A situação dos norte-americanos está se complicando no Afeganistão e o relativo controle que obtiveram no início da ocupação foi deteriorando-se lentamente. Na última segunda-feira, dia 29 de maio, isso se acelerou. Na capital, Kabul, um caminhão do exército americano provocou um acidente de trânsito e a morte de 5 pessoas. O incidente foi um verdadeiro estopim, desencadeando uma explosão popular contra as forças ocupantes.

Na capital do Afeganistão, os carros das tropas de ocupação e de agentes de segurança têm, na parte da frente, placas de aço para empurrar os carros que não saem do caminho. Se isso já causava revolta, a morte das pessoas provocou o ódio. Milhares de habitantes saíram às ruas e enfrentaram tanto a polícia como as tropas do exército. Os manifestantes, na maioria muito jovens, tinham como alvo tudo o que possuísse alguma ligação com “estrangeiros”. Embaixadas, ONG´s e restaurantes freqüentados pelos ocupantes foram atingidos pela revolta e, em alguns casos, incendiados. Também a figura do presidente foi objeto da fúria popular. Os manifestantes clamavam aos brados “morte à Karzai“ e queimavam o seu retrato.

O influente jornal francês Le Monde, em sua edição de 31 de maio, apresenta desta forma a explosão popular: “Após ter perdido o controle da situação (…) a polícia afegã recorreu amplamente ao uso das suas armas. Então, durante várias horas, na segunda-feira, os tiros ressoaram por toda a capital.
Chamado em socorro – em particular para garantir a segurança do bairro das embaixadas e daquele onde vive o maior número de estrangeiros -, o exército afegão não agiu de maneira diferente. Os hospitais estão lotados por pacientes feridos por balas. A amplitude do movimento de protesto está à altura do ressentimento da população contra o comportamento das tropas americanas…”

Para controlar a situação o governo decretou toque de recolher e tal como descreve o jornal francês, desencadeia uma violenta repressão contra uma população que cansou de suportar humilhações e saiu à rua a enfrentar as forças colaboracionistas. O próprio fato que um acidente de trânsito provoque tal indignação e levante, a ponto de enfrentar uma feroz repressão militar com muitos mortos, mostra claramente o grau de ódio e indignação que a população sente frente às tropas ocupantes e seus abusos e que não está disposta a tolerar em silêncio.

A população afegã revolta-se contra os métodos usados pelos ocupantes: ataques indiscriminados à população civil, bombardeios de lugares “suspeitos”, prepotência e violência indiscriminada. Uma semana antes do acidente com o caminhão, ocorreu um fato escandaloso. Um bombardeio da aviação norte-americana provocou a morte de 17 civis. Assim como vem ocorrendo no Iraque, o episódio levou o presidente títere Karzai a pedir às tropas de ocupação uma maior moderação. Obviamente, não obteve nenhum resultado, o que aprofunda o seu desprestígio frente à população, que o considera, com razão, um serviçal dos norte-americanos.

O acidente de trânsito foi a gota d´água, que fez a insatisfação transbordar e levou milhares às ruas para atacar todos os símbolos da ocupação. Os últimos fatos mostram que está se abrindo uma nova situação no Afeganistão, com o controle da ocupação se deteriorando seriamente. Isto agrava o panorama do imperialismo, já muito comprometido pela catástrofe de seus planos no Iraque.