Redação

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O golpe militar de 1964 completou 56 anos no dia 31 de março. Nesse dia, vários integrantes do governo Bolsonaro foram a público para exaltar os mais de 20 anos de chumbo que se abateram sobre o país. Como se não bastasse falar asneiras e mentiras sobre a pandemia que ameaça ceifar a vida de milhões de brasileiros, esse governo genocida elogia em público uma ditadura sangrenta que instituiu a tortura, a morte e a censura.

Bolsonaro, que é uma máquina de mentiras, não esqueceu de fazer sua asquerosa saudação à ditadura. O vice-presidente Mourão escreveu numa rede social que as Forças Armadas “intervieram na política nacional para enfrentar a desordem, subversão e corrupção que abalavam as instituições e assustavam a população”. Disse ainda que o primeiro ditador, o general Castello Branco, tinha sido “eleito”! A verdade é que o presidente da época, João Goulart, legitimamente eleito, foi deposto pelos comandantes do exército, aliados a políticos como Ademar de Barros, Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek. Anos depois, todos esses políticos tiveram seus direitos caçados e tiveram que fugir do Brasil.

Corrupta e violenta contra os pobres

Os defensores da ditadura dizem que ela livrou o país da corrupção e da “ameaça comunista”, um delírio completo que hoje é ruminado por uma boiada de seguidores de Bolsonaro nas redes sociais.

Talvez nunca tenha existido um período tão corrupto quanto foi a ditadura. A ditadura criou figuras políticas odiáveis, como Paulo Maluf e Delfim Neto, e foi responsável pelo crescimento vertiginoso das grandes empreiteiras que roubaram muito dinheiro público com as obras faraônicas promovidas pelo regime.

No período anterior ao golpe, a classe operária realizava lutas extremamente importantes e assim arrancava conquistas sociais. Não por acaso, o primeiro alvo dos milicos depois do golpe foi a classe operária. Isso era uma exigência dos empresários que patrocinaram o golpe, junto com a embaixada dos Estados Unidos.

Um exemplo foi a repressão que se abateu na Baixada Santista (SP). Após o golpe, os combativos sindicatos dos trabalhadores do porto de Santos sofreram intervenção, e suas lideranças foram aprisionadas e torturadas num navio-prisão da marinha. A ditadura liquidou conquistas históricas da categoria. Imagine um regime como este, que proíbe seu direito à greve, revoga seus direitos e ainda ameaça você de prisão! Em Santos, a Companhia Docas lucrou como nunca, enquanto os trabalhadores do porto trabalhavam de cuecas, seminus, sem direitos e em silêncio.

Repressão a camponeses e soldados

No campo, líderes das Ligas Camponesas foram caçados e assassinados por militares e jagunços. Engana-se quem acha que o golpe foi um consenso entre os militares. Houve resistência sim. Mas as Forças Armadas logo aprisionaram soldados e suboficiais. Muitos deles foram torturados.

Um levantamento da Comissão da Verdade mostra que mais de 6.591 oficiais, suboficiais e soldados foram presos, torturados ou expulsos das Forças Amaradas. Um verdadeiro expurgo para eliminar aqueles que estavam ao lado das lutas do povo.

RASTRO DE SANGUE
Quantos foram os mortos e desaparecidos

É difícil uma estimativa exata sobre o número real de pessoas mortas e desaparecidas durante a ditadura. Muitos documentos foram destruídos e nunca vieram a público. Por isso, toda estimativa que já foi realizada com certeza está bem abaixo da realidade brutal daquele período. Segundo documentos da Comissão da Verdade, 437 pessoas foram mortas e desaparecidas nas grandes cidades. Destas, 248 (56% do total) eram trabalhadores, a maioria era de operários (55 ao todo).

No campo o massacre foi brutal. Graças a descoberta do Relatório Figueiredo – de mais de 7 mil páginas –, sabemos que ao menos 8.350 indígenas foram mortos em massacres, roubo de suas terras, remoções forçadas de seus territórios, contágio por doenças infectocontagiosas, prisões, torturas e maus tratos. Muitos sofreram tentativas de extermínio. Um genocídio que Bolsonaro quer repetir ao defender a mineração em terras indígenas. Também no campo, pelo menos 1.196 trabalhadores rurais foram assassinados segundo o relatório final da Comissão Camponesa da Verdade em 2014.

Os generais criminosos sabiam de todo esse extermínio. A prova disso é um memorando da CIA (serviço de inteligência dos EUA) divulgado recentemente. O documento da CIA fala sobre a “decisão do presidente brasileiro, Ernesto Geisel, de continuar com as execuções sumárias de subversivos perigosos sob certas condições”. A barbárie da ditadura é exposta com toda sua crueldade pelo relatório da CIA, que foi aliada dos militares brasileiros.

DITADURA NUNCA MAIS
Fora Bolsonaro e Mourão!

Bolsonaro faz questão de elogiar a ditadura, a tortura e seu ídolo, o facínora Brilhante Ustra, porque tem como projeto impor um regime odioso desse tipo. Por isso ataca as liberdades democráticas. Imaginem uma ditadura no país nesse momento em que enfrentamos uma terrível pandemia. Bolsonaro ficaria livre para acabar com o isolamento social – maior medida efetiva para deter a propagação do vírus –, permitir a demissão em massa dos trabalhadores, dar mais dinheiro para banqueiros e empresários e censurar as notícias sobre o coronavírus. Faria algo semelhante ao governo ditatorial do Turcomenistão, onde o ditador baniu o uso da palavra coronavírus no país. Quem usar a palavra, tanto nas publicações oficiais quanto na imprensa independente, vai no mínimo preso.

É preciso repudiar com força esse discurso, assim como qualquer ataque às liberdades democráticas. Não podemos normalizar elogio à ditadura, a torturador e a golpes militares. Não vamos aceitar! Fora Bolsonaro e Mourão!