Depois da morte de Arafat (hoje já denunciada como assassinato), a eleição de Mahmud Abbas como seu sucessor acentuou esta dinâmica. Israel começou a construir o “muro da vergonha”, separando os territórios, e aproveitou para roubar ainda mais terras palestinas. O imperialismo se dedica a claramente apoiar Abbas como seu agente na Palestina. A direção da Al Fatah chegou a tal ponto em sua colaboração com Israel e o imperialismo que A. Korei (primeiro-ministro durante um período) é dono de uma empresa que vendia grandes quantidades de cimento ao Estado sionista para a construção do “muro da vergonha”.

O triunfo eleitoral do Hamas põe em crise os planos de Oslo

O imperialismo e Israel tratavam de “legalizar” a situação colonial da ANP através das eleições palestinas. Neste marco se dá a vitória do Hamas nas eleições parlamentares da ANP em 2006. Como dissemos no Correio Internacional 118, este resultado foi uma vitória das massas palestinas contra os planos de Oslo. Ainda que o Hamas seja uma direção burguesa e fundamentalista religiosa, o feito de manter em seu programa o chamado à destruição de Israel fez que as massas palestinas votassem no grupo para repudiar a traição da Al Fatah.

O imperialismo e Israel não reconheceram abertamente o resultado eleitoral e começaram a pressionar para exigir que o novo governo da ANP, dirigido pelo Hamas, reconhecesse Israel e aceitasse a continuidade dos acordos de Oslo. Por isso, restringiram o abastecimento da Faixa de Gaza, bloquearam a ajuda financeira dos EUA e da União Européia (imprescindível para o funcionamento da ANP) e até roubaram o dinheiro dos impostos dos territórios palestinos que são recolhidos por Israel. O objetivo era “derrotar pela fome” o povo palestino e o governo que ele havia eleito.

As provocações de Abbas
Abbas, que mantém o cargo de presidente da ANP, trabalhou “desde dentro” para obrigar o Hamas a aceitar a rendição, seguindo o mesmo caminho a que antes o Al Fatah havia recorrido. Abbas já não é simplesmente uma direção burguesa que capitula: se transformou em um agente direto de Israel e EUA dentro dos territórios palestinos, um colaboracionista similar ao que foi o governo de Vichy na França ocupada por Hitler, ou como o de Karzai no Afeganistão de hoje.

A área de segurança de seu governo agora é assessorada pela CIA! Seu homem-chave neste setor, Mohamed Dahlan, construiu um “exército particular” da presidência, com armas fornecidas diretamente pelos EUA – e Israel permitiu que essas armas chegassem. Dahlan também montou em Gaza um dispositivo para realizar ações criminosas, reprimir a população e fazer constantes provocações contra o governo dirigido pelo Hamas. Isso foi gerando uma revolta que levou aos enfrentamentos das últimas semanas.

Um golpe bonapartista
Desde que ganharam a eleição, os dirigentes do Hamas propuseram formar um “governo de unidade nacional” com a Al Fatah. Mesmo depois que se tornou evidente que Abbas estava armando um golpe contra o governo, em conjunto com Israel, o Hamas continuou com este chamado e fazendo negociações através do Egito e da Arábia Saudita.

Até chegou a formar um governo com vários ministros indicados por Abbas. Mas esta coalizão nunca foi aceita pelos EUA, União Européia (alinhada claramente com a posição de Bush) e Israel. Eles iriam boicotar todo governo em que o Hamas estivesse, enquanto esta organização não reconhecesse explicitamente a existência de Israel. Através do cônsul geral dos EUA em Jerusalém, Jacob Walles, e de um emissário especial de inteligência, Keith Dayton, se instrumentou a linha de armar os homens de Abbas para liquidar o Hamas.

As massas empurraram o Hamas a ir mais longe do que queria
Foi a preparação deste verdadeiro golpe bonapartista, implementado por Abbas e apoiado pelo imperialismo e Israel, que produziu a reação das massas de Gaza e empurrou o Hamas a expulsar deste território os agentes diretos do imperialismo, o aparato militar armado por Dahlan e a polícia da Al Fatah, que, apesar de seu moderno armamento, não brigaram com eficácia. Acreditamos que isso foi um triunfo das massas palestinas porque, apesar da difícil situação em que se encontra hoje a Faixa de Gaza, este território foi liberado do controle de Israel e seus agentes.

Depois da expulsão de seus homens, Abbas culminou seu golpe bonapartista e, desconsiderando o resultado eleitoral de 2006, nomeou um “governo de emergência”, encabeçado por Salam Fayyad, ex-funcionário do FMI e do Banco Mundial, que possui dupla nacionalidade palestino-estadunidense. É uma cruel brincadeira com a heróica luta do povo palestino contra o imperialismo estadunidense e Israel.
Este novo fantoche tem uma tarefa: apoiar-se no aparato de Abbas e da Al Fatah, instalado na Cisjordânia, para combater a resistência, retomar Gaza e impor o plano sionista e imperialista de liquidar toda possibilidade de liberação real da Palestina. Para isso, além do aparato repressivo, tratará de utilizar dois fatores.

Por um lado, a dificílima situação social e humanitária de Gaza, tratando de derrotá-la pela fome. Por outro, os milhões de dólares que o imperialismo e Israel, agora sim, começaram a entregar nas mãos do novo governo.

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