Restos dos corpos das vítimas do sargente norte-americano
Redação

Assassinatos colocam em xeque plano de ObamaO povo afegão foi submetido a mais um crime bárbaro. De acordo com agências internacionais de notícias, um sargento do exército norte-americano, aparentemente transtornado, assassinou pelo menos 16 pessoas na região de Kandahar. Nove delas eram crianças. Seis pessoas continuam feridas em estado grave.

Segundo a imprensa, o sargento agiu sozinho, deixando a base militar de Zangabad, durante a madrugada, dirigindo-se a um bairro próximo. Em apenas uma residência, o atirador teria matado 11 pessoas, incendiando seus corpos. “Vi todos os meus parentes mortos, incluindo meus filhos e netos”, disse Haji Samad, a uma agência de notícias.

No entanto, há suspeitas de que o sargento não teria agido sozinho. “Vários soldados entraram em casa e ficaram em silêncio. Permaneci no chão, fingindo estar morto”,, relatou a Agência Reuters o afegão Jan Agha, que sobreviveu ao ataque.

O horror e a hipocrisia
A reação imediata do governo Obama foi de qualificar a ação do sargento como um “crime bárbaro”, que “não expressa o respeito dos EUA com o povo afegão”. No entanto, as palavras de Obama não passam de mera formalidade. Desde o início, a ocupação militar por tropas da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no Afeganistão é marcada por inúmeros crimes contra a população.

Desde o início da invasão, em 2001, há inúmeros relatos de atentados aos direitos humanos. O massacre de Dasht-i-Leili, em dezembro daquele ano, provocou a morte de 250 a 3 mil prisioneiros talibãs, assassinados quando eram transportados para as prisões do então governo do país. Outro crime bárbaro cometido pelas tropas invasoras ocorreu no dia 22 de agosto de 2008, quando a aldeia de Azizabad, na província de Herat, sofreu um ataque aéreo das forças da OTAN matando mais de 90 afegãos, a maioria crianças.

Assassinatos gratuitos foram – e continuam sendo – uma constante das ações militares da OTAN. Documentos secretos do governo dos EUA, revelados pelo site Wikileaks, mostram a morte de milhares de civis no Afeganistão por soldados norte-americanos, entre 2004 e 2010.

Um dos casos foi noticiado pelo jornal norte-americano Washington Post. Em 2005, cinco soldados da brigada Stryker da 2ª Divisão de Infantaria, cometerem assassinatos gratuitos na região de Kandahar. O jornal relatou o esquartejamento de cadáveres das vítimas. Os soldados ainda teriam guardado ossos e crânios como “troféus de guerra”.

Mas não precisa ir muito distante no tempo para perceber que os crimes dos militares do EUA não param de crescer. Em janeiro deste ano, soldados ianques urinaram em corpos de militantes do Talibã. Em fevereiro, os militares norte-americanos queimaram cópias do Alcorão na base de Bagram. A ação provocou um repúdio massivo contra as tropas da OTAN.

Plano ameaçado
“Esse é um golpe fatal contra a missão militar americana no Afeganistão. Qualquer resquício de confiança e credibilidade que poderia ainda haver depois da queima do Corão acabou”. As palavras de David Cortright, um analista norte-americano, não poderiam ser mais exatas e mostram toda a gravidade da situação para o governo dos EUA.

O plano de Obama de retirada das tropas norte-americanas até o final de 2014 está agora mais do que ameaçado. Até lá, segundo o plano, as tropas da OTAN dariam combate ao Talibã enquanto a polícia e o Exército Afegão assumiriam o controle de todas as províncias do país.

No entanto, o ódio e a revolta contra os mais de 90 mil soldados dos EUA no país não para de crescer. O que representa também uma séria ameaça ao presidente Hamid Karzai, fantoche da OTAN. Apesar de formalmente manifestar repúdio à agressão, seu governo é totalmente bancado pelos EUA. Sem os solados da OTAN, Karzai dificilmente poderia enfrentar o Talibã. Por outro lado, seu governo enfrenta enorme desgaste devido sua “parceria de longo prazo” com os EUA.

“Os americanos não estão aqui para nos ajudar, eles estão aqui para nos matar. Odeio os norte-americanos e odeio quem os ama, então espero que não haja parceria de longo prazo entre os nossos países”, disse pintor de paredes Najibullah, em Cabul, resumindo a opinião geral do povo afegão.