Queda da produção nos principais centros industriais se aprofundaO Brasil está em recessão. A confirmação técnica do atual quadro recessivo do país se deu após a divulgação da produção industrial do país no primeiro trimestre do ano. Segundo o IBGE, a produção industrial despencou 14,7% entre janeiro e março, em relação ao mesmo período de 2008. É o pior resultado desde 1991. Só em março, caiu 10% em relação ao mesmo mês do ano passado. Nos dois últimos trimestres, a queda da produção acumulada chega a 16,7%.

Uma economia é tecnicamente considerada em recessão quando sofre dois trimestres consecutivos de redução do PIB. O último trimestre de 2008 registrou queda de 3,6%. Embora o resultado oficial do PIB desses três primeiros meses de 2009 ainda não tenha sido oficialmente divulgado (só vai sair em junho), a queda drástica da produção industrial, um dos principais índices para se avaliar esse dado, já antevê uma queda.

Embora o governo alardeie uma suposta “recuperação” no mês de março em relação a fevereiro ela, globalmente, foi pífia perto da profunda queda que o setor sofreu no final do ano passado. A produção em março cresceu apenas 0,7% em relação ao mês anterior.

Mesmo considerando o crescimento de 4,8% da produção de janeiro a março em relação a dezembro, é insuficiente para recuperar os 20,1% de retração nos último trimestre de 2008. Analistas prevêem que o PIB nesse primeiro trimestre tenha caído algo como 1,3% em relação ao trimestre anterior. Para o ano inteiro de 2009, prevê-se queda de 4% a 5% da produção industrial.

A falácia da recuperação
O resultado da produção industrial de março chegou a ser mostrado como a prova de uma suposta recuperação da economia. No entanto, nem mesmo a redução do IPI mostrou ter garantido fôlego prolongado à indústria automobilística, já que as vendas se desaceleraram fortemente nesse período. Em abril as vendas de veículos caíram novamente, diminuindo 9,5%.

Mais do que isso, a produção de bens de capital simplesmente desabou no trimestre, com queda de 20,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Os bens de capital são as máquinas e equipamentos que garantem a produção nos setores de bens de consumo. Refletem, assim, os investimentos em capital fixo realizados na indústria. A queda nos investimentos expressa o pessimismo em relação ao futuro e a certeza de que a economia não vai se recuperar tão rápido quanto o governo afirma.

Mesmo a desaceleração da queda na indústria observada no último trimestre deve ser relativizada. Ao contrário do que vem sendo dito, não há recuperação do setor. Pelo contrário. Segundo estudo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), a queda da produção industrial se intensificou nos últimos meses nos principais centros do país, Rio e São Paulo.

No quarto trimestre de 2008, a produção caiu 4,4% no Rio e 8% em São Paulo. Já no primeiro trimestre de 2009, Rio apresentou queda de 7,3% e São Paulo 8,9%. “Nos dois maiores centros industriais do País, a produção não apresenta sinais de melhora; pelo contrário, a queda foi ampliada”, afirma o instituto.

Recessão vai se aprofundar
Nas últimas semanas o governo Lula e a mídia tentam vender a ideia de que o fundo do poço da crise econômica já passou. A realidade, porém, não é tão otimista. Até mesmo o governo está sendo obrigado a rever sua expectativa do PIB para este ano, e vai reduzir sua estimativa atual de crescimento de 2%.

Já o Fundo Monetário Internacional estima em queda de 1,3% da economia no país, apesar dos protestos das autoridades do Brasil, que argumentam que o fundo não “conhece” nossa realidade. O próprio mercado no país, porém, aponta retração de 0,3% no PIB.

Esses números evidenciam que, se o Brasil não estava imune à crise no final de 2008, quando foi atropelado pelo tsunami financeiro que se sucedeu à quebra do banco norte-americano Leman Brothers, não está descolado agora também. E a tendência é da crise se aprofundar.