A tradição política brasileira empurra o início do ano para depois do carnaval. Agora estamos, portanto, começando de verdade 2008.

O ano passado foi um ano de preparação. Um ano em que começaram conflitos que terão desdobramentos bem maiores em 2008. A crise econômica internacional se esboçou em 2007, mas iniciou efetivamente agora, em janeiro. O Brasil ainda está vivendo a fase anterior, ainda do auge do ciclo de crescimento. Como a economia mundial é uma totalidade, é inevitável que a crise chegue aqui. Já começam a se manifestar sinais na queda do superávit comercial, na fuga de capitais especulativos, na inflação crescente. É provável que até o fim do ano já existam sinais muito mais claros da crise. E o problema é que, como sempre, o peso da crise será jogado sobre as costas dos trabalhadores.

A gravidade da situação internacional pode ser medida pela campanha eleitoral nos EUA. É necessário para o imperialismo colocar alternativas, como a de um negro ou uma mulher, para presidir o país. O governo dos EUA precisa mudar a cara para manter o controle do mundo.

Até agora, as crises políticas no Brasil seguem represadas. Com a continuidade conjuntural do crescimento, Lula ainda consegue manter a maioria dos trabalhadores apoiando seu governo. Escândalos, como o dos cartões corporativos, são mantidos sob controle. Tanto no governo Lula quanto no de FHC, estes cartões permitiram aos presidentes e altos funcionários uma mordomia indecente paga com o dinheiro público. O povo assiste, repudia, mas não se indigna.

O governo, cauteloso, está empurrando as reformas para frente para evitar um enfrentamento com os trabalhadores. Até quando poderá fazê-lo? Com a crise batendo nas portas, a burguesia vai cobrar uma “postura mais firme” para impor as reformas.

Evidentemente, a chave da evolução da situação é se as massas de trabalhadores vão ou não entrar em luta. Esta é a grande pergunta do ano. Também em relação a isso, 2007 foi uma preparação. Lutas setoriais de peso ocorreram, métodos radicais foram utilizados, como as ocupações das reitorias. Mas ainda falta que as grandes massas de trabalhadores entrem em cena.

Para isso, o ano de 2008 já começa com um grande desafio: a construção do congresso da Conlutas, que é, até agora, a maior conquista do movimento perante o governo Lula. É a alternativa de unificação para as lutas sindicais, estudantis e populares, a falência da CUT e da UNE. A mobilização nacional do dia 23 de maio e a marcha à Brasília foram atos unificados nacionais importantes, impulsionados pela Conlutas.

Neste momento, está começando a preparação do congresso da Conlutas, que será em julho e deve reunir 6 mil delegados, o dobro de dois anos atrás. Uma primeira reunião da coordenação vai ocorrer no final deste mês. Essa deve ser a referência estratégica dos ativistas no início de 2008. É preciso ter uma base forte para a unificação das lutas contra as reformas do governo. É preciso construir a Conlutas, uma nova direção para o movimento de massas no Brasil.

O ano está começando…

Post author Editorial do Opinião Socialista Nº 327
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