é mera coincidência. Alckmin é um político reacionário, ligado ao ultra-conservadorismo da Opus Dei (facção mais conservadora do catolicismo).

Entusiasta do neoliberalismo, Alckmin esteve à frente do Programa de Desestatização de São Paulo, sendo responsável pelas privatizações do Banespa (comprado pelo espanhol Santander), Eletropaulo (geradora da energia), Comgás, Companhia Paulista de Força e Luz, Fepasa (ferrovias) e Ceagesp (abastecimento). Além disso, entregou toda a malha rodoviária para empresas que multiplicam pedágios e assaltam os usuários nas tarifas.

Por isso, não é de se espantar que, antes mesmo de ser candidato oficial, Geraldo afirmasse com veemência, em entrevista à Istoé: “se for eleito, no primeiro dia todas as reformas estarão prontas no Congresso: Tributária, Trabalhista, Política, Previdenciária”. Como se pode ver, o tucano possui as mesmas intenções de Lula.
Na agenda de projetos neoliberais também não podem faltar as privatizações. E Alckmin já elegeu suas prioridades: “bancos estaduais. A maioria já foi privatizada, mas deveriam ser todos. Tem muita coisa que se pode avançar. Susep, sistema de seguros, tem muita coisa que se pode privatizar”.

Todos iguais
Alckmin manterá o projeto neoliberal aplicado por Lula. Seu governo será um “chuchuzinho” para banqueiros e empresários, mas para os trabalhadores será bem difícil de engolir.

Uma reeleição de Lula, por sua vez, também não é alternativa. O governo petista é igual às administrações do PSDB, tanto no campo da corrupção quanto no terreno econômico. Ambos são queridinhos do FMI, possuem o mesmo plano neoliberal, e defendem a continuidade das reformas e o arrocho salarial. Nenhum dos dois, PT ou PSDB, representa uma mudança no quadro de corrupção que afundou o governo e o Congresso no ano passado, já que os dois partidos estão envolvidos até o pescoço no lamaçal.

Por isso, o PSTU está chamando uma alternativa para essas próximas eleições, uma Frente de Esquerda, Classista e Socialista, que unifique nas eleições e nas lutas ativistas do PSTU, P-SOL, PCB, Consulta Popular e MST.

Post author Jeferson Choma e Yara Fernandes, da redação
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