Lula foi reeleito. Depois de toda a crise política do ano passado, o governo conseguiu uma clara vitória eleitoral. Teve uma votação semelhante em porcentagem à conquistada em 2002, quando teve 61,3% contra 38,7 % de José Serra. Agora obteve 60,83% dos votos válidos, contra 39,17 de Alckmin.

A frente popular já tinha conduzido pela primeira vez na história o maior líder operário do país à Presidência. Agora tem uma nova vitória, reelegendo Lula.
Do ponto de vista puramente eleitoral, a vitória é ainda maior que em 2002. O PT elegeu cinco governadores, incluindo estados de maior porte como Pará e Bahia (antes o PT só dirigia três estados menores: Sergipe, Acre e Mato Grosso do Sul).

Os partidos aliados de Lula elegeram 16 governadores (ou 17, se incluirmos o Maranhão), bem mais do que os 11 de antes. A bancada dos partidos que apóiam o governo no Congresso é maior (cerca de 300) do que a eleita em 2002 (cerca de 200), pela influência dos governadores eleitos.

Por outro lado, a oposição burguesa foi derrotada. O PFL sai destroçado das eleições, com apenas um governador eleito no Distrito Federal, e a derrota de oligarcas tradicionais como ACM na Bahia e Roseana Sarney no Maranhão. O PSDB foi derrotado para a Presidência, mas levou importantes governos estaduais como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Assim, se preserva como a principal alternativa da burguesia para uma futura crise ou para a sucessão de 2010.

Mesmo resultado, muitas diferenças
No entanto, as eleições não se medem apenas em números. Elas expressam, ainda que distorcidamente, a realidade das classes no país, e precisam ser avaliadas também no que toca à qualidade das relações dos distintos setores sociais com o governo eleito.

E aí as coisas ficam bem diferentes de 2002, quando houve uma enorme instabilidade financeira no país, acompanhando as eleições, pela possibilidade de vitória de Lula. Naquela ocasião, o risco país disparou para 1.972 pontos; o dólar, em R$ 3,62; e a Bovespa, em queda com 9.259 pontos. A burguesia, apesar de todas as garantias dadas por Lula – inclusive o compromisso em manter os acordos com o FMI -, sentia-se insegura com a eleição do primeiro governo de frente popular da história do país. Nessas eleições, entretanto, uma calmaria tomou conta dos mercados. O risco país ficou em 232 pontos; a Bovespa subiu em 36.449 pontos; e o dólar ficou cotado em R$ 2,171.

Por outro lado, a primeira eleição de Lula despertou uma enorme expectativa nos trabalhadores. Pensavam que Lula mudaria a vida de todos. Afinal, após vinte anos, finalmente ele chegava ao poder.

Em 2006 foi tudo diferente. No mercado financeiro imperou uma calmaria completa, com o dólar sem nenhuma alteração e a bolsa em alta na última semana da campanha. Depois de quase quatro anos de planos neoliberais e recordes nos lucros dos bancos, não existe mais nenhum temor do grande capital com a reeleição de Lula.

Entre os trabalhadores e a juventude, apesar do voto majoritário em Lula, reinou uma frieza completa. Nenhum entusiasmo, nem disposição para a campanha. Os comícios foram todos pequenos: o último antes da eleição em São Bernardo, e o de comemoração da vitória, na Avenida Paulista, tiveram cerca de três mil pessoas cada um.

O primeiro mandato de Lula não mudou a vida das pessoas, como se esperou por vinte anos. A esperança acabou quando o presidente manteve o plano econômico de FHC. Os escândalos de corrupção acabaram com a última bandeira que sobrava da “diferença” do PT: a “ética na política”. O governo de Lula era apenas mais um, e a sensação de que “é tudo a mesma coisa” se generalizou.

Mas, como se combinaram frente popular e crescimento econômico, sustentado pelo crescimento mundial, os trabalhadores majoritariamente votaram em Lula “porque ele vem de baixo” e “se preocupa com a gente”. Atribuem à origem social de Lula os preços baixos dos alimentos, o Bolsa Família, o reajuste do salário mínimo etc. Mesmo sabendo que “todos são corruptos”, os trabalhadores votaram em Lula por essas pequenas concessões garantidas pelo crescimento econômico.

Ao contrário de 2002, portanto, as eleições de 2006 revelam que o grande capital confia em Lula e que as massas já não têm esperança de mudança. Votaram nele para manter pequenas conquistas, sem entusiasmo. Isso tem uma enorme importância para pensar o futuro.

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