Um fato novo é o surgimento das organizações guerrilheiras árabes com apoio de massas, que mostram a capacidade de golpear o exército israelense em seus postos militares, matar e seqüestrar soldados sionistas, e atacar cidades israelenses, pela primeira vez em 25 anos. Atingem, dessa forma, um nível militar muito superior aos atentados suicidas. Ao mesmo tempo, as lutas contra Israel tendem a se unificar, como mostram claramente os processos na Palestina e no Líbano. Estas ações questionam o “Estado gendarme” no terreno em que mais lhe dói: o campo militar.

Este questionamento é o que explica a “desproporção” da resposta, quer dizer, de sua ferocidade, tanto nos territórios palestinos como na guerra total que desatou contra o Líbano. Contudo, ao fazê-lo, Israel realiza uma aposta muito alta, pois unifica toda a sua população em torno desta guerra. Uma clara vitória fortaleceria, evidentemente, Israel. Mas uma nova derrota no Líbano, ou uma “vitória de Pirro”, pode abrir uma grave crise no “Estado gendarme”.

O curso da guerra
O objetivo mais estratégico dos ataques israelenses ao Líbano é a destruição ou, pelo menos, o desarmamento, do Hizbollah. Até agora, a maioria dos ataques israelenses se realizou através de bombardeios aéreos. Mas apesar da imensa destruição que provocaram seus ataques, as notícias dos jornais indicam que o Hezbollah mantém sua capacidade de ação militar e alcançam objetivos em território israelense.

Por isso, Israel teme em iniciar os ataques terrestres, muito mais difíceis e custosos e com mais baixas de soldados. Todos os analistas coincidem que, para destruir o Hezbollah, Israel necessitaria invadir e ocupar totalmente o Líbano, e assassinar milhares de libaneses. Uma alternativa extremadamente difícil no atual contexto político-militar da região, como já assinalamos, é uma aposta de alto risco.

Saindo pela culatra
Todavia o objetivo mais tático de Israel (recuperar os reféns ou obrigar o Hezbollah a devolvê-los) parece difícil de acontecer. Sua política de “guerra total”, com a ameaça de “se defendem o Hezbollah pagaram as conseqüências”, busca isolar esta organização e levar as outras forças políticas libanesas a pressioná-la. Contudo, tais ameaças estão se voltando contra Israel, pois já unem todos os libaneses contra os ataques sionistas. Isto transformou o Hizbollah na vanguarda da luta para defender o país.

Por exemplo, a imprensa informa que a destruição de um navio torpedeiro israelense por um míssil lançado pelo Hizbollah foi festejado em todos os bairros de Beirute. O apoio popular fez com que muitos políticos libaneses contrários ao Hizbollah e ligados ao imperialismo, como o ex-presidente cristão Michel Aoun, declararem que “é hora de unir o povo contra a agressão”. Outros, como o dirigente da nacionalidade drusa Whalid Jumblatt, começaram a atacar o Hizbollah, acusando-os de “executar no Líbano um plano sírio-iraniano destinado a impedir que o país recupere sua independência e (…) e a transformá-lo no único campo de batalha contra Israel”.

Rumo a uma guerra total?

A situação, entretanto, pode se aprofundar e avançar muito além do que assistimos hoje, uma vez que Israel está desenvolvendo de fato uma guerra contra o Líbano. Mas, até agora, o Hizbollah é a única força que respondeu política e militarmente à agressão, sem que o governo ou o parlamento libanês tenham se definido com clareza sobre a defesa do país.

Diante de uma invasão israelense, o primeiro-ministro libanês declarou: “asseguro que, se Israel invadir o território, o exército defenderá a nação”. Apesar do exército libanês não ser uma força militar efetiva, este fato mudaria qualitativamente a situação, porque deixaria de ser “um ataque de Israel contra o Hizbollah” para ser uma guerra aberta entre os dois países, em que o país agredido é parte da comunidade árabe e do mundo muçulmano.

Isto deixaria sem nenhuma margem de indefinição outros países da região, em especial a Síria, que possui tradicional influência na política libanesa, e o Irã, que tem grande influência sobre o Hizbollah.

A situação atual já começou a sacudir a região, com grandes atos de massas de repúdio a Israel e em apoio ao Líbano.

Buscando alternativa
Os graves riscos que a situação implica geram uma busca de políticas distintas por outros países imperialistas. Apesar dos governos europeus terem se colocado ao lado de Israel e exigirem o desarmamento do Hizbollah, alguns, como o da França, querem pôr algum freio na política sionista. Por isso, fizeram declarações sobre a “reação desproporcional” de Israel e lançaram a proposta de uma “força de intervenção” da ONU no Líbano. Até agora, o governo dos EUA se opôs a tal proposta e prefere dar mais tempo para a ação militar de Israel.
Não podemos descartar que, num futuro próximo, uma “força de paz” da ONU passe a ser o instrumento central da política imperialista, seja para dar respaldo após um triunfo militar, ou para “juntar os cacos”, se o curso da guerra lhe for desfavorável.

A luta na Palestina
Neste cenário, aumentam as dificuldades para que o governo de Olmert possa implementar a “solução final do problema palestino”. Quer dizer, a “separação unilateral” através do “muro da vergonha” entre Israel e um suposto “estado palestino”, um arquipélago de pequenos territórios sem conexão entre si e sem nenhuma viabilidade econômica.

O triunfo eleitoral do Hamas já questionava este plano e, agora, as ações do Hizbollah deram novo fôlego à resistência palestina. Uma derrota israelense no Líbano colocaria num plano totalmente distinto a situação na Palestina: isolaria muito mais a ala capituladora de Mahmud Abbas e resultaria em mais pressão para a direção do Hamas, com um ânimo tremendamente fortalecido dos lutadores palestinos.

A verdadeira solaução
Novamente, fica demonstrado que o problema de fundo do conflito militar permanente no Oriente Médio é a política imperialista de “controle armado” da região, e a existência de Israel como “Estado gendarme” a serviço dessa política.

Não haverá paz no Oriente Médio até que o imperialismo seja derrotado no Iraque e no Afeganistão. Do mesmo modo, até que o Estado de Israel seja destruído, como parte da derrota do imperialismo. A tarefa de todos os lutadores e revolucionários é contribuir para a derrota de Israel. Isto significa apoiar os povos iraquiano e afegão contra as tropas imperialistas ocupantes, e apoiar os povos palestinos e libaneses contra o exército israelense.
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