A experiência com Hillary Clinton pode se tornar o fator decisivo para derrotar Barack Obama nas prévias do Partido DemocrataNão a experiência que de Clinton fala em seus discursos de campanha – seus “35 anos” habitando os corredores do poder, que supostamente fariam dela mais apta que Obama a “fazer as coisas acontecerem em Washington”.

Não, nós queremos falar da “experiência” de Hillary – e de seu marido e de sua equipe de campanha – em esmagar oponentes no Partido Democrata e colocar em ação uma incrível máquina política para ganhar as eleições.

Esta semana o foco de atenção estará na Carolina do Sul, onde os democratas preparam suas primárias em 26 de janeiro. Obama espera que os votantes afro-americanos irão alçá-lo a uma forte vitória e dá-lo uma folga para ir às “super” primárias de terça em 5 de fevereiro, em que os democratas terão eleições em 22 estados.

Ambas campanhas esperam se dar bem. Mas é bom lembrar que o duelo dos candidatos e o giro incansável de suas equipes mascaram uma vergonhosa verdade sobre a batalha pela escolha do candidato democrata – a de que os dois líderes têm muito mais acordos que discordâncias, e juntos, eles apóiam posições à beira de desapontar as milhões de pessoas que estão votando neles na esperança de que irão fundamentalmente mudar Washington em relação ao que o governo vem fazendo com Bush.

A campanha de Obama dirigiu sua onda de amargura pela agenda de direita dos republicanos para a inesperada e forte vitória sobre Hillary e John Edwards em Iowa. O segredo foi uma organização de campanha que se concentrou em números recordes de participantes de encontros do partido a favor de Obama – especialmente jovens excitados por sua mensagem, ainda que vaga, de “mudança” do status quo.

A agitada campanha de Hillary repercutiu em New Hampshire por uma determinada orientação para conseguir seus apoiadores na votação que restaurou a margem de Hillary sobre Obama entre as votantes mulheres.

Nos encontros do partido em Nevada na semana passada, Hillary ganhou de novo em razão da força de sua máquina de campanha.

Ao mesmo tempo, na guerra sobre como a mídia retrata as primárias, Hillary e seus operativos de campanha pegaram Obama em balanço e na defensiva, com todos os tipos de ataques – o que Obama espera mudar na corrida pelos votos na Carolina do Sul.

Tão importante como a corrida eleitoral na Carolina do Sul, o caos nos mercados mundiais e o crescente medo a respeito da severidade de uma recessão colocaram a economia no centro da campanha.

E a resposta de Obama na semana passada, o candidato da “mudança” do status quo, foi… abraçar o legado de Ronald Reagan.

De acordo com Obama, Reagan “mudou a trajetória da América de uma maneira que Richard Nixon não conseguiu, e Bill Clinton também não. Ele nos colocou em um caminho fundamentalmente diferente, porque o país estava pronto para isso. Penso que eles estiveram dispostos com todos os excessos dos anos 60 e 70, o governo cresceu e cresceu, mas não houve muito senso de responsabilidade em termos de como isso estava sendo feito”.

Nenhum dos estúpidos seguidores republicanos da corrida presidencial – cada um professando sua devoção a doutrina desacreditada dos efeitos benéficos para toda a sociedade do corte de impostos para os super-ricos – diria algo muito diferente.

Este é o verdadeiro conteúdo da retórica de Obama sobre acabar com as “divisões partidárias” em Washington – concessões aos pró livre mercado e à ideologia anti “grandes governos” que dominou durante o período de domínio conservador inaugurado pela presidência de Reagan.

Dessa forma, Obama está sozinho entre as esperanças dos democratas em aumentar a suposta ameaça de uma crise da seguridade social – uma fraude pensada para abrir o caminho para os esquemas de privatização que encheriam os bolsos em Wall Street.

De sua parte, Hillary imitou a campanha populista de Edward, e afiou sua crítica à crescente desigualdade de renda e à crise.

Mas isso é mais que pura disputa de campanha? A partir do momento em que Hillary atribui para si crédito nos recordes de Bill Clinton na Casa Branca nos anos 90, é preciso lembrar que a presidência de seu marido avançou na agenda neoliberal em Washington – do Nafta e outras políticas de livre comércio, a privatizações e desregulamentações, até a destruição de programas sociais.

Como senadora, Hillary esteve ao lado da maioria de seu partido – assim, em 2001, ela votou, com a maioria dos senadores democratas, a favor de uma primeira versão de reforma da legislação de falências, planejada para tornar impossível às pessoas saírem de suas dívidas. Na realidade, existe pouca diferença entre Hillary e Obama em assuntos econômicos. Ambos irão apoiar um pacote de estímulo à economia, provavelmente mais generoso que o de Bush, mas longe do que seria necessário para beneficiar aqueles que sentem o peso da crise. Nenhum deles irá apoiar uma proposta de assistência de saúde que desafie o papel da indústria de seguros privados.

E ambos são favoráveis às grandes corporações privadas. Quaisquer que sejam as críticas que eles fazem aos bancos e fundos de investimento de Wall Street por terem provocado a crise das hipotecas “subprime” que colocou a economia no caminho da recessão, nem Hillary nem Obama tiveram aversão a receber o dinheiro deles.

Hillary é líder em contribuições de campanha de Wall Street – no último trimestre do ano passado, seu poder atração do setor financeiro foi maior que todos os outros candidatos, republicanos e democratas juntos. Mas Obama ficou em segundo – ele parece ser especialmente popular entre os super-ricos executivos de fundos “hedge”.

Milhões de pessoas irão votar em Hillary ou Obama na esperança de que eles estarão à altura de suas reivindicações para defender as causas dos trabalhadores. Nenhum deles merece esse apoio.

*Veículo de Comunicação da Internationasl Socialist Organization (ISO) dos Estados Unidos