Enquanto deputados corruptos dão no pé, outros mensaleiros apostam em acordão para livrar a caraHá semanas, a crise política vem entrando em banho-maria. O escândalo do mensalão e de utilização de caixa dois pelos partidos está repleto de pizzas pelo caminho. Todos os casos mais graves, envolvendo Lula, Palocci, o PSDB e o PFL, simplesmente sumiram dos noticiários.

A oposição burguesa está convencida de que se levar adiante as denúncias também vai sair enlameada da crise, com a possibilidade de toda a podridão do governo FHC vir à tona. Para esses partidos, basta um Lula fraco e desgastado nas eleições do ano que vem.

Diante desse quadro, Lula vem tentando recuperar terreno e se firmar como candidato à reeleição no próximo ano. A última pesquisa do Ibope (11 a 13 de outubro), divulgada na noite do dia 14, aponta uma estabilização da imagem de Lula.

A desaprovação do governo caiu de 49% em setembro para 46% e a aprovação subiu de 45% para 46%. Ainda assim, as pesquisas mostram que o petista poderá ser derrotado pelo pré-candidato tucano, José Serra, em um eventual segundo turno.

Renúncia dos mensaleiros
Para escapar da cassação e garantir sua participação nas eleições de 2006, dois mensaleiros, os deputados José Borba (PMDB-PR) e Paulo Rocha (PT-PA) renunciaram aos seus mandatos na segunda-feira, 17. Ambos tiveram suas campanhas financiadas pelas contas de Marcos Valério. Com isso, dos 18 deputados citados nos relatórios da CPI como beneficiados pelo “valerioduto”, apenas 11 poderão ter seus mandatos cassados. Na Itália, Lula reagiu depois que foi informado de que, entre os petistas, só o deputado Paulo Rocha renunciaria: “Só o Rocha?!”, disse.

Lula aguardava uma renúncia do conjunto dos petistas mensaleiros, pois na sua avaliação isso poderia pôr uma pá de cal na crise política. Mas os deputados petistas contrariaram Lula e escolheram outro caminho…

Mais um acordão?
A decisão dos deputados do PT, PP, PFL e PL em não renunciar pode estar acompanhada de um tremendo acordão realizado nos bastidores do Congresso. Seria uma ingenuidade acreditar que os corruptos parlamentares enfrentarão os processos de cassação de seus mandatos de “peito aberto”. Muitos já fizeram as contas e avaliam que os processos de cassação não chegarão até o final do ano no plenário da Câmara. Tal acordo não seria nenhuma surpresa, pois os deputados mensaleiros poderiam se aproveitar de um ano eleitoral e negociar a preservação de seus mandatos.

O ambiente é favorável para essa ampla “anistia”. É bom lembrar que a lista com os 18 deputados que foram jogados aos leões é parte do acordão firmado entre PT, PSDB e PFL. Nos relatórios da CPI não constam menções aos crimes cometidos pelos parentes de Lula (como seu filho, que enriqueceu subitamente e seu irmão que montou uma empresa de tráfico de influência), nem as propinas recebidas por Palocci, nem o caixa dois utilizado pelo senador Eduardo Azeredo, presidente do PSDB.

Outra prova descarada do clima de acordão no Congresso é o fato de os parlamentares, especialmente os petistas, falarem abertamente que já é hora de iniciar a “fase Banestado”. Quer dizer, iniciar a fase de empastelamento das investigações, como foi feito na época da CPI do Banestado que, é bom lembrar, não puniu absolutamente ninguém.

Fora todos!
Governo, Congresso e oposição burguesa estão se aproveitando do clima de impunidade que paira em Brasília para livrar a cara de todos os mensaleiros. A maior crise política dos últimos anos poderá acabar com a cassação de apenas meia dúzia de parlamentares. Por isso, o PSTU reafirma a bandeira do “Fora Todos”. Contra o acordão, devemos construir uma alternativa dos trabalhadores e da juventude à crise.

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