Rebeldia - Juventude da Revolução Socialista

Rebeldia – USP

As mulheres são alvos de constantes agressões, violências e abusos. Durante o contexto de pandemia, por conta da questão do isolamento social, elas estão submetidas a um perigo ainda maior, uma vez que a violência vem de dentro de casa e, agora, estão o tempo inteiro presas com seus agressores. Pelo mesmo motivo, as chances de se pedir socorro diminuíram bastante e a dificuldade de realocar aquelas que conseguem denunciar, sair ou fugir de casa também é um obstáculo complicado de se vencer.

No mês de abril a quantidade de denúncias delatadas no canal 180 cresceu quase 40%. Sabendo que a maior parte dos casos são subnotificados, é no mínimo assustador imaginar o quanto a situação das mulheres piorou na pandemia.

Não é novidade que nós mulheres temos de lidar com violações da nossa integridade e dos nossos direitos todos dias, em todos os locais e, não bastasse a dura realidade que enfrentamos, ainda temos que lutar para que esses abusos sejam, no mínimo, vistos. Já que combatidos, em um país como Brasil, pouco o Estado, as autoridades, o sistema policial e ainda mais o Governo Bolsonaro se articulam para tal. Em um país como o nosso, que leva a herança do colonialismo, a situação de fragilidade é ainda maior para as mulheres negras, que compõem 62% das vítimas de mortes por agressão. No tocante à parcela jovem, a pandemia torna tudo ainda mais propício para os abusos sexuais, afinal, as mulheres jovens são as principais vítimas. Em 2019, em um contexto de “normalidade”, a cada 15 minutos uma menina de até 13 anos era estuprada.

Levando em conta que a violência sexual é predominante nos ambientes de residência, pelos próprios familiares, a quantidade de crimes que vêm sido cometidos cresceu imensamente após a condição de quarentena. Para ilustrar, trabalhando apenas com dados notificados, em que não necessariamente medidas foram tomadas, durante o isolamento a violência contra mulheres em São Paulo cresceu 40%; no Rio de Janeiro, a violência sexual aumentou 17% durante a pandemia e no Rio Grande do Norte o número de estupros a vulneráveis dobrou. O assassinato de mulheres trans cresceu 49% durante a pandemia. Em 2017, no Brasil, 6 mulheres lésbicas eram estupradas por dia, sendo 61% da violência praticada contra elas exercida dentro de casa.

Para além da frequência e quantidade das violências, agressões e abusos terem aumentado em níveis muito preocupantes, a fiscalização e visibilidade, que antes já eram considerados críticos, diminuíram ainda mais. Por essa razão, o tráfico de mulheres para exploração sexual está muito mais susceptível durante o cenário de pandemia. E nesse mesmo sentido, as mulheres em situação de prostituição estão mais vulneráveis ao risco de contaminação, bem como ao aumento risco de violação de direitos.

Infelizmente, vimos acontecer dois casos que tiveram repercussão nas mídias recentemente. O caso da menina de 10 anos que engravidou do tio após sofrer constantes abusos, teve seu nome divulgado pela ativista de extrema-direita Sarah Winter na internet, e depois ainda sofreu perseguição de conservadores e fundamentalistas, que a chamaram de “assassina” por estar realizando um aborto. Também tivemos o caso de Mariana Ferrer, que sofreu estupro e o seu estuprador foi completamente absolvido pela justiça, que mais uma vez mostrou que não está do nosso lado.

Ser mulher é uma luta diária de sobrevivência e resistência, dentro e contra a sociedade onde o governo e as autoridades se calam. A situação das mulheres jovens dentro do capitalismo é de muita violência, desemprego e falta de acesso aos direitos. Precisamos falar sobre a nossa situação sempre, a sociedade não pode negar nossa realidade e tudo pelo o que passamos e os riscos que corremos diariamente. O machismo é extremamente naturalizado, e Bolsonaro e Damares incentivam tudo isso, pois zeraram o combate à violência contra as mulheres e já fizeram diversas declarações que colocavam a culpa da violência nas vitimas. Além disso, dentro do capitalismo tudo se aprofunda, não é coincidência que ainda hoje a gente receba menos que os homens trabalhadores, por exemplo, e que as mulheres fiquem em postos mais precarizados! O capitalismo se utiliza do machismo para lucrar!  E agora, durante a pandemia, em que a nossa condição tomou rumos de retrocesso, precisamos nos juntar e lutar contra isso de forma ainda mais incisiva!

É por isso que, mesmo com todas as violências que sofremos, nós também falamos “basta” e estamos sempre na linha de frente na luta contra o machismo, racismo e a LGBTfobia! Estamos na linha de frente na luta contra toda a violência que sofremos e contra a retirada de direitos, contra Damares, Bolsonaro e Mourão! Não aceitamos caladas toda essa exploração e opressão!

E também estaremos na linha de frente na luta pela revolução, pela mudança radical da sociedade, onde a gente possa de fato não sofrer mais nenhuma dessas violações! Estamos na luta pelo socialismo! O caminho da nossa liberdade é através da nossa organização e luta!