Redação

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A população está apreensiva com o alastramento do coronavírus, e com razão. O vírus já atingiu 110 países, infectando 118 mil e com 4,2 mil mortes. No Brasil, enquanto escrevíamos esta nota, os casos confirmados pelo Ministério da Saúde chegavam a 77, em números subestimados segundo a própria imprensa. Especialistas alertam que o crescimento deve ser exponencial nos próximos dias. Só na região de São Paulo, estima-se que os casos cheguem a 45 mil em 4 meses.

Diante da gravidade da situação, Bolsonaro foi aos Estados Unidos, de onde minimizou o que chamou de “pequena crise”, dizendo que a pandemia era “mais fantasia” e culpou a imprensa pela crescente preocupação com o tema. Ou seja, não bastasse atacar e destruir os serviços públicos, a ciência e as universidades, promovendo o obscurantismo, Bolsonaro tem uma atitude extremamente irresponsável num momento tão urgente. Universidade pública que, é bom lembrar, foi responsável pelo sequenciamento do genoma do vírus em tempo de recorde, realizado no Instituto Adolfo Lutz da USP.

Mais que isso, Bolsonaro estava até ontem mais preocupado em convocar manifestações no dia 15 pelo fechamento do Legislativo e do STF, em defesa, portanto, de seu projeto de ditadura, para que ele possa mandar sozinho e impedir qualquer oposição, acabar com as liberdades democráticas que ainda temos, para que possa aprofundar sua guerra social contra os pobres e nos tirar o direito até de reclamar.

O seu ministro da Economia, Paulo Guedes, por outro lado, depois de aprovar a reforma da Previdência e enviar a MP 905 ao Congresso Nacional, que significa uma reforma trabalhista pior que a de Temer (e que vem resultando na piora da vida do povo e milhões de desempregados, ao contrário do que prometeu) ao invés de se preocupar com a vida de milhões de trabalhadores brasileiros, está preocupado com o lucro dos banqueiros e grandes empresários.

Junto com o Congresso Nacional, Bolsonaro e Guedes querem impor ainda uma reforma administrativa que arranca direitos dos servidores públicos, justo aqueles que mais vamos precisar  neste momento de pandemia.

No Brasil hoje temos não só milhões de desempregados como um déficit brutal de leitos em UTI’s que, numa crise como essa, vão resultar em milhares de mortes, principalmente dos mais pobres.

Esse governo e o sistema capitalista podem querer usar a pandemia do vírus para aumentar ainda mais o desemprego e a retirada dos nossos direitos a fim de assegurar maiores lucros aos capitalistas quando o correto seria, para impedir a propagação do vírus, garantir já uma quarentena generalizada, com a manutenção dos empregos e salários, mas mantendo a maioria em casa. Se tivéssemos um outro sistema, socialista, não voltado ao lucro de um punhado de bilionários mas para as necessidades da população, teríamos uma economia planejada onde colocaríamos para funcionar apenas o que fosse estritamente necessário, com total segurança a quem trabalhasse para garantir tais setores.

Neste momento, é preciso tentar conter ao máximo a difusão do vírus. Ao mesmo tempo, aumentar drasticamente o número de UTI’s e a capacidade de atendimento do SUS, garantindo o emprego e a renda de todos.

Medidas de emergência que devemos exigir, já!

Dinheiro o governo tem, o problema é para quem ele prioriza dar o dinheiro que arrecada, se para sustentar o lucro indecente dos banqueiros com a falsa dívida pública ou para evitar uma tragédia e salvar a vida do povo.

Toda verba necessária para a saúde pública já e construção imediata de leitos de UTIs necessários para atender todas as pessoas.

Estabilidade no emprego já, com a aprovação de um Projeto de Lei proibindo as demissões. Ninguém pode ser demitido por ficar doente, por não poder sair de casa. Não podem jogar mais uma vez essa crise nas costas dos trabalhadores.

Neste mesmo sentido, é preciso instituir um seguro-desemprego emergencial de, pelo menos, dois anos para os mais de 11 milhões de desempregados.

Para garantir isso, é preciso fazer uma opção política. Como já dissemos, dinheiro o governo tem, o problema é para onde está indo. Números recém-divulgados pela Auditoria Cidadã da Dívida mostram que, só no ano passado foi destinado 1 trilhão e 37 bilhões para o pagamento da falsa dívida aos banqueiros. Só para efeito de comparação, em 2019 o SUS recebeu R$ 114 bilhões.

Para enfrentar essa pandemia é preciso, portanto, que o governo cobre impostos dos lucros dos bancos, das grandes fortunas e, especialmente, que suspenda o pagamento da falsa dívida aos banqueiros.

É necessário também revogar já o teto dos gastos que retira ainda mais recursos dos serviços públicos, especialmente da Saúde. E suspender a tramitação de todas as reformas neoliberais cujo único objetivo é tirar direitos da classe trabalhadora e jogar a crise capitalista nas nossas costas.

A classe trabalhadora precisa se mobilizar, se atos e manifestações nesse momento não seriam aconselháveis, temos outras formas de luta, ainda mais poderosas, podemos e devemos realizar paralisações rumo a uma grande paralisação nacional.

A pandemia do coronavírus e o caos que se anuncia mostram a lógica do sistema capitalista, baseado na exploração e no lucro acima de tudo. Bolsonaro mandou fechar o Planalto a visitas para se proteger. Rodrigo Maia fez o mesmo no Congresso Nacional. Os ricos suspendem viagens e eventos. E os trabalhadores? São obrigados a enfrentar, diariamente, transporte público lotado e trabalhar junto a outras dezenas, centenas ou milhares de pessoas. Os ricos e governantes podem se precaver, os trabalhadores não. Devemos exigir quarentena já também para os trabalhadores, com estabilidade no emprego e manutenção dos salários. As empresas em crise que ameaçarem demitir ou fechar, devem ser estatizadas e colocadas sob o controle dos trabalhadores.

Num sistema que funcione com outra lógica que não a do lucro, se poderia organizar a economia de acordo com os interesses da maioria da população, colocando a vida das pessoas acima de tudo. Mas no capitalismo, o interesse de 1% está acima da saúde e da vida dos outros 99%.