Ditadura de Bashar al-Assad é vista como aliada pelo ImperialismoContinuam as mortes de manifestantes que exigem liberdades políticas e o fim da corrupção na Síria. As forças de segurança e militantes leais ao presidente Bashar al-Assad mataram pelo menos 112 pessoas nos últimos dias, e mais de 220 manifestantes foram mortos desde que os protestos começaram em 18 de março.

Os protestos continuaram, principalmente nos funerais de manifestantes, apesar de Al Assad derrubar o estado de emergência, em vigor no país há quase cinco décadas, e abolir os tribunais de segurança estaduais que operavam fora do sistema judiciário normal para julgar pessoas consideradas dissidentes.

O estado de emergência — que estava em vigor desde o golpe de Estado de 1963– dava “carta branca” aos órgãos de segurança reprimirem dissidentes por meio da proibição da aglomeração de mais de cinco pessoas, prisões arbitrárias e julgamentos a portas fechadas.

Mesmo assim este final de semana a polícia secreta invadiu casas no subúrbio de Harasta durante a noite, prendendo ativistas na área, conhecida como a Ghouta.

Dois legisladores da Síria renunciaram a seus cargos no parlamento como demonstração de indignação à repressão aos protestos. A repressão é violentíssima com atiradores de elite e força de segurança atirando contra o povo particularmente nos funerais de manifestantes pró-democracia e em hospitais. A TV Al Jazeera noticiou que no Hamdan Hospital, moradores formaram durante a noite um escudo humano em torno do portão principal, a fim de impedir que as forças de segurança prendessem os que foram feridos.

A ditadura síria
Um grande número de golpes militares e tentativas de golpe sacudiram o país no período entre 1949-1970. Ele é governado pelo Partido Baath desde 1963. O atual presidente Bashar al-Assad é filho de Hafez al-Assad, que governou de 1970 até sua morte em 2000.

Realizando o que Mubarak e Kadafi não conseguiram, Hafez colocou seu filho Bashar a sucedê-lo. A exemplo de ditaduras com um estilo quase monárquico de funcionamento. A população predominante é de muçulmanos sunitas, mas desde a década de 1960, oficiais militares alauitas tem dominado o cenário político do país.

O Partido Baath é nacionalista burguês e sua ditadura desde 1963 repetiu a historia de um movimento nacionalista burguês que cumpriu um papel relativamente progressista ao inicio e que depois girou à direita com tudo e se entregou ao imperialismo.
No inicio estatizou boa parte das empresas lucrativas, inclusive as petroleiras. Na década de 90 acompanhando a guinada imperialista de Kadafi e Sadat, entregou novamente o petróleo às multinacionais.
Atualmente multinacionais petroleiras como Shell, Total, CNPC, Gulfsands Petroleum (EEUU), Tatneft e ONGC Videsh controlam a principal produção do país. A norte-americana Conoco Philips explora o gás.

A Síria é um dos estados mais repressivos da região; centenas, senão milhares de pessoas desapareceram em suas prisões. Inclusive libaneses foram seqüestrados durante as décadas de controle sírio sobre o seu território; assim como os membros da Jordânia do partido Baath, que não concordavam com sua liderança; e membros de diferentes facções palestinas; sem falar nos críticos do regime sírio que foram presos e acusados sem nenhum processo legal.
Em 1982 reprimiu duramente a mobilização de Amah, com 25 a 30 mil mortos. A imposição do neoliberalismo e a ditadura dos Assad ampliou a miséria do povo, que agora com o agravamento da crise econômica mundial leva a uma explosão social. Esta é uma base generalizada da Revolução Árabe.

A geopolítica do Petróleo
Na região oriental do Mediterrâneo, a Síria é o único produtor de petróleo. Israel, Jordânia e Líbano têm de importar todo o petróleo que necessitam. Em 2004, a Síria extraía uma média de 460 mil barris por dia.

Desde o seu pico de 590 mil barris por dia, atingido em 1996, a produção de petróleo da Síria vem caindo. Enquanto o consumo sobe. Além disso, a Síria é um importador privilegiado do petróleo do Iraque desde os tempos do regime de Saddam Hussein.

As exportações sírias chegaram a crescer quase 18% depois da reabertura do oleoduto do campo de Kirkuk, no Iraque, até Banias, na Síria, em 1999. Banias é uma cidade na costa do Mediterrâneo e garante petróleo barato para a Europa e Estados Unidos.

O oleoduto Kirkuk–Banias foi posto em operação em 1952, marcando um momento importante no desenvolvimento da indústria petrolífera do Iraque. Seu projeto foi elaborado pela Iraq Petroleum Company (IPC), nacionalizada em 1972.

No entanto, ele foi danificado quando as tropas militares imperialistas anglo-americana invadiram o país. Em 2003, os EUA realizaram ataques aéreos ao longo do trecho do oleoduto Kirkuk–Banias em território iraquiano. (ele já havia sido danificado em 1956, pelo exército sírio como resposta ao ataque anglo-francês na zona do Canal de Suez).

No início de 2011, o governo sírio informou que os países interessados no petróleo do Iraque estavam em negociações para reparar o oleoduto e logo os governos da Síria e do Iraque se reuniriam para discutir sua reabertura. Querem repará-lo e construir mais dois oleodutos e um gasoduto entre os dois países.

Conflito com Israel
A República Árabe da Síria fica no Sudoeste Asiático, e faz fronteira com o Líbano e o Mar Mediterrâneo a oeste, Israel no sudoeste, Jordânia no sul, Iraque a leste, e Turquia no norte.

Na era Islâmica, sua capital, Damasco, foi a capital do Império Omíada e a capital provincial do Império Mameluco. Damasco é largamente reconhecida como uma das cidades mais antigas continuadamente habitadas do mundo.

A Siria tem uma longa trajetória em conflitos com Israel. Em 1948, entrou em guerra com Israel, e perdeu. Em 1967, aliado ao Egito, envolveu-se na Guerra dos Seis Dias. Foi novamente derrotada e Israel ocupou as Colinas de Golã.

Em 1973, atacou Israel, na chamada Guerra do Yom Kippur. Na segunda semana de guerra, os sírios foram empurrados completamente para fora das colinas do Golã. Um cessar-fogo entrou em vigor em 25 de outubro de 1973.

Uma das consequências desta guerra foi a crise do petróleo, já que os estados árabes, membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) boicataram os Estados Unidos e os países europeus que apoiavam a sobrevivência de Israel.

Com este histórico o imperialismo deveria estar muito feliz com os levantes populares contra o regime de Al Assad, mas as coisas não são bem assim.

Inimigo, mas não muito
O governo sirio parece ser um dos grandes inimigos de Israel mas isso não é bem assim. Inclusive o presidente Al Assad, insiste em acreditar que o seu apoio à resistência contra Israel o distingue dos outros regimes ditatoriais na região, e isso o tornará imune às revoluções que derrubaram presidentes pró-ocidentais como na Tunísia, Líbia e Egito.

Não há dúvida de que sua recusa em chegar a um compromisso com Israel – em contraste com o Egito, Jordânia e a OLP Palestina ampliou suas credenciais arabista e reforçou o seu papel geopolítico. Assim como seu apoio ao Hamas e ao Hezbollah.

Mas a verdade é que o governo sírio interfere nos assuntos palestinos, alimentando divisões e pouco fez para apoiar a intifadas. As forças sírias em 31 de maio de 1976 invadiram o Líbano, com apoio dos EUA e de Israel e foram responsáveis pelo bloqueio de Beirute Ocidental, predominantemente muçulmano, que continha o quartel-general palestino.

Os palestinos não se esquecem do massacre de Tel al-Zaatar, em agosto de 1976, quando este campo de refugiados palestinos, em Beirute, caiu após um cerco de 52 dias nas mãos do Partido da Falange, os Guardiões dos Cedros e as Milícias Tiger, as vítimas palestinas foram contados aos milhares.

Al Assad enviou tropas para apoiar as forças de coalizão da ONU que expulsou o Iraque do Kuwait na Guerra do Golfo 1991. Foi essencial no combate aos jihadistas na travessia sobre o Iraque.

Em 1996, agressões israelitas provocaram a intervenção dos Estados Unidos e da França. Com a participação da Síria, do Líbano e de Israel, foi aberta uma negociação que ficou conhecida como “Entendimento de Abril”.
Houve também a cooperação de inteligência com os Estados Unidos sobre a Al-Qaeda após 9 de setembro. A Síria também pôs fim ao comércio ilegal de armas em suas fronteiras com Israel, impondo uma proibição sobre o contrabando de armas para as Colinas de Golã e garantindo que sírios e palestinos não sejam capazes de atravessar suas fronteiras, rigidamente controladas, como fazem nas fronteiras da Jordânia e Líbano.

Além disso, a Síria não tem nenhuma atitude contra a expropriação de terras feita por Israel e a construção de assentamentos e de transferência de colonos judeus para os ocupados Montes Golã.

Como se vê o currículo do ditador Al Assad faz com que o imperialismo o considere como um aliado e decida-se a sustentá-lo assim como Ali Abdullah Saleh no Iêmen e Hamad bin Isa Al Khalifa no Bahrein e busque conter os insurrectos.

Imperialismo quer conciliação e paz
Mais de 200 pessoas morreram desde que se intensificaram os protestos políticos na Síria. Frente aos massacres perpetrados por Kadafi o imperialismo reagiu com a construção da “zona de exclusão aérea” para supostamente evitar a morte de civis. A reação é distinta frente ao massacre sírio.

Hillary Clinton, secretária de Defesa de Estado dos Estados Unidos, afirma que não vai enviar forças militares dos EUA à Síria. Ele repete “nós lamentamos a violência na Síria”, mas diz que esta situação nunca poderia ser comparada à da Líbia.

Argumenta que a longa história de brutalidade de Kadafi distingue-se do regime do presidente sírio Bassar Al Assad e que distintas circunstâncias impossibilitam que os EUA empreendam operações militares na Síria.
Acontece que o imperialismo acha que a situação na Síria continua sob controle do regime ditatorial de Bashar Al Assad, pois as tropas militares governamentais, estão abrindo fogo com armas estadunidenses e matando manifestantes.

O governo dos EUA condena a brutalidade das tropas militares de Bassar Al Assad, mas quer mantê-lo no poder da Síria. “Não há um lider diferente na Síria agora… ele é um reformador”, afirma Hillary Clinton.

Frente à revolução árabe o imperialismo busca soluções diferentes para manter tudo da mesma maneira que estava. Conseguiu agentes de confiança para realizar a transição no Egito e na Tunísia, por isso optou por substituir Hosni Mubarak e Zine El Abidine Ben Ali. Assim como resolveu descartar o desgastado Muammar Kadafi. No Yemem, busca um substituto para seu ditador predileto, para a tomada definitiva das rédeas. E tanto na Siria como no Bahrein opta por sustentar ditaduras sanguinárias.

No entanto se a luta de classes recrudecer, novas táticas podem surgir desde que, em última instância, o controle desta região estratégica, continue em suas mãos.