Filme mostra a história do surgimento do Facebook, rede social que conecta mais de 500 milhões de pessoasVocê senta em frente à tela do computador e, alguns cliques depois, já parabenizou aquele seu amigo que faz aniversário, se desculpou pelo furo que deu no cinema que tinha marcado com aquele outro e ainda cobrou o colega folgado que atrasou a sua parte no trabalho da faculdade. De quebra, vê um vídeo engraçadinho, endossa uma campanha de proteção às baleias azuis e posta as fotos de sua última viagem.

Esse é o cotidiano do fenômeno das redes sociais, que conecta milhões de usuários em todo o planeta e cresce em ritmo exponencial. Não é de se espantar, portanto, a repercussão do filme Rede Social, que estreou no final de 2010 e que já amealhou prêmios como o Globo de Ouro, o mais importante em termos de divulgação após o Oscar. Tendo como protagonista o jovem Mark Zuckerberg, o filme dirigido por David Fincher (diretor de O Clube da Luta) conta a história do surgimento do Facebook, a maior rede social do mundo, com 500 milhões de adeptos.

Contraditoriamente, uma história que poderia ser sobre amizade e interação, é contada a partir de dois conflitos jurídicos que marcaram a história do Facebook. O filme é narrado a partir de flashbacks que partem de uma audiência judicial dos dois processos contra Zuckerberg. Um movido pelos gêmeos Winklevoss e outro pelo brasileiro Eduardo Severin, co-fundador da rede social.

Uma ideia que vale bilhões
A ideia inicial do Facebook surgiu ainda em 2003 na Universidade de Harvard, onde Zuckerberg estudava. Partiu, na verdade, de uma ação extremamente machista e estúpida do estudante, que invadiu os sites dos dormitórios femininos da universidade, roubou as fotos das alunas e criou um site para que os colegas elegessem as mais atraentes. O bizarro ranking recebeu tantos visitantes que chegou a derrubar os servidores de Harvard.

Atraídos pelo sucesso do site, os irmãos Cameron e Tyler Winklevoss, ricos estudantes de Harvard, resolvem contratar Zuckerberg para desenvolver um site de relacionamento para os alunos da seletiva universidade norte-americana, o HarvardConnection. A ideia era fazer um site restrito aos estudantes e baseado na exclusividade de pertencer à instituição, como as “fraternidades” das universidades norte-americanas.

Zuckerberg, porém, um típico nerd, resolve expandir a ideia e cria o TheFacebook, que rapidamente se espalha por Harvard. Um site onde uma pessoa pode “conhecer” melhor outra, ver seus gostos, se está solteiro ou não, etc. Enquanto ele cuida da programação da nova empreitada, seu único amigo o brasileiro Eduardo Severin, busca patrocínio para o site. Rapidamente, o negócio cresce e atrai a atenção de investidores e de Shawn Fanning, criador do Napster, o site de compartilhamento de música que provocou a fúria das grandes gravadoras. Fanning passa a exercer forte influência sobre Mark, deixando Eduardo em segundo plano.

A partir daí, a tecnologia se torna apenas pano de fundo para o jogo de intrigas, ciúme e traições entre os envolvidos no gerenciamento dessa rede social. Conflitos que crescem à medida que o próprio negócio se expande. E é aí que aparece de forma clara toda a contradição que permeia o filme. Enquanto o Facebook cresce, lucra e conecta cada vez mais gente, mais Zuckerberg se isola, chegando a, sob influência do ex-dono do Napster, a aplicar um golpe contra o único amigo a fim de diminuir seu peso societário na companhia.

O estudante de Harvard que ganha seu primeiro bilhão aos 23 anos se vê alvo de processos judiciais, como os dos gêmeos que o acusam de plágio, e do próprio ex-amigo que exige sua parte de participação na empresa. Zuckerberg, em determinado momento, é reflexo de uma nova geração: brilhante, prepotente e movido pela sede insaciável de poder, reconhecimento e dinheiro. Nem que para isso tenha que passar por cima de seu melhor, e único, amigo.

O paradoxo das redes sociais
Hoje, o Facebook além dos milhões de inscritos, tem um valor estimado em 50 bilhões de dólares. Seu criador é um dos homens mais ricos do mundo e, além dos processos judiciais, o site é cercado por polêmicas como a venda de informações pessoais de usuários para empresas.

No Brasil, o Facebook avança, embora o Orkut ainda seja majoritário. Esse fenômeno suscita várias discussões interessantes: em que medida essa pretensa interatividade proporcionada pelas redes não encerra ainda mais o individualismo e relações sociais cada vez mais superficiais e artificiais? Levantamento recente mostra que cada usuário do Facebook conhece apenas, em média, 30% de seus “amigos”.

É inegável que criações como o Napster, que mudou para sempre a indústria fonográfica ao possibilitar o compartilhamento de música na Internet, e o próprio Facebook e demais redes sociais, como o Twitter, são grandes ideias. Não é legal reencontrar aquele seu colega que não via há tantos anos? Ou compatilhar informações instantâneas com milhares de outras pessoas? A revolta popular contra o regime dos aiatolás no Irã em 2009, por exemplo, demonstrou o potencial de uma ferramenta como o twitter na luta contra um regime opressivo.

Ao mesmo tempo, é de se lamentar os limites da tecnologia no sistema capitalista. O Napster foi comprado por 15 milhões de dólares pelas grandes gravadoras. O Facebook e similares, que poderiam aprofundar as relações humanas, são exatamente o seu contrário. Mas tampouco, porém, deve-se desconsiderar as possibilidades disso num outro tipo de sociedade.
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