BP economizou em medidas preventivas e foi responsável pelo desastreA Comissão de Energia e Comércio do Congresso dos Estados Unidos apresentou uma carta ao Diretor Executivo da BP, Tony Hayward, em 14 de junho de 2010, na qual reproduz um parecer observando que a BP tomou múltiplas decisões, por razões econômicas, que aumentaram o risco de uma falha catastrófica no poço, apesar dos avisos do próprio pessoal da BP e de seus contratados. “Repetidamente escolheu procedimentos arriscados com o objetivo de reduzir custos e poupar tempo e adotou esforços mínimos para conter os riscos aumentados”, diz a carta.

A BP iniciou a perfuração do poço em 7 de outubro de 2009. As sondas iniciais foram danificadas pelo furacão Ida em 9 de novembro. Em função disto, a BP e a Transocean, substituíram a sonda pela Deepwater Horizon. A Transocean cobrava da BP aproximadamente 500 mil dólares por dia pelo aluguel da sonda, mais as taxas. A BP tinha como objetivo perfurar o poço em 51 dias e custaria aproximadamente 96 milhões de dólares.

Mas o poço gastou muito mais tempo que o planejado para ser completado. No dia da explosão, a sonda estava 43 dias atrasada para ir para a sua nova locação, o que deve ter custado à BP cerca de 21 milhões de dólares, somente em taxas de leasing. Então para “correr atrás do prejuízo”, diminuir despesas e aumentar o lucro, resolveu andar depressa evitando procedimentos de segurança e cortando custos com equipamentos.

Poços em águas profundas são perfurados em sessões. O processo básico consiste em perfurar através da rocha, instalar e cimentar o revestimento para garantir o furo do poço, para então perfurar mais fundo e repetir o processo.
O relatório da Comissão de Energia do Congresso afirma que, quando terminou a última sessão do poço, estava a cerca 6.500 metros abaixo do nível do mar e 420 metros abaixo do último revestimento.

Uma opção era ancorar um tubo de aço chamado camisa (liner) a partir de um suporte existente no final da coluna de revestimento, já existente no poço, e então inserir um outro tubo-camisa conhecido como suspensor (tie-back) no topo da camisa. A outra envolvia a instalação de uma única coluna de tubos de revestimento, desde o leito marinho, até o fundo do poço. A “camisa” oferece vantagens sobre a opção de uma única coluna de tubos de revestimento por permitir barreiras extras de proteção. Mas exige mais tempo para ser instalada.

A BP estava a par dos riscos de uma opção pela coluna única de tubos de revestimento. Mas para economizar tempo e dinheiro, decidiu instalar a coluna única de tubos de revestimento. Em 15 de abril, estimou que usar uma camisa/suspensor em lugar de uma única coluna de revestimento “iria adicionar entre 7 e 10 milhões de dólares ao custo de completação”.

Centralizadores são acessórios que são posicionados em torno do revestimento à medida que este vai sendo baixado no poço, para manter o revestimento no centro do orifício de perfuração. Se o poço não estiver corretamente centralizado antes do processo de cimentação, passa a haver um risco ampliado de que se formem canais no cimento que vão permitir a passagem para cima, através do espaço anular em volta do revestimento.

O relatório da Comissão afirma que o engenheiro da Halliburton, Jesse Gagliano, recomendou o uso de 21 centralizadores. Mas o engenheiro da BP Brian Morel respondeu que: “Nós temos 6 centralizadores (…) é tarde demais para que tenhamos mais desses acessórios a bordo, nossa única opção é rearranjar o posicionamento desses centralizadores”. Esta operação foi considerada pela empresa uma “equação risco/recompensa”. O poço passou a ter risco de severos problemas para o escoamento de gás.

“Registro de aderência da cimentação” é um teste acústico realizado pela inserção de uma ferramenta no interior do revestimento após a cimentação ter sido concluída. O registro de aderência da cimentação determina se o cimento está aderido ao revestimento e à formação adjacente. Se for encontrado algum canal que permita o fluxo de gás, o revestimento pode ser perfurado e uma quantidade adicional de cimento é injetada no espaço anular para reparar o serviço de cimentação. A BP contratou a Schlumberger para que esta estivesse disponível para executar um registro de aderência do cimento…se a BP requisitasse este serviço.

Porém, no manha do dia 20 de abril, a BP informou à equipe da Schlumberger que seus serviços não seriam necessários para o registro do teste de aderência do cimento. O motivo novamente era tempo e dinheiro. O registro de aderência do cimento teria custado à empresa 128 mil dólares, o custo do cancelamento do serviço foi de somente 10 mil dólares. O teste poderia levar de 9 a 12 horas adicionais, remediar quaisquer problemas encontrados no serviço de cimentação poderia levar ainda mais.

O procedimento conhecido como “fundo para cima” envolve a circulação de lama de perfuração desde o fundo do poço, percorrendo todo o caminho até a superfície. O “fundo para cima” permite: aos trabalhadores na sonda testar a lama quanto à presença de gás; uma liberação controlada de bolsões de gás que possam ter penetrado na lama; garante a remoção de resíduos e outros detritos do fundo do poço, evitando a contaminação do cimento.

Novamente de acordo com o relatório, a BP não fez a circulação plena da lama. O procedimento final da BP apelava para a circulação de apenas 262 barris de lama, apenas uma pequena fração da lama existente no poço. Não fez o correto para acelerar o programa, circular plenamente poderia acrescentar mais 12 horas à operação.

A BP também decidiu não instalar um acessório para bloquear a cabeça do poço e o revestimento no conjunto de selagem ao nível do mar. Para evitar que o revestimento flutue, elevando a cabeça do poço e criando a fuga de hidrocarbonetos pelo selo da cabeça do poço é instalada uma luva de bloqueio do suspensor do revestimento. A BP não instalou esta luva.

Em virtude disso a Comissão de investigação pos “sub judice” as decisões tomadas pela BP. Mas já aponta que a BP “tomou decisões que ampliaram o risco de um “blow-out” para poupar o tempo da empresa ou reduzir custos”.

Além disso fica a hipótese que: o mais provável é que houve uma falha no BOP (Blowout Preventer) – equipamento que evita o descontrole do poço e onde já tinha sido identificada uma avaria. A falta de manutenção desta válvula, que deveria controlar o fluxo de petróleo, fez com que houvesse uma falha, causando a explosão e o rompimento das tubulações no solo do oceano.

Todas as tentativas de conter o vazamento fracassaram. Experimentou-se tapar as rachaduras nos canos com a ajuda de robôs submarinos. Instalou-se uma cúpula de contenção para sugar o petróleo que escapava dos canos. Tentaram a técnica chamada top kill, de introduzir um tipo de lama especial nas tubulações. Nada funcionou.

Além das denúncias apresentadas no relatório a havia um aparelho que poderia ter impedido ou amenizado o vazamento: o Acoustic Switches ou “gatilho acústico”. É um dispositivo controlado por controle remoto implantado fora das plataformas que envia impulsos acústicos através da água, provocando uma válvula subaquática ou explosivos para encerrar o poço.

As plataformas off-shore tem um interruptor para desligar o fluxo de petróleo, fechando uma válvula localizada no fundo do oceano. Também tem um backup chamado “homem morto”, como um switch que é para fechar a válvula, no caso de uma catástrofe. BP said it can’t explain why it didn’t shut off the well.Como uma terceira linha de defesa, há o “gatilho acústico”. Por controle remoto ele usa ondas sonoras para se comunicar com a válvula no fundo do mar chão e feche-la.

Esse seria uma opção de último recurso que poderia ter sido ativado a partir de um local remoto. Ou ainda por submarinos que chegaram horas depois da explosão. A BP optou por não equipar plataformas petrolíferas ao largo da costa dos Estados Unidos com este equipamento por que os regulamentos promulgados por Bush em 2003 não a obriga.

O equipamento custa 500 mil dólares. Mas a BP não quis gastar mais este dinheiro com um sistema que poderia ter evitado o desastre.

Fica claro então que o desastre não foi uma fatalidade. Houve no mínimo “dolo eventual” em toda a ação da BP pois ela tinha absoluto conhecimento de todos os riscos que correria quanto tomou suas decisões para diminuir custo e apressar os procedimentos. A BP é culpada civil e criminalmente pelo desastre ecológico e pelas mortes que ocorreram na explosão e nas que estão ocorrendo na operação de resgate.

A exploração de petróleo não convencional em águas profundas e altamente perigoso A melhor maneira de se evitar acidentes é evitar sua exploração. Mas se é necessário que isso seja feito tem que se tomar o máximo cuidado com todas as medidas de segurança, custe o que custar.

Nenhuma multinacional petroleira fará isso, somente uma empresa 100% estatal que não tenha o lucro de seus acionistas como seu objetivo principal, e sim que tenha como prioridade a comunidade, o povo brasileiro e a soberania nacional pensará nisso e poderá explorar o pré-sal com condições adequadas.