Último comício do Bloco de Esquerda reuniu mais de mil pessoas em Lisboa
Otávio Raposo

Nas recentes eleições portuguesas, a maioria votou na esquerda, com ilusões em relação ao Partido Socialista, a social-democraciaO governo de Durão Barroso, primeiro-ministro do PSD, atacou várias conquistas dos trabalhadores e deixou a população mais pobre. Os baixos salários, o desemprego e o Código do Trabalho, que retirou uma série de direitos trabalhistas, provocou uma greve geral em dezembro de 2002, que só não foi mais forte porque a CGTP, principal central sindical, dirigida pelo PCP, não teve política para isso. A derrota da direita nas eleições européias de 2004 foi a manifestação eleitoral dessa insatisfação. Com isso, o PSD e o PP – a ultradireita – foram os grandes derrotados.
O desgaste do governo resultou na vitória do Partido Socialista (PS), com 45% dos votos. Não pela adesão a seu programa ou seu líder, José Sócrates. Pelo contrário, o não comprometimento desse partido com qualquer medida concreta para melhorar as condições de vida da população impediram que a sua campanha chegasse a empolgar.
O Partido Comunista Português (PCP), por sua vez, passou de 6,97% dos votos nacionais, em 2002, para 7,56%, um pequeno aumento, que se explica principalmente pelo seu ainda forte enraizamento social.

Essa virada à esquerda dos resultados eleitorais também se explica pela radicalização da situação internacional. Na Europa, há as gigantescas mobilizações dos trabalhadores franceses contra o fim das 35 horas semanais, e dos alemães, contra o desemprego. A resistência à guerra imperialista no Iraque também ajudou a desgastar a direita européia.

O Bloco de Esquerda
Um pequeno partido de esquerda, o Bloco de Esquerda (BE), saiu das eleições como um partido com influência eleitoral de massas. Recebeu 365 mil votos distribuídos por todo o país, principalmente em Setúbal, a região mais tradicional da classe trabalhadora portuguesa. Nessa região, o BE obteve o seu melhor resultado, 10,2% dos votos, elegendo dois deputados. O Bloco foi o partido que mais cresceu nestas eleições, passando de 2,75% (nas legislativas de 2002) para 6,38%. É um partido novo, formado em 1999, com a inclusão de trotskistas, ex-maoístas e dissidentes do PCP.

A virada à esquerda contribuiu para o crescimento do BE, que duplicou sua votação, conquistando mais 214.798 votos em relação a 2002. Algumas de suas bandeiras atraíram a simpatia do eleitorado, como a oposição à degradação da segurança social, contra a privatização do sistema nacional de saúde, contra as políticas orçamentárias que aprofundaram a crise e provocaram o desemprego, à guerra colonial contra o Iraque e a criminalização do aborto, defendendo a sua legalização.
No entanto, na campanha do Bloco houve um grave problema. Por sua falta de diferenciação com o PS, o Bloco na verdade alimentou uma ilusão na população portuguesa, em especial nos trabalhadores e setores mais pobres, de que esse partido pode resolver seus problemas.

PS, o protagonista da ofensiva neoliberal
Ao PS caberá, a partir de agora, dar seguimento às políticas neoliberais iniciadas nos últimos governos, sob os auspícios da União Européia (UE). A rede pública hospitalar, transformada pela direita em Hospitais S.A., manterá os seus principais traços privatizantes sob a alcunha de “empresas públicas”. Logo, a saúde continuará a ser tratada como um negócio e não um direito. Em vez de aumentar a intervenção do setor público, sobretudo em saúde e educação, como defendeu o Bloco de Esquerda, o PS pretende fechar 75 mil postos de trabalho, aumentando o desemprego e piorando a qualidade dos serviços prestados à população. Vai atacar a Previdência Social e não vai revogar o Código do Trabalho, que ataca direitos históricos dos trabalhadores.
O PS, assim como o PSD, está totalmente comprometido na defesa da Constituição Européia, na manutenção de Portugal na OTAN e na participação nas intervenções imperialistas na Bósnia e no Afeganistão. Vai manter as privatizações, a precariedade do trabalho e o desemprego, exigidos pela política da União Européia. Até em relação à despenalização do aborto, já disse que não realizará o referendo até o verão, como propõe o Bloco.

O fato dos partidos de esquerda terem tido uma grande votação demonstra uma radicalização da população contra o governo. Mas nem o PS, nem o parlamento resolverão os problemas dos trabalhadores e da maioria da população portuguesa. É necessário construir um partido para intervir nas lutas sociais e mobilizar os trabalhadores para conquistar suas reivindicações.

Resultados
      %Votos     Deputados eleitos
PS     45,05%     120
PSD     28,69%    72
PCP-PEV     7,57%     14
CDS-PP     7,26%     12
BE     6,38%     8
PCTP-MRPP     0,84%     0
PND     0,70%     0
PH     0,30%     0
POUS     0,10%     0

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    Post author Cristina Portela, de Lisboa
    Publication Date