Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF
Ag Brasil

Na manhã desta segunda-feira, 12 de março, foi anunciada a tão esperada renúncia de Ricardo Teixeira da presidência da CBF e do COL, o comitê organizador da Copa do Mundo no Brasil. Não bastassem os escândalos e CPI’s que o obscuro cartola coleciona desde 1989 – quando assumiu o controle da entidade – nos últimos tempos entrou em rota de colisão com o governo brasileiro, uma vez que a presidente Dilma percebeu que a sua imagem poderia ser arranhada, dada a contradição entre o desprestígio que o dirigente goza perante a sociedade e o fato de ele ser o responsável por organizar o principal evento a ser realizado no Brasil nos próximos anos.

Em seu lugar, assume José Maria Marin, ex-governador biônico da época da ditadura militar, do qual temos como última notícia o momento no qual foi flagrado pelas câmeras da TV , guardando discretamente uma medalha no seu bolso, durante a premiação da Copa São Paulo de Futebol Júnior no inicio do ano.

A Ditadura de Teixeira
Nos últimos vinte e três anos, o futebol brasileiro foi responsável pela revelação de jogadores do porte de Ronaldo, Rivaldo, Edmundo, passando por Ronaldinho Gaúcho e Robinho, chegando, mais recentemente, a Neymar e Ganso. Nesse período, esses jogadores, junto a tantos outros, ajudaram o Brasil a ganhar duas Copas do Mundo, inúmeras Copa América, enquanto eram considerados os melhores jogadores de futebol do mundo. Depois de tudo isso, sabe o que restou de legado para o futebol brasileiro? Absolutamente, nada! Hoje temos clubes falidos sobrevivendo às custas da Rede Globo e do Governo Federal; campeonatos estaduais que levam 10.000 pagantes para os clássicos, uma seleção brasileira que conseguiu o que parecia impensável há anos atras: não ser uma das principais favoritas para a conquista da próxima Copa do Mundo que, aliás, sera realizada aqui no Brasil. Isso sem falar na estrutura dos clubes brasileiros, amadora comparada a das principais equipes do mundo, o que fica claro quando vemos o melhor time brasileiro, o Santos, enfrentando o melhor time espanhol, o Barcelona, e levando um baile digno de profissionais contra amadores.

A situação alarmante em que se encontra o futebol brasileiro não ocorre por acaso. Todo o lucro, sucesso e paixão que envolvem o esporte mais querido do Brasil vai parar na conta bancária de Ricardo Teixeira e de seus aliados, não restando um tostão para ser investido nos atletas e clubes, sem contar a situação de semiescravidão em que vivem boa parte dos jogadores de futebol espalhados pelos times pequenos do Brasil.

Todo esse drama se desenrola sob o olhar complacente de todos os governos brasileiros entre 1989 e 2012, de Sarney a Lula, permanecendo assim com Dilma. Vale lembrar que o desgaste sofrido por Ricardo Teixeira em relação ao governo Dilma apenas se deu após ele ser considerado um criminoso por parte de toda a mídia esportiva internacional, e passar a ser alvo de protestos em várias capitais do pais, a partir do movimento “Fora Ricardo Teixeira”.

O Movimento Fora Ricardo Teixeira e a queda
Em 2011 surgiu um movimento inédito na história do futebol brasileiro, chamado ‘Fora Ricardo Teixeira’. Foi a primeira vez que torcedores independentes, jornalistas, intelectuais e até mesmo as torcidas organizadas se uniram para travar uma batalha política pela defesa do futebol brasileiro e , principalmente, contra o saque das riquezas dos brasileiros sob a fachada da Copa do Mundo de 2014. Inclusive, em agosto desse mesmo ano foi aprovado pela Confederação Nacional das Torcidas Organizadas a campanha “Copa com Prestação de Contas e sem Ricardo Teixeira”.

O movimento se expressou pela internet e através de faixas em todos os principais estádios brasileiros clamando “Fora Ricardo Teixeira!”, no fechamento do primeiro turno do Campeonato Brasileiro de 2011. Obviamente, a Rede Globo se esforçou para boicotar o movimento, optando por não mostrar a festa das torcidas, como é de praxe nos clássicos. Porém, essa atitude autoritária não conseguiu impedir a repercussão da manifestação mundo afora.

É muito importante afirmar, portanto, que a mobilização dos torcedores foi fundamental para garantir o enfraquecimento do principal mandatário do futebol no país. E, claro, que contribuiu pra isso o conflito de interesses entre a CBF e o governo, quanto a quem seriam as empresas beneficiadas com os bilhões de dinheiro público que estão sendo usados em nome da Copa. Porém, um problema que poderia ter sido resolvido nos bastidores da política precisou vir à tona, devido à repercussão das manifestações nos estádios brasileiros e pela internet.

O que esperar da CBF sem Teixeira
A queda de Ricardo Teixeira é uma vitoria para todos os brasileiros, torcedores ou não de futebol, pois trata-se do enfraquecimento de um déspota que manipulava os bastidores do futebol e da política em beneficio próprio, às custas de muito dinheiro publico. Porém, se é verdade que vencemos essa batalha, estamos longe de termos ganhado a guerra.

José Maria Marin, homem que assume a presidência da CBF, não bastasse ser amigo de Ricardo Teixeira, teve ao longo da vida como principal aliado político Paulo Maluf, desde os terríveis tempos da ditadura. Inclusive, de tão amigo da caserna, foi governador biônico do estado de São Paulo por quase um ano (escolhido pelos generais). Ou seja, não é o tipo de figura que mereça um milímetro da confiança dos trabalhadores brasileiros. Manterá o mesmo regime autoritário imposto pelo seu antecessor, alem de impor aos torcedores a dependência em relação a Rede Globo para poder acompanhar seus times, uma vez que é ela quem escolhe o formato do campeonato e o horário das partidas.

A Mina de Ouro da Copa
Ricardo Teixeira acumulava o comando da CBF com o comando do COL, órgão responsável pela gestão das obras e organização da Copa no país. Isso significa que o mesmo homem que está sendo acusado de evasão de divisas, suborno no âmbito da FIFA, favorecimento a familiares em contratos com a CBF e COL, era o responsável por controlar os bilhões envolvidos nas obras do evento.

A Copa se anuncia como um dos maiores assaltos da história dos cofres públicos brasileiros, desviando verbas da educação, saúde e mesmo do estimulo aos atletas, para a construção de elefantes brancos, a fim de agradar as maiores empreiteiras do mundo. Ao contrário do que esperavam boa parte dos brasileiros quando do anúncio da realização da copa no Brasil, essa só tem se mostrado vantajosa para as empreiteiras e especuladores imobiliários.

Assistimos, em janeiro, ao ataque da polícia do PSDB aos moradores do Pinheirinho, em São José dos Campos, assim como temos notícias de que ate agora ocorreu a remoção de mais de 70.000 famílias em decorrência das obras para a copa. São José dos Campos está na rota das grandes obras para a Copa e as Olimpíadas, por conta da previsão de uma parada do trem bala que ligaria São Paulo ao Rio de Janeiro. Por isso, passa por um momento de supervalorização dos imóveis, expulsando os trabalhadores pobres para cada vez mais longe dos seus trabalhos e do centros da cidade. Ainda falando em centro da cidade, também não é coincidência a expulsão dos usuários de crack da região da Cracolândia, em São Paulo. Esse ataque também é parte da especulação imobiliária que visa tornar o centro de São Paulo livre dos pobres e miseráveis, de uma forma bastante lucrativa.

Todas essas considerações devem vir acompanhadas de uma informação muito importante para todos os brasileiros: as mesmas empreiteiras que serão as únicas beneficiadas com a Copa do Mundo no Brasil, são as financiadoras das campanhas eleitorais tanto dos governos do PSDB, quanto dos governos Dilma e Lula. Sim, mais uma vez, não se trata de uma coincidência.

Por uma Copa no Brasil para os brasileiros
É muito importante que a campanha “Copa com Prestação de Contas e sem Ricardo Teixeira” ganhe as ruas e siga recebendo o apoio dos torcedores e trabalhadores que não aceitam que o dinheiro que deveria ser investido em educação, na saúde e na infraestrutura das cidades, a fim de combater o caos urbano das grandes metrópoles brasileiras, seja entregue de bandeja para as construtoras erguerem estádios que não fazem a menor falta para os torcedores e trabalhadores do pais. Para isso, é importante que as torcidas organizadas deem visibilidade a essa campanha nos estádios Brasil a fora.

Também é importante que o movimento avance para a democratização do controle do futebol no Brasil, a fim de que o torcedor seja não apenas um espectador, mas dite os rumos do esporte no país. Apenas assim será possível derrotar não só Ricardo Teixeira, mas toda essa política que rouba o futebol dos brasileiros.

LEIA MAIS

  • Lei Geral da Copa: cartão vermelho para a soberania