Finalmente o PSDB termina seu impasse na definição do nome que concorrerá à vaga de Lula. Na tarde desta terça-feira, 14 de março, os tucanos oficializaram a candidatura a presidente do atual governador paulista, Geraldo Alckmin. Segundo informações divulgadas pelos principais sites de notícias, o prefeito de São Paulo, José Serra, que disputava com Alckmin a indicação, desistiu para evitar um racha no partido.

Na noite anterior, Serra esteve reunido com o ‘triunvirato´ tucano – Tasso Jereissati, Fernando Henrique Cardoso e Aécio Neves – para tentar chegar a um acordo. Tasso teria consultado ainda os governadores Cássio Lima (PB), Lúcio Alcântara (CE) e Marconi Perillo (GO). A decisão final saiu de uma conversa entre Serra e Alckmin, após a qual Serra telefonou para Tasso e comunicou a decisão. O anúncio oficial ocorreu às 16h, no Palácio dos Bandeirantes.

A definição de Alckmin era previsível, pois o atual governador não poderia disputar a reeleição para o cargo e o único nome forte dos tucanos para sucedê-lo é o de Serra. Lançar Serra para a presidência da República seria abrir mão da prefeitura paulistana e do governo do principal estado do país, sem a garantia de que isso resultaria na derrota de Lula e na vitória dos tucanos. Não é à toa que Serra justificou sua saída da disputa dizendo que queria evitar o lançamento de uma “candidatura debilitada“.

A indefinição persistia até então, pois Serra tem maiores índices de intenção de voto do que Alckmin e é o único candidato que poderia derrotar Lula em um eventual segundo turno. Entretanto, esse é um problema que Alckmin espera enfrentar com os meses de campanha milionária pela frente.

De qualquer forma, entre os dois tucanos não havia diferenças de conteúdo e de política, mas uma disputa de egos e táticas. O PSDB optou pela tática mais segura: tentar garantir o que já está na mão.

Picolé de chuchu
A pesquisa Exame/Vox Populi de outubro mostrou que Geraldo Alckmin é o candidato dos empresários, segundo 84% dos presidentes e administradores de 231 das maiores empresas do país. Na votação espontânea, Alckmin teve 40% das intenções, praticamente o dobro do percentual de Serra.

Visto pela maioria da população como um político sem carisma, Alckmin destaca-se nas elites, não só no meio empresarial. A Arko Advice realizou uma pesquisa em outubro com 90 pessoas, representando 35 bancos ou instituições do mercado financeiro nacional. Alckmin obteve 74% de intenções de voto contra 8% de Serra. Tais dados mostram desde já qual setor da sociedade seria beneficiado com o governador paulista ocupando o cargo de presidente.

Além de ser amigo dos banqueiros e dos empresários, Alckmin também tem um histórico político contrário às lutas dos trabalhadores. Alckmin é um político reacionário, ligado ao ultraconservadorismo da Opus Dei (facção mais conservadora do catolicismo).

As reformas que Lula aplicou ou tentou aplicar em seu mandato têm origem na gestão de FHC. Por isso, não é de se espantar que, antes mesmo de ser candidato oficial, Geraldo afirme com veemência, em entrevista à revista Istoé, que “se for eleito, no primeiro dia todas as reformas estarão prontas no Congresso: Tributária, Trabalhista, Política, Previdenciária”.

Na agenda de projetos neoliberais não podem faltar as privatizações. E Alckmin já elegeu suas prioridades: “bancos estaduais. A maioria já foi privatizada, mas deveriam ser todos. Tem muita coisa que se pode avançar. Susep, Sistema de seguros, tem muita coisa que se pode privatizar”.

Agora, Alckmin deve utilizar como eixo de sua campanha a recente medida de seu governo de aumentar a grade curricular das escolas estaduais de ensino médio, o que aumentou uma aula por dia para os estudantes e empregou mais professores. O que o picolé não diz é que ele apenas está devolvendo as aulas usurpadas da grade pela própria gestão tucana no estado, na época em que ele era vice de Covas.

Apimentado
Levando-se em conta os posicionamentos políticos apresentados, é possível prever que, caso eleito presidente, Alckmin manterá o projeto neoliberal que vem sendo aplicado no país. Seu governo não será insípido, como um picolé de chuchu, mas bem apimentado e difícil de engolir.

Uma reeleição de Lula, por sua vez, não é melhor que a alternativa do picolé apimentado. Seria o mesmo plano neoliberal, a continuidade das reformas e do arrocho salarial. Nenhum dos dois, PT ou PSDB, representa uma mudança também no quadro de corrupção que afundou o governo e o congresso no ano passado, já que os dois partidos estão envolvidos até o pescoço.

Por isso, o PSTU está chamando uma alternativa para essas próximas eleições, uma frente de esquerda, classista e socialista, que unifique nas eleições e nas lutas ativistas do PSTU, PSOL, PCB, Consulta Popular e MST.