O Senado dos Estados Unidos aprovou na semana passada a construção de um muro, com quase 400 Km de extensão, na fronteira do México. Nos 3.200 Km da fronteira que separam os EUA e o México, já existe um muro com 112 Km, concentrado na Califórnia. Também foi aprovada na ocasião a criação de barreiras para veículos espalhadas por 805 Km de fronteira.

Essas medidas fazem parte de uma política de restringir e criminalizar os trabalhadores imigrantes no país. Além de o governo norte-americano combater a entrada de imigrantes ilegais com rigor, conta com a “ajuda” de setores da ultradireita, que montam patrulhas em cidades fronteiriças para caçar os imigrantes. Para eles, latino-americanos representam uma ameaça social, política e racial.

Para lutar contra tudo isso, entre 26 de março e 10 de maio, cerca de 5 milhões de trabalhadores imigrantes saíram às ruas em várias cidades dos EUA. A imensa maioria era composta de trabalhadores oriundos de países da América Latina, especialmente do México, Caribe e da América Central.

O movimento luta contra uma legislação enviada por Bush ao Congresso que persegue e criminaliza os trabalhadores imigrantes, e pretende dividi-los em trabalhadores recém imigrados ao país e os que estão há mais tempo em território norte-americano. Se aprovada, a lei impediria que cerca de 11 milhões de imigrantes (6 milhões sem documentações) obtivessem a nacionalidade.

As migrações massivas dos países pobres aos países ricos é um fenômeno gerado pelo próprio sistema capitalista. E acaba se tornando um processo imprescindível para o seu funcionamento. Nos últimos 25 anos houve um salto nessa imigração, especialmente nos EUA.

Livre comércio e guerras
Nos anos 80, os EUA promoveram guerras e intervenções imperiais em países como Nicarágua, Honduras, Guatemala e El Salvador, que destruíram economicamente toda a América Central. Na época, os EUA financiavam grupos de extermínio para impedir que guerrilhas de esquerda tomassem o poder. No caso nicaragüense, o objetivo era desestabilizar o governo da Frente Sandinista e fortalecer a contra-revolução.
Após essas guerras, esses países encontraram uma situação econômica e social de penúria. Milhares fugiram da fome do campo e da miséria urbana em busca de “uma vida melhor” no coração do império.

Foi nessa década que os EUA também patrocinaram, junto com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a política de livre comércio e as “reformas estruturais”. Contando com a ajuda de governos submissos, como os de Salinas, Zedillo e Vicente Fox (México) e Collor, FHC e Lula (Brasil), o imperialismo avançou na implementação da cartilha neoliberal em todo o continente.

Em 1994, o México assina o Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte). Posteriormente, os EUA propõem a criação de uma zona continental de livre comércio, a Alca.

Avançou também na implementação de tratados de livre comércio em países como Chile, Honduras e Guatemala.

Essa política escancarou as portas para a entrada massiva de produtos e mercadorias norte-americanas, debilitando os pequenos agricultores e as empresas (já frágeis) desses países.

O resultado não podia ser outro. Houve um salto tremendo do desemprego e da miséria na América Latina. Também do trabalho precário, que resultou numa queda dos salários e no custo de produção. No México, por exemplo, surgiram empresas maquiladoras, onde os trabalhadores não têm nenhuma proteção trabalhista.

O pagamento das dívidas externas, a onda de privatizações e a corrupção generalizada também são elementos decisivos no aumento da pobreza latino-americana. A dívida externa da América Latina era de US$ 32,5 bilhões em 1970. De 1971 até 2002, a transferência líquida aos credores (pagamentos menos empréstimos) foi de US$ 192,7 bilhões. Mas a dívida em 2002 chegou a US$ 727 bilhões (cartilha da auditoria da dívida – América Latina e Caribe).

A combinação desses elementos produz levas de milhares de trabalhadores para os países ricos.

Dentro da metrópole
Ninguém sai ganhando mais que o próprio imperialismo. Atualmente os imigrantes representam uma força de trabalho indispensável ao sistema produtivo do capitalismo ianque. É o setor mais explorado da classe trabalhadora nesses países. Nos EUA, somam mais de 40 milhões e integram o grosso das contratações de limpeza, construção, transporte e agricultura.

A imigração fornece a esse países um “exército de reserva” de trabalhadores. Ou seja, uma mão-de-obra barata, em situação ilegal. E sem direitos, que faz os serviços mais precários e mal remunerados. Como são ilegais, encontram muitas dificuldades em se organizar. Os governos imperialistas também apostam na divisão de classe, repetindo exaustivamente que a “culpa” pelo desemprego entre os trabalhadores nativos é dos imigrantes.

Na realidade, a burguesia imperialista utiliza essa mentira como chantagem para diminuir os salários de toda classe trabalhadora de seus países e impedir a sua união na luta pelos seus direitos.

Para as burguesias latino-americanas, o processo de migração serve para aliviar a pressão populacional e o desemprego dentro de seus próprios países e permite que as remessas de dinheiro dos imigrantes as suas famílias se transformem numa importante fonte de capital.

Organização da classe
Os imigrantes nos países imperialistas estão se organizando como classe em pleno ascenso de suas lutas. Parte desse grandioso processo de mobilização é explicado pela própria situação da América Latina, de lutas e revoluções. Isso ocorre porque o imigrante mantém o vínculo com o seu país de origem, por meio de suas famílias, amigos e da própria memória e tradição de lutas.

Agora, além de enfrentarem uma enorme repressão, os trabalhadores terão outros desafios pela frente. Um deles será o de se organizar de forma independente dos seus patrões, seus partidos e da burocracia sindical. Nesse sentido, os imigrantes latinos nos EUA deverão estar atentos a todo tipo de armadilha, especialmente no abraço de urso do Partido Democrata, que negocia um “meio termo” para a legislação antiimigrantes diante da dificuldade de aprovar o projeto original.

Bush aplaude a iniciativa dos democratas. Não sem razão. Todos os senadores desse partido votaram a favor da construção do muro na fronteira do México. Por isso, as lutas travadas estão longe de terminar. Ao contrário, é início de um processo onde o setor mais explorado dos trabalhadores apenas levantou a cabeça.

Post author Trabalhadores imigrantes promovem gigantescos protestos contra projeto de Bush
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