Yasser Arafat fundou a organização político-militar Al Fatah em 1967. Seu programa era muito progressivo: “lutar por uma Palestina laica, democrática e não racista, onde pudessem conviver em paz árabes e judeus, e o direito de retorno aos milhões de emigrados palestinos, expulsos de suas terras pelos sionistas”. Para isso, era necessário destruir o Estado gendarme e racista de Israel, principal obstáculo para a paz na região.

Arafat conseguiu transformar o problema palestino em um eixo da discussão política mundial e, ao mesmo tempo, deu um sentimento de unidade a seu povo. Assim se transformou em seu dirigente indiscutível e o Al Fatah passou a ser a corrente palestina majoritária. Nesse processo, criou-se a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), definida como “um verdadeiro Estado nacional sem território”, com a participação da maioria das organizações palestinas.

Depois de serem expulsos do Líbano pelo exército israelense, em 1982, e radicar-se em Túnez, porém, Arafat e a cúpula do Al Fatah começaram um profundo processo de transformação: deixaram de ser uma direção que, ainda que burguesa e burocrática, encabeçava o combate pelos direitos palestinos para buscar uma solução pela “via diplomática”. Foram aceitando as exigências do imperialismo e se afastaram cada vez mais da luta de seu povo, como se viu na primeira Intifada, em 1987. O processo culminou com a assinatura dos “acordos de Oslo”, em 1993: Arafat e o Al Fatah traíram suas históricas bandeiras de luta.

Governantes servis
A criação da ANP foi recebida com euforia pelo povo palestino, porque acreditou, como dizia seu dirigente histórico, que era um passo para um autêntico Estado independente. Arafat foi eleito presidente com 80% dos votos.

A mentira tem pernas curtas e logo ficou claro o significado real da ANP. A “polícia palestina” do Al Fatah atuava como uma força servil, reprimindo os que queriam continuar a luta contra Israel. A direção do Al Fatah transformou-se na expressão de uma corrupta burguesia palestina pró-imperialista que vive de administrar e parasitar o orçamento da ANP, cujos fundos são entregues pelos EUA, UE, governos árabes e de Israel. A superpovoada Faixa de Gaza transformou-se no “maior campo de concentração da história” e as populações agrícolas da Cisjordânia têm cada vez menos terra e água, porque Israel se apropria delas. Contra essa situação explodiu, em 2000, a Segunda Intifada.

O morte de Arafat, com fortes suspeitas de assassinato, acelerou o processo: o Al Fatah e o governo palestino passaram a ser totalmente controlados pela ala mais pró-imperialista (Mahmud Abbas). Vejamos um exemplo desses dirigentes: o milionário A. Korei (primeiro-ministro renunciante) é dono de uma empresa de cimento que vendeu grandes quantidades do produto ao Estado sionista para ajudar na construção do “muro da vergonha”. Inclusive depois de sua derrota, Abbas, fazendo coro com o imperialismo e Israel, diz que não entrega ao governo ao Hamas “se antes não abandonar sua proposta de destruir Israel”. Esta traição é a que o povo palestino acaba de derrotar.
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