Ozzy retorna à casa

Depois de 35 anos, Ozzy volta a se juntar ao Black Sabbath. Em outubro, a banda passará pelo Brasil em turnê com o novo álbum “13”

 
Há 35 anos, Ozzy Osbourne era expulso do Black Sabbath pelos seus problemas com as drogas e a bebedeira que influenciavam em seu desempenho com a banda. Era o fim da formação original dos quatro jovens filhos da classe operária inglesa que saíram de Aston, Birmighan para entrar na história do rock n’roll.
 
Nesse meio tempo, Ozzy decolou em carreira solo graças a sua esposa Sharon, e o Sabbath, sempre liderado pelo guitarrista Tony Iommi, continuou sua carreira com idas e vindas dos membros, mas com bons álbuns como, Heaven and Hell, sob os vocais de Ron James Dio.
 
Depois de várias tentativas frustradas, finalmente os fãs dos mestres do rock pesado podem comemorar. O Black Sabbath está de volta com o novo álbum 13, com Ozzy se juntando novamente a Tony e ao baixista Geezer Butler. Faltou o baterista da formação original Bill Ward, que não retornou oficialmente devido a questões contratuais, ficando a cargo de Brad Wilk (Rage Against the Machine) assumir a bateria na gravação do álbum. Em outubro, a banda passará pelo Brasil.
 
Num momento em que o rock simplesmente carece de identidade cultural, 13 aparece como uma grande novidade surpreendendo ao mais cético dos fãs. Um fato que ilustra isso merece ser comentado: nunca em toda sua carreira, mesmo no auge da banda 1970-1978, o Black Sabbath conseguiu o que fez com o novo álbum em 2013: atingiu o Top 1 nos Estados Unidos. E, ainda, passa a ser do Sabbath o maior intervalo entre discos de um mesmo artista que alcançaram o topo da parada britânica: 43 anos!
 
Como explicar tal sucesso?
 
Origens
No final da década de 1960, os quatro garotos de Birmighan se juntaram para formar a Polk Tolka Blues Band, que passaria a se chamar Earth e, depois, Black Sabbath em 1969. Tony e Bill já tocavam juntos, assim como Ozzy e Geezer.
 
O velho Black Sabbath

Suas origens estão fincadas na classe operária inglesa que vivia nos subúrbios. Ozzy é filho de um mestre ferramenteiro e trabalhou em fábricas, sem nunca se identificar com alguma função ou carreira. Tony Iommi era soldador e foi vítima de um grave acidente de trabalho numa prensa que cortou parte de seus dedos anelar e médio da mão direita (canhoto, é a mão que dedilha as notas). Até hoje, Tony toca com próteses nos dedos.
 
Com pouco dinheiro mas sonhando alto, resolveram largar tudo para tentar o sonho de fazer rock n’roll, e se juntaram a grandes bandas como Led Zeppelin para dar ao rock um tom mais pesado.
 
O contexto da volta do Black Sabbath
O Sabbath foi parte de um movimento geracional que se identificava com o rock para expressar culturas e ideias. As tendências musicais vinham do som que as bandas novas experimentavam e influenciam o rock até hoje, na forma do Classic Rock. Para citar mais algumas: The Who, The Animals, Cream, Jethro Tull e tantas outras.
 
Ainda que Ozzy não concorde, o som do Sabbath deu origem ao Heavy Metal, influenciando grandes bandas como Judas Priest, Iron Maiden e Metallica. Outras tendências do rock se desenvolveram e se identificaram com gerações inteiras como o Punk (como Sex Pistols e The Clash) e o Progressivo (como Yes e Pink Floyd).
 
Desde o grunge, do início da década de 1990, que veio com Nirvana, Alice in Chains e Pearl Jam como protagonistas, é difícil identificar algo no rock n’roll que seja a identidade de uma nova geração. Tanto é assim que ainda é possível ver garotos de 15 anos que curtem rock ouvindo Guns n’Roses e Ramones como suas grandes referências. O monopólio das gravadoras é tão poderoso que o surgimento de novos movimentos geracionais na música se tornou coisa rara. O sucesso (infeliz) de bandas como Restart aqui no Brasil é mostra disso, são grupos musicais fabricados para alimentar toda a máquina desta indústria.
 
Por isso, 13 é um álbum que me empolgou muito! Porque apesar de os caras do Sabbath já serem tiozinhos de mais de 60 anos o som não parece “descolado” ou “antiquado”. Ao contrário, soa muito bem e atual com sofisticação na harmonia da banda, com uma qualidade que falta às atuais bandas: um som original.
 
Não pode ser comparado aos quatro álbuns clássicos da Banda (Black Sabbath, Paranoid, Master of Reality e Vol.4) e a outros. Mas é um álbum com muita qualidade do início ao fim e que surpreendeu pois raramente bandas antigas voltam tão bem depois de tanto tempo.
 
Tony Iommi continua produzindo riffs superpesados e solos alucinantes como ninguém. Parece incrível que ninguém consiga fazer algo como ele. Geezer Butler está inspiradíssimo no baixo e continua sendo o letrista da banda. Brad Wilk entrou bem com uma pegada pesada, mas muitas vezes está mesmo como coadjuvante. Ozzy, mesmo com todos os problemas de saúde, continua sendo um grande criador de melodias que vão ficar dias na sua cabeça.
 
As faixas
 
“End of the Beggining” – A melhor faixa do disco! É praticamente um clássico. Tem um riff sombrio que lembra o clássico de “Black Sabbath”. Tem uma virada incrível de ritmo que arrepia qualquer um. Não dá pra não gostar. Geezer mostra por que a banda não precisa de guitarra base, pois conduz muito bem a música toda.
 
“God Is Dead?” – Música de trabalho da banda, lançada como single. A pegada dela vem para mostrar que o bom e velho Black Sabbath está de volta com tudo. Geezer faz uma grande cavalgada no baixo nesta faixa. A música fala sobre como as pessoas questionam a existência de Deus em meio a um mundo cercado por guerras sem sentido. Grande ideia de Ozzy! Não tem como não lembrar de “War Pigs”.
 
“Loner” – Uma faixa mais linear que as outras, mas mantém o nível sendo bem pesada e rápida. Faz uma abordagem sobre a vida e sentimentos que são bem tradicionais do Black Sabbath.
 
“Zeitgeist” – Muito parecida com o clássico “Planet Caravan” de Paranoid. Muitos não gostaram, mas achei melhor que “Planet”. Soa como balada no fim e tem um belo solo de blues por Tony Iommi.
 
“Age of Reason” – É a que mais agradou a crítica, não por acaso. Uma grande demonstração de sintonia da banda. É a faixa mais técnica do álbum. Tem três viradas que conseguem deixar a música ainda mais pesada.
 
“Live Forever” – Uma das que mais gostei. Teria espaço no Vol.4 pelos riffs mórbidos, lembrando “SnowBlind” em alguns momentos. Essa melodia vai ficar na sua cabeça assim como o solo de guitarra simplesmente avassalador, prepare-se!
 
“Damaged Soul” – Faixa livre do álbum, como uma grande jam. Destoa das demais com um riff em “wha-wha”. A melhor participação de Brad Wilk no álbum, que impõe aqui o seu estilo. Tem uma bela virada para uma rápida pegada para fechar a música.
 
“Dear Father” – Música épica que tem grande desenvolvimento e técnica. Fala sobre Igreja e pedofilia, assunto bem comentado pela banda.
 
As faixas-bônus da versão Deluxe mereciam estar no álbum por serem muito boas. “Methademic” é muito rápida e empolgante, “Pariah” segue a linha do álbum e é ótima. Só “Peace of Mind” que parece ser mais fraca.
 
“13” não é nada que vá inventar a roda e nem pode se dizer que está entre os melhores discos do Sabbath, mas é algo para satisfazer o gosto dos velhos e jovens e colocar algo de qualidade no rock. Valeu a pena esperar tanto tempo.

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