Em janeiro de 1979, após um ano de grandiosas mobilizações operárias e estudantil, um revolução derruba a ditadura do Xá Reza Pahlevi. O imperialismo, que apoiou até o último momento o regime do Xá, sempre tentou retomar o controle dos ricos poços de petróleo do Irã.

Os operários do petróleo, que se declaram em greve por tempo indeterminado, dão o golpe final à ditadura. A economia se paralisa, o exército se divide e um setor dos militares também se rebela. O Xá é obrigado a fugir do país.

Ao mesmo tempo, em centenas de fábricas foram organizados comitês de greve (chamados shoras), que começam a assumir funções similares aos sovietes (conselhos) da Revolução Russa.

A contradição dessa revolução foi sempre sua direção, a hierarquia xiita, que tratou de desmobilizar as massas e estabeleceu um Estado ditatorial e teocrático, que manteve o sistema capitalista, atacou os comitês operários, perseguiu o movimento sindical independente e obrigou a população a aceitar os desígnios dos aiatolás.

No entanto, apesar do caráter burguês e retrógrado dessa direção, o Irã manteve uma relativa independência em relação ao imperialismo norte-americano que nunca desistiu de retomar seu controle direto sobre o país, estratégico no Oriente Médio, com imensas fontes de petróleo.

O imperialismo fez diversas tentativas de retomar seu domínio sobre o Irã: sanções econômicas, financiamento de oposições pró-imperialistas e, durante o mandato de Reagan, inclusive do armamento de Saddam Hussein, para que declarasse a guerra ao Irã, que durou oito anos (1980-88) e terminou com mais de um milhão de mortos.

Por outro lado, a guerra serviu também de pretexto para que os aiatolás reprimissem o movimento operário e estabelecessem um controle férreo sobre a juventude.

Nos últimos anos, dois grandes fatores estiveram no centro das preocupações dos EUA no Irã: o controle do petróleo e o fim do programa nuclear iraniano. Algo que é um objetivo estratégico comum a Obama, Bush e os governos anteriores. A situação ficou pior na medida em que as tropas norte-americanas afundavam no pântano iraquiano, enquanto o Irã se fortalecia.

Para retomar o controle direto do país e de suas riquezas petrolíferas, os distintos governos dos EUA ou tentaram derrubar o regime ou reformá-lo. Sob Bush isso era realizado através de uma pressão política e militar e atraves de sanções. O Irã foi considerado como parte do “eixo do mal” e seu direito a desenvolver um programa nuclear foi permanentemente ameaçado, sofrendo várias vezes sanções da ONU. Diante dos ataques do imperialismo, é totalmente justo o direito de o Irã desenvolver sua tecnologia nuclear e, inclusive, fabricar armas nucleares para proteger-se de um ataque de Israel e seus aliados.

Contudo, o pântano no Iraque impediu Bush de tomar uma medida de força militar contra o Irã. Além disso, o imperialismo precisa contar com a colaboração do regime iraniano para apoiar o novo governo títere iraquiano dirigido pelas forças xiitas, entre elas, aliados respaldados pelo governo do Irã.

Com Obama, porém, essa política teve uma inflexão tática. Sob o discurso de criar uma nova relação com o mundo árabe, o novo presidente norte-americano tenta negociar com o regime iraniano – ainda que não descarte totalmente a “opção militar” – como parte de uma política mais geral de criar uma “nova era” entre os EUA e o mundo árabe.

Esta é a razão pela qual Obama se ofereceu para negociar o programa nuclear iraniano, admitindo que o Irã possa ter energia nuclear para uso civil, controlada pelo EUA, a troco de que ajude a derrotar a resistência no Iraque e também estabilizar a situação no Afeganistão.

Por outro lado, como qualquer governo nacionalista burguês, os do Irã são incapazes de ir até o fim na luta contra o imperialismo. Ao mesmo tempo em que resistem a entregar o país ao controle direto dos EUA e da Europa e dão apoio a setores da resistência no Líbano, em razão de seu caráter burguês, o governo do Irã colabora com um dos empreendimentos coloniais mais infames e sanguinários do imperialismo: a invasão e ocupação do Iraque.

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