Diante de toda a bandalheira oficial e do descaramento generalizado dos políticos tradicionais no horário eleitoral gratuito, existem companheiros e organizações que estão defendendo o voto nulo nestas eleições. Achamos que essa posição é um erro grave, sobretudo quando vem de ativistas ou organizações combativas, com os quais sempre estivemos lado a lado nas lutas.

Esse posicionamento ultra-esquerdista se baseia em um atraso na consciência coletiva dos trabalhadores: o rechaço a todo tipo de organização, a negação de toda política e de todos os partidos políticos, sem exceção. “Não há alternativas”, dizem esses grupos. Nada mais falso. As atuais eleições se caracterizam exatamente pelo fato de que a Frente de Esquerda, que não é financiada pelo capital internacional e que é defendida por uma amplíssima camada de ativistas e lutadores de todo o país, conta com o apoio de nada menos do que 10 milhões de pessoas e está conseguindo quebrar a falsa polarização entre os dois candidatos principais da burguesia. Dizer que “são todos iguais” é mentir aos trabalhadores e apostar na apatia e na desmoralização.

Por que o voto nulo é prejudicial aos trabalhadores
A defesa do voto nulo hoje significa, em primeiro lugar, o fortalecimento direto e imediato do candidato mais bem colocado, no caso, Lula, que, com a queda no número de votos válidos, estaria em melhores condições de vencer as eleições ainda em primeiro turno e com isso mais fortalecido para implementar seus planos de ataque à classe trabalhadora.

Mas não é só isso. O voto nulo representa o desprezo pela consciência da classe trabalhadora e a abstenção total na disputa política com o governo e seus agentes.

Os companheiros que defendem o voto nulo querem falar aos trabalhadores, mas se recusam a falar em um idioma inteligível. Preferem exercer sua verdade suprema e absoluta, ao invés de dialogar com os trabalhadores de forma que estes os entendam e possam avançar em sua consciência. Ou os companheiros caracterizam que o voto nulo será um fenômeno de massas nestas eleições? Segundo as últimas pesquisas, o voto nulo só decaiu de julho para cá, passando de 9% para 6%. Essa é a amarga verdade: as massas, embora desprezem e odeiem a maioria dos políticos, vão às urnas e elegerão candidatos, a maioria deles ligados aos interesses das classes dominantes. Por isso o voto nulo perde peso a cada dia. À medida que se aproximam as eleições, cresce a pressão pelo voto útil e pelo “mal menor”. Por isso o voto nulo, repleto de boas intenções, acaba fortalecendo um dos dois pólos burgueses.

A Frente de Esquerda é progressiva ou não?
Por não querer a volta do PSDB, um setor ainda majoritário da classe trabalhadora vai optar pelo ex-peão Lula. O que dirão a estes trabalhadores os companheiros que defendem o voto nulo? Que de fato não há nenhuma alternativa aos dois irmãos siameses? Com isso esperam combater o regime de democracia dos ricos? Esperam ganhar a consciência da classe trabalhadora para uma ação independente? Mera ilusão. Sem vislumbrar uma alternativa eleitoral clara, esses trabalhadores acabarão votando em Lula como “mal menor”, ou mudarão seu voto para Alckmin.

Os companheiros que defendem o voto nulo devem responder: é progressivo ou não que 10% da população adulta do país vote numa frente de esquerda que combate o governo e a oposição burguesa? É progressivo ou não que esses 10% tenham rompido com Lula e não tenham voltado aos braços do PSDB? Como os companheiros esperam ser ouvidos e entendidos por esses 10 milhões de homens e mulheres trabalhadores?

Passadas as eleições, a ultra-esquerda dirá que os 5% ou 6% de votos nulos foi fruto de sua “ampla campanha”. Mentira. Somente uma ínfima minoria dessa minoria de 5% terá anulado o voto pela campanha destes grupos. A maior parte o fará por pura falta de alternativa. O voto de protesto hoje é o voto na Frente de Esquerda, nos candidatos socialistas e revolucionários do PSTU e também em Heloísa Helena para presidente, porque é a expressão material de uma ruptura com o PT, com a direção histórica da classe trabalhadora brasileira. É por isso que o voto nulo significa, ao invés do combate, uma rendição, uma capitulação ao regime, que, sem uma candidatura de esquerda em oposição às demais, só sairia fortalecido.

Como o terreno das eleições burguesas é adverso, repugnante e mesquinho, não participar sempre parece ser a alternativa mais correta. Mas isso não é assim. Os revolucionários não escolhem o terreno, nem as condições da luta. Lutam no terreno que é dado.

Nosso objetivo é ganhar a consciência da classe trabalhadora para a destruição do sistema capitalista e seu regime de eleições sujas e fraudulentas. E, até que a própria classe não tenha rompido com o regime democrático-burguês e não tenha construído sua própria alternativa de poder, os revolucionários têm o dever de participar dos processos eleitorais e disputar aí os corações e mentes das massas oprimidas e exploradas.

O que queremos nas eleições?
A propaganda burguesa sobre a incapacidade dos trabalhadores de gerirem sua própria vida e de governarem o país é tão poderosa que o operário médio, muitas vezes combativo e de esquerda, olha um governo como o de Lula, onde convivem trabalhadores e patrões, e acha certo que seja assim porque, afinal de contas, “é a única forma de se chegar lᔠou “a única forma de se fazer alguma coisa”. O voto nulo, em tais condições, somente reforça essa idéia de impotência e submissão.

O PSTU, ao contrário, afirma de maneira categórica: há uma alternativa! Não é necessário nem inevitável que mais uma vez os trabalhadores votem nos patrões ou em burocratas traidores e degenerados.

Há uma Frente de Esquerda, oposta aos dois principais campos burgueses e que se apresenta como uma alternativa. Há homens e mulheres, operários e funcionários públicos, bancários e estudantes que se apresentam como representantes daquilo que a classe trabalhadora em geral tem de melhor: sua capacidade de organização, sua valentia e sua teimosia em lutar.

Defender o voto nulo é ignorar esse fato da realidade. É falar em idioma que não tem nada a ver com o atual grau de consciência da classe trabalhadora. É entregar as armas e fortalecer os candidatos burgueses e degenerados. É por isso que o voto nulo é um enorme erro político.

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