Contra a covarde agressão da PM

Gabito Fernandes – Juventude do PSTU de Porto Alegre

Há mais de uma década, os estudantes da PUCRS diziam: “abaixo a ditadura da máfia da PUC! Por eleições democráticas já! ”. Pois, como dizia um velho sábio, a história se repete: primeiro como tragédia, depois como farsa. Está em curso na PUC do Rio Grande do Sul uma verdadeira farsa institucional, implementada pelos partidos de direita e reforçada com elementos verdadeiramente fascistas da gestão Eclipse no DCE-PUC/RS.

Eclipse: cães de guarda da reitoria covarde
A chapa Eclipse – cujo o símbolo escolhido faz alusão direta ao ofuscamento do PSOL, começou uma cruzada desde 2016 contra o movimento estudantil e a permanência nessa universidade elitizada. Um exemplo nítido dos ataques que o estudantado vem sofrendo é a triplicação do preço cobrado para a confecção da carteira do meio-passe estudantil em quase três vezes em relação ao custo exigido pela gestão anterior. Já não basta cobrar por um direito, eles ainda fazem questão de cobrar uma taxa inacessível para boa parte dos estudantes cotistas e beneficiados pelo programa do PROUNI.

Mas não podemos criar ilusão alguma: existe um motivo caro para uma das privadas mais elitizadas do estado e até do país, uma instituição teoricamente “filantrópica”, não fazer questão nenhuma de combater os gângsteres financiados pelos partidos de direita, e que desviam a verba dos estudantes para financiar as candidaturas dos inimigos da classe trabalhadora. Abrir espaço para um movimento estudantil vivo, plural e combativo pode significar uma derrota grandiosa para os interesses dos empresários que controlam o clero acovardado da PUCRS. Pode significar, por exemplo, ter de fornecer creche estudantil para o combate da evasão universitária das mulheres, uma Casa dos Estudantes, garantia de funcionamento do restaurante universitário em todos os turnos e com preço acessível, e concessão de bolsas para pagar por todo o material de estudo que se faz necessário. Precisamente por isso, o DCE de direita é um bom negócio para os padres e patrões da PUCRS. Com essa ditadura não há luta, não se pode fazer atividades, assembleias e circulação de materiais politizados dentro das dependências da universidade. Pelo menos na teoria.

Se a PUCRS apostava todas as suas fichas na gestão dos filhinhos de papai criminosos e machistas da Eclipse, sofreu nesta segunda-feira uma grande derrota. Há paciência para tudo, e a dos estudantes desta universidade acabou. Cansados de exigir respostas enquanto são agredidos e silenciados, indignados com a fraude de um estatuto de entidade aprovado em uma assembleia fantasma, e finalmente, frente à deflagração surpresa de um processo eleitoral com chapa única – a deles – justamente no período em que a PUC convida ao campus canalhas como Geraldo Alckmin, Ciro Gomes, Marina Silva e até o boçal ultradireitista e defensor da ditadura militar, Jair Bolsonaro para o Fórum da “Liberdade”, os estudantes reunidos em assembleia decidiram ocupar o DCE da PUCRS para barrar a fraude eleitoral e garantir o direito de eleições democráticas.

A cara do autoritarismo no movimento estudantil
Não satisfeitos em ficar acastelados em um espaço comum a todos os estudantes, inclusive mantendo encarcerada uma aluna que estava tentando obter os serviços do seu diretório central, a Eclipse enviou um dos seus asseclas imbecis, um integrante da juventude do Partido Progressista (aquele que já abrigou Bolsonaro e é o maior defensor do agronegócio brasileiro) para provocar ao estilo deplorável do MBL e do Mamãe Falei, os ativistas mobilizados. Mas parece que o canalha não aprendeu bem com a sutileza do Arthur, porque aproveitou a oportunidade para agredir a socos uma ativista de esquerda.

Esse método fascista precisa ser respondido através da ação direta, da autodefesa das organizações populares e estudantis. Se preciso com a violência e todo o troco necessário na mesma moeda. Devemos evitar a todo custo não ceder a provocações baratas dessa gente, e também não podemos comparar a atuação do canalha da gestão Eclipse com o que faz de forma não espontânea a segurança da reitoria. O que não podemos aceitar de forma alguma é responder recuando à agressão machista e covarde de nossas companheiras por parte de um conservador a céu aberto, na frente de dezenas de pessoas e enquanto a segurança da universidade assiste pacificamente, de longe. Se os trabalhadores da segurança só são colocados em ação para defender a direita, nós da juventude do PSTU, defendemos o direito de autodefesa dos estudantes, que mantinham naquele momento uma verdadeira rebelião contra as instituições universitárias e contra o método fascista da direita. Com métodos fascistas não se discute, se destrói!

A verdadeira prova de que a reitoria só disponibiliza as suas forças para defender o status quo mafioso é o que se seguiu depois. Policiais armados com fuzis dentro do campus agrediram a empurrões e spray de pimenta as mulheres que estavam na linha de frente na luta contra o golpe aplicado contra a democracia estudantil. Algumas companheiras passaram mal, outras tiveram os seus corpos violados e as roupas rasgadas. Se é o momento de denunciar o canalha que agrediu nossas companheiras, não podemos deixar de apontar como a reitoria da PUCRS é completamente conivente com o absurdo bárbaro que se passou dentro das próprias dependências da universidade.

Os próximos passos do movimento estudantil da PUCRS
Trazer para dentro da universidade a tropa de choque armada para bater nos estudantes pode custar caro para uma instituição que investe tanto no marketing de uma universidade científica, inovadora, plural. Para que esse preço seja cobrado na raiz do problema, a reitoria covarde da universidade, é preciso radicalizar os métodos de luta. Há neste momento uma corajosa vigília de ativistas. Devemos estar atentos ao processo eleitoral fantasioso.

O trabalho de propaganda em volta das urnas, se estas sequer chegarem a aparecer, deve ser constante, através de panfletos em conjunto e a ação direta e radical quando for oportuno e possível, chamando atenção da imprensa e principalmente da classe trabalhadora para o golpe que o movimento estudantil está sofrendo.

Se há um verdadeiro golpe à democracia – e nesse caso realmente há – é preciso ir além da institucionalidade burguesa. Os parlamentares do PSOL, que tem condições de mobilizar setores midiáticos e jurídicos, devem atuar em completo respeito e acompanhamento às decisões democráticas das assembleias dos estudantes. É preciso organizar a pressão dos de baixo pela aprovação de uma liminar que barre as eleições fraudulentas, sem dar trégua por um só segundo à reitoria que nos agrediu e aos candidatos da direita que circularão imponentemente pelo campus em razão do Fórum da Liberdade.

É preciso aproveitar cada brecha dada pelos gângsteres e pela universidade, dar atenção à conjuntura para evitar que sejamos cercados física e juridicamente, mas também para saber aproveitar, no momento certo, uma nova oportunidade de paralisar as atividades criminosas, racistas e machistas da Eclipse.

Ir adiante com a coragem de quem esteve por horas em embate direto com a máfia. Com cautela, sabendo o momento certo de avançar, inclusive para preservar e estimular reestruturação do combalido movimento estudantil que deu largos saltos nos últimos dias.

Só assim, respeitando as diferenças que inevitavelmente surgirão, mas tendo ampla unidade e democracia apoiada nas assembleias, é que será possível derrotar a máfia e organizar os trabalhadores e o povo pobre jovem para conquistar os direitos mínimos para estudar com dignidade.