Acordo com milícia xiita pretende impedir que a luta contra a ocupação se amplie pelo Iraque`IraquianosQuando fechávamos esta edição, a milícia xiita deixava a mesquita em Najaf de onde resistiu por quase 20 dias às tropas invasoras dos EUA. Seu líder, o clérigo xiita Moqtada al Sadr, aceitara um acordo com os EUA, desta vez patrocinado pelo grão-aiatolá Ali al Sistani. Entre os cinco pontos do acordo estão o abandono de Najaf pelos militantes armados (“as cidades de Najaf e Kufa, no sul do Iraque, devem ser desarmadas e todos os militantes devem abandoná-las e nunca mais voltar”) e a participação no processo político. “Irmãos, nós estamos entrando nas portas da paz”, disse Qassin Dawoud, ministro do governo. A experiência anterior mostra que os iraquianos estão mesmo é entrando nas portas do inferno.

O primeiro acordo, do início do ano, já havia ido para o espaço e mostrado aos olhos das massas iraquianas que não se deve assinar nada com o imperialismo, muito menos um acordo de paz. Daquela vez, as tropas americanas aproveitaram a trégua para bombardear as cidades que já estavam praticamente controladas pelos rebeldes, como Faluja e Najaf. No início de agosto, voltaram a bombardear Najaf, exigindo a rendição de Al Sadr e avisando em árabe, em alto-falantes pelas ruas da cidade, que “não haverá negociação de paz com terroristas”. Dois dias depois, cerca de 2 mil marines e 1.800 membros da Guarda Nacional iraquiana invadiram Najaf. O exército Mehdi reagiu com granadas-foguetes e morteiros. A invasão de Najaf acendeu uma onda de protestos em outros bastiões xiitas, como Basra, onde mais de 5 mil simpatizantes de Al Sadr foram às ruas.

Agora, os EUA e o governo iraquiano apelam para o grão-aiatolá Al Sistani, a autoridade máxima religiosa do Iraque, para convencer Al Sadr a abandonar a luta. Na verdade, Bush quer mesmo é eliminar Al Sadr, usando como argumento uma ordem de prisão que pesa sobre o clérigo por envolvimento no assassinato de um rival. Os EUA nunca esconderam essa intenção. Há 15 dias, juraram capturar ou matar Al Sadr.

Pela ameaça de um levante nacional, os combates contra as forças de ocupação, centralizadas em Najaf, são o maior obstáculo enfrentado pelo governo de Iyad Allawi, imposto pelos EUA, em junho, para estabilizar a região e conseguir convocar eleições. Para isso, era crucial tirar Al Sadr e sua milícia do caminho. Tanto que o acordo agora assinado vai muito além do anterior e impõe que Najaf se torne uma zona onde as armas são proibidas.

A resistência das massas iraquianas está encostando o governo e o exército americano contra a parede. A desmoralização do governo fantoche de Allawi acabou aumentando ainda mais o ódio popular contra o invasor e a resistência. O movimento rebelde, ao avançar, fazia com que Al Sadr ganhasse mais terreno dentro das forças burguesas, em especial do Baath, e os aiatolás, que se engalfinham por uma fatia de poder no Iraque “soberano”. Nesse jogo, vale tudo. Prometem o paraíso e usam massas como carne de canhão. Na grande marcha “pacífica” a Najaf para celebrar o acordo, convocada por Sistani, a Guarda Nacional abriu fogo e vários xiitas foram massacrados. Uma demonstração sangrenta de que o acordo não passa de mais uma enorme traição à luta do povo iraquiano.

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