A passagem do Brasil de uma economia agroexportadora à condição de industrial não obrigou a burguesia a fazer reformas estruturais no campo. O desenvolvimento capitalista no campo brasileiro se deu sob a manutenção da velha estrutura fundiária. Mas a globalização trouxe mudanças profundas nas últimas décadas. Hoje, a realidade não é apenas a do velho coronel latifundiário, cercado por seus jagunços armados. Engravatados homens de negócios estão presentes no campo.

A globalização capitalista produziu o chamado agronegócio, que se caracteriza pela concentração de terras e alta produção com a aplicação e o domínio tecnológico das grandes corporações. O agronegócio, porém, leva o pequeno agricultor à ruína, incentiva a monocultura, degrada o meio ambiente e aumenta a pobreza e o fluxo migratório para as grandes cidades.

O agronegócio não se opõe ao velho latifúndio, mas o incorpora. Ao lado de zonas de alta produtividade agrícola, com notável índice tecnológico, convivem terras subexploradas, mantidas como reserva de valor.

O agronegócio é controlado por companhias nacionais ou estrangeiras, as chamadas tradings. Contudo, cada vez mais predominam a desnacionalização e a fusão entre empresas no setor. No mercado de grãos, por exemplo, quem domina são as estrangeiras, como a Bunge, a Cargill, a Archer Daniels Midland (ADM) e a Louis Dreyfuss. O setor de carne bovina é totalmente dominado pelas fusões Friboi – Bertin e Perdigão – Sadia. Já a Coopersucar congrega os usineiros. No sucocítrico é a Cutrale, transnacional alvo das últimas ações do MST.

O peso do agronegócio na economia é enorme. Ele é responsável por 25% do PIB do país e 36% das exportações, mas gera poucos empregos (16% do total). O Brasil é hoje o maior exportador de carne bovina e de frango, açúcar, álcool e suco de laranja, e o terceiro em milho e carne suína.

Por ano, o agronegócio gera uma riqueza de 400 bilhões de dólares, maior do que o PIB da Argentina. O saldo comercial do agronegócio em 2008 foi de 60 bilhões. Com a mineração, o setor é responsável pelo superávit da balança comercial brasileira. De 2002 a 2008, alcançou US$ 270 bilhões de saldo comercial, que foram convertidos em reservas cambiais utilizadas para pagar os juros da dívida pública.

Com o crescimento do agronegócio, cresceu também o número de conflitos de terras, despejos de famílias acampadas, conflitos trabalhistas e até mesmo de trabalho escravo. Tudo isso demonstra que o desenvolvimento do capitalismo no campo brasileiro no século 21 não excluiu essas práticas para promover a acumulação de capital. A modernidade do agronegócio também produz a barbárie no meio rural.

Parceiro
O governo Lula é o principal parceiro do agronegócio. Desde que assumiu, o presidente liberou os transgênicos, nomeou latifundiários para seu ministério, concedeu generosos créditos e renegociou dívidas com o setor, afrouxou a legislação ambiental, abandonou a reforma agrária e tentou garantir a implementação da Área de Livre Comércio da Américas (Alca) para fazer com que os produtores brasileiros vendessem seus produtos no mercado norte-americano.

Um levantamento realizado pela Gazeta Mercantil em maio revela a montanha de dinheiro público repassado ao agronegócio. Segundo o jornal, levando-se em conta investimentos do Ministério da Agricultura e o fornecimento de crédito do Banco do Brasil e do BNDES, o governo já repassou para o setor, desde 2003, R$ 106,1 bilhões.
Como o jornal destacou, “o valor equivale a mais de dez vezes o orçamento de R$ 11,4 bilhões previsto para o programa Bolsa Família em 2009, duas vezes e meia o orçamento de R$ 41,6 bilhões do Ministério da Educação e é 78,3% superior ao orçamento do Ministério da Saúde. O montante representa, também, 133% a mais do que os R$ 45,46 bilhões destinados pelo governo, no mesmo período, para agricultura familiar e reforma agrária” (Gazeta Mercantil, 18/05/2009).

Lula não é um aliado
O MST deve romper com o governo Lula. O movimento paga um alto preço ao não denunciar que o governo federal é aliado do agronegócio, inimigo da reforma agrária. Um governo que chama de “vândalos” os sem-terra, que destina toda essa renda para o agronegócio, paralisando a reforma agrária, não pode ser qualificado de “aliado” por aqueles que lutam pela terra.

O caminho para a conquista da reforma agrária já foi trilhado no passado. Basta de promessas do governo! A direção do MST precisa romper com Lula e apostar na ação direta dos sem-terra.

Post author
Publication Date