Foto Agência Brasil

Num momento em que praticamente o conjunto da burguesia vem chegando à conclusão de que manter Michel Temer à frente da presidência tornou-se inviável, a polêmica se dá em relação à forma de contornar essa imensa crise política que coloca em xeque a aprovação das reformas exigidas pelos banqueiros, o empresariado e o imperialismo: as reformas da Previdência, trabalhista e a lei das terceirizações.

Um setor expresso pelas organizações Globo exige renúncia já. Querem encaminhar a solução da crise o mais rápido possível antes que as ruas o façam, indicando um governo “técnico” na figura de Meirelles, ex-BankBoston e JBS. Outro setor, cujos porta-vozes na imprensa são a Folha de S. Paulo e o Estadão, mais cautelosos, preferem costurar uma saída negociada por cima primeiro, antes de poderem descartar Temer. Em ambos os casos, porém, o objetivo é só um: debelar a crise política e manter a atual política econômica, aprovando as reformas. A polêmica se dá em como se fazer isso e quem controla que fatia do Estado.

Em todo os casos, a solução da burguesia é a sucessão de Temer por meio de eleições indiretas via Congresso Nacional. E um dos nomes que vem ganhando força para isso é o do ex-presidente do Banco Central no governo Lula e atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Seria um “governo técnico”, homem de confiança do sistema financeiro nacional e internacional e do empresariado, que poderia encaminhar o desmonte da Previdência pública e da CLT. O próprio já se colocou de prontidão para a tarefa afirmando que, seja qual for o destino de Temer, permanece no cargo.

Quem é Henrique Meirelles?
Meirelles construiu sua carreira no BankBoston, onde trabalhou por quase três décadas. Nos últimos três anos lá, assumiu a presidência do BankBoston mundial. Em 2002, aposentado do banco e de volta ao Brasil, ele se candidata a deputado federal e se elege pelo PSDB de Goiás, mas renuncia e se desfilia logo depois para atender ao chamado de Lula para assumir a presidência do Banco Central. Meirelles seria o fiador de Lula aos banqueiros, papel que cumpriu muito bem durante os dois primeiros mandatos do PT.

Capa do Opinião Socialista de agosto de 2004

Desde aquela época, porém, Meirelles já estava envolvido em uma série de denúncias de corrupção, sistematicamente encobertas pelo governo do PT. Na CPI do Banestado, o próprio presidente da comissão, o senador do PSDB, Antero Paes de Barros (PSDB-MT), pediu o indiciamento de Meirelles por evasão de divisas e crime contra o sistema financeiro. Já o relatório da CPI, apresentado pelo petista José Mentor (PT-SP) livrava a cara do ex-banqueiro.

Após passar oito anos à frente do Banco Central na era Lula, no qual ajudou o PT a manter essencialmente a mesma política econômica de FHC, Meirelles ocupou, em 2012, o posto de presidente do Conselho de Administração da J&F, holding controladora da JBS. Seu objetivo era preparar a companhia para a abertura de capital na bolsa. Assumiu ainda a presidência do banco Original, também da J&F.

Demonstrando total confiança em Meirelles, Joesley Batista, um dos donos da megaempresa de faturamento anual de R$ 65 bi, deu carta branca a Meirelles fazer o que bem entendesse na companhia. “O Meirelles não vai ser apenas um consultor. Vai cobrar resultados dos executivos e traçar estratégias para a expansão do negócio, agora é com ele“, declarou Joesley à revista Exame na época.

Não é difícil entender a confiança de Joesley em Meirelles. No governo Lula, a JBS recebeu nada menos que R$ 5 bi do BNDES, que chegou a se tornar o principal acionista da empresa, com mais de 30% das ações. Entre empréstimos e compra de ações, o banco público injetou mais de R$ 10 bi no grupo. A razão, sabemos agora, não foi apenas a malfadada estratégia de criar as “campeãs nacionais”, mas um generoso retorno em forma de propina. Além de um salário anual de R$ 40 milhões, Meirelles teria aceitado a empreitada com a promessa de tornar-se sócio da maior empresa de carnes do mundo.

Meirelles permaneceu até 2016 no grupo, quando assume o ministério da Fazenda já sob o governo Temer, com a missão de aprovar as reformas. É sempre bom lembrar que, diante do desembarque de Joaquin Levy do então governo Dilma, Lula defendia a ida de Meirelles para o cargo.

Pois agora, o mesmo Joesley que deu carta branca para Meirelles cuidar dos negócios da holding em 2012, entrega Temer, Aécio, Dilma, Lula, além de centenas de políticos e autoridades. Expõe a compra de deputados para votar contra o impeachment de Dilma, caixa 2, propinas, enfim, um roteiro condensado do que é feito a política e esse regime burguês. E Meirelles não sabia de nada?

Henrique Meirelles não é apenas um nome “técnico”, eufemismo para lobista dos banqueiros e grandes empresariados. É tão corrupto quanto os outros políticos que, um a um, estão caindo na sucessão de escândalos da Lava Jato. Propor seu nome para ocupar a presidência, e ainda para aprovar as reformas que estão sendo rechaçadas nas ruas, é um verdadeiro escárnio.

Não vamos aceitar Temer, eleições indiretas e reformas
É absolutamente inconcebível a solução das eleições indiretas. Esse Congresso Nacional não tem a menor legitimidade nem para continuar lá, o que dirá de escolher o futuro presidente. O caminho é ocupar as ruas e exigir uma nova Greve Geral, de 48h, para tirar todos de lá e enterrar de vez as reformas.

Diante da desmoralização completa desse regime, cujas entranhas se expõem em rede nacional diariamente, o papel da esquerda revolucionária é apresentar uma saída socialista, dizer com todas as palavras que nenhuma mudança virá das eleições e por dentro dessas instituições podres, controladas pelos empresários e banqueiros. Por isso PSTU afirma que uma mudança real só vira com um governo dos trabalhadores, apoiado em conselhos populares.

Se não tivermos pronta essa alternativa diante da queda de Temer, não podemos aceitar eleições indiretas. No mínimo, vamos exigir que sejam realizadas eleições gerais para todos, não só para presidente, e sob novas regras. Exigir ainda que os donos da JBS, que estão lucrando até com a própria crise que ajudaram a criar, sejam presos e que a empresa seja estatizada e colocada sob o controle de seus trabalhadores.

Mas a saída de fundo é colocar os operários e o povo pobre no poder, fora disso é esse show de horrores que vem à lua na crise, mas que é o que acontece no dia-a-dia por debaixo dos panos.