Presença internacional faz com que se plante o que dá mais lucro, como soja e canaNo campo brasileiro, não há mais apenas a velha figura do coronel, símbolo histórico do latifúndio nacional. O desenvolvimento do capitalismo no campo, nas últimas décadas, também foi marcado pelos efeitos da globalização. Em meio à aplicação das fórmulas neoliberais, nas décadas de 1980 e 1990, a expansão do capitalismo no campo brasileiro adquiriu uma nova forma: o agronegócio. O que colocou, ao lado do coronel latifundiário, distintos homens de negócios engravatados que representam os interesses de grandes transnacionais.

Em geral, o agronegócio se caracteriza pela forma da monocultura (a produção de apenas um tipo de produto) associada a grande propriedade e o emprego de alta tecnologia na produção. O resultado foi o aumento da concentração de terras, agora nas mãos de grandes empresas, em um país em que a reforma agrária nunca saiu do papel.

Com o agronegócio, a agricultura é dominada cada vez mais por conglomerados econômicos internacionais que determinam o que, quando, como e onde devem ser produzidos e comercializados os produtos agrícolas. Grandes multinacionais como a Cargill, a Sempra Energy, a Mitsui e muitas outras estão comprando terras e dominando o campo, ao lado de grandes burgueses conhecidos como George Soros, Bill Gates e até o ex-presidente democrata Bill Clinton.

Outra característica é que cada vez mais o agronegócio controla todas as etapas da produção. Desde o mercado de insumos, como sementes e herbicidas; passando pelas técnicas e tecnologias de produção (máquinas e implementos agrícolas e pesquisas em áreas como genética e biotecnologia, como ocorre com os transgênicos); aos sistemas de financiamento e redes de comercialização.

Assim, os produtos agrícolas foram transformados em “commodities”, produtos agrícolas, carne e minerais negociados em bolsas de valores. Ou seja, alimentos que não são destinados à população, mas sim para a exportação e que têm seus preços regulados pelo mercado mundial.

É essa mudança profunda no campo que os brasileiros estão sentindo agora com o aumento dos preços dos alimentos. Não estamos somente perante problemas menores, conjuntural ou causado por problemas climáticos como a chuva ou a seca (que também existem). Estamos sentindo os primeiros sintomas de um grande problema que vai tender a se agravar e ter outras manifestações.

Etanol
Uma das grandes transformações, por exemplo, está apenas começando que é a mudança no campo para a produção do etanol. Os planos do governo prevêem a possibilidade do etanol brasileiro substituir 10% da gasolina no mercado mundial em 20 anos. Para isso, o país teria que ocupar cerca de 45 milhões de hectares produzindo cana, ou seja, metade dos 90 milhões de hectares de terra cultivável. Agricultores deixarão de plantar feijão, arroz e verduras para plantar cana e para garantir os lucros das multinacionais que estão construindo as novas usinas de álcool no campo.

Além de diminuir a produção de alimentos, a globalização do campo com o agronegócio também provoca o aumento dos preços. Se aumentar o preço lá fora, aumenta aqui, mesmo se produzimos muito, mesmo se nosso povo não pode pagar. O cultivo de produtos que não oferecem lucros simplesmente é substituído por outro, como é o caso recente do feijão, que está sendo substituído pela soja ou pelo milho que atingem preços altos e mais lucrativos no mercado mundial.

A expansão do agronegócio no Brasil também traz impactos ao meio ambiente. A soja, por exemplo, é o principal produto de exportação do país, mas é o maior responsável pela devastação ecológica na Amazônia e no cerrado. Não por acaso o Mato Grosso, estado líder da produção de soja, também é o que registra os maiores índices de desmatamento dos últimos 20 anos – o equivalente a um terço do território estadual já foi destruído.

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