No dia 20, o país se viu livre de um dos mais asquerosos símbolos da ditadura e da oligarquia: Antonio Carlos Magalhães, o ACM, ou “Toninho Malvadeza”, apelido mais condizente com seus métodos.

Morto aos 79 anos de causas naturais (diferentemente de muitos de seus opositores), ACM deixou uma extensa ficha corrida de serviços prestados à exploração e opressão, construída nos mais de 50 anos em que ele habitou ou parasitou o poder. Seja como articulador da ditadura, seja como “conselheiro” de Lula. ACM será sempre lembrado com um símbolo de tudo o que existe de mais reacionário.

Deputado nos anos 50 e 60 pela União Democrática Nacional (UDN), ACM foi um dos articuladores do golpe militar em 1964. Foi governador da Bahia por três vezes, duas delas imposto pela ditadura. Comandou a Eletrobrás, em 1975, nomeado por Ernesto Geisel, e esteve à frente do Ministério das Telecomunicações durante o governo de José Sarney, nos anos 80.

Coronel da mídia
Foi neste período que se institucionalizou a prática da distribuição das concessões de rádio e televisão em troca de apoio político ao governo. Foi também quando se ampliou o poder político de ACM na Bahia e seu “latifúndio midiático”. Além do jornal Correio da Bahia, Antonio Carlos Magalhães era dono da TV Bahia, emissora afiliada à Rede Globo, e de quase todas as retransmissoras regionais.
A fama de “coronel” veio de seu estilo, que mesclava altas doses de autoritarismo com ineficazes ações paternalistas, postura abertamente assumida em frases como a seguinte (durante as eleições de 1982):“Ganharei com o chicote numa mão e o dinheiro na outra”.

ACM e Lula
“Toninho Malvadeza” foi eleito senador pela primeira vez em 1994, presidindo o Senado entre 1997 e 2001. Acusado de violação do painel eletrônico durante a votação da cassação de Luiz Estevão, ACM renunciou ao mandato para voltar à Casa no ano seguinte.

Em 2003, foi acusado por um inquérito da Polícia Federal de comandar um esquema de escutas telefônicas ilegais na Bahia. Depois da abertura de um processo por quebra do decoro parlamentar, Lula interveio pessoalmente para que o caso fosse arquivado, com o auxílio do então relator do processo, Tião Viana (PT-AC).

Por estas e muitas outras, não causaram espanto as muitas declarações de importantes figuras do PT lamentando a morte do canalha: “Seu falecimento é, sem dúvida, uma grande perda para a Bahia e para o Brasil”, chegou a dizer o senador Eduardo Suplicy. Jacques Wagner (PT), que venceu o candidato de ACM na disputa pelo governo da Bahia em 2006, declarou luto oficial de cinco dias.

O fato é que não só o governo de Wagner é semelhante aos governos anteriores comandados por ACM (apesar de sua vitória ter sido aclamada como o fim do “coronelismo” na Bahia), como também, desde o primeiro mandato, ACM manteve grande proximidade com Lula e seus asseclas.

Como sempre, há uma relativização das atrocidades cometidas pelo recém-falecido. No entanto, isso não pode mascarar a história de ACM. Não morreu um “grande político”. Morreu, sim, um filhote da ditadura militar, expressão do coronelismo, autoritarismo e corrupção. Alguém que conseguiu manter com punhos de ferro, por décadas, o poder de uma “oligarquia branca” num estado símbolo da história do povo negro brasileiro. Já vai tarde.

Post author Diego Cruz e Wilson H. Silva,da redação
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