A crise anterior, em 2000-2001, teve pesadas conseqüências para a América Latina. A Argentina, por exemplo, que era um símbolo do neoliberalismo, retrocedeu brutalmente, perdendo parte importante de sua indústria.

No entanto, a economia dos países imperialistas (que geraram a crise) sofreu pouco. A queda do PIB nos EUA foi só de 0,4%, e a recessão durou menos de um ano.
Para sair da crise, o imperialismo norte-americano aumentou fortemente os gastos armamentistas (financiando as invasões do Iraque e do Afeganistão), reduziu a taxa de juros a praticamente zero e cortou os impostos das grandes empresas. Assim, conseguiu sair rapidamente da crise, mas ao custo de ampliar as contradições que agora estão explodindo.

Foi neste processo que a especulação imobiliária foi facilitada (com financiamentos com juros baixíssimos). E é isto que, agora, está vindo abaixo. O corte de impostos e o aumento dos gastos militares aumentaram, em muito, os déficits da economia dos EUA, que hoje dependem de um fluxo de empréstimos de dois bilhões dólares por dia para manter a economia funcionando.

Como vimos, é a evolução da taxa de lucros que determina os ciclos da economia. Mas as crises não são iguais umas às outras. E o grau de parasitismo financeiro acumulado em nível mundial pode, agora, agravar enormemente a crise cíclica.
A gigantesca montanha de capital financeiro existente no mundo se originou de uma parte da mais-valia que os capitalistas preferiram aplicar na especulação e não na produção. Mas, a partir daí, existiu um descolamento crescente deste capital da produção real, gerando o “capital fictício”. Só a produção real gera valor, e os ganhos do capital fictício são um jogo de soma zero (se alguém ganha, outro tem que perder). Quanto mais cresce, maior será a queda. Só o mercado de derivativos (um das formas de especulação) era, em 2006, seis vezes maior que o PIB mundial.

A crise do mercado imobiliário norte-americano é ilustrativa. Novas casas eram vendidas com taxas de juros baixíssimas e os bancos usavam as hipotecas como títulos, vendidos nos mercados financeiros. O negócio, aparentemente rentável a todos, se assemelha às “pirâmides” conhecidas por nós. Os lucros fictícios alimentavam valorizações irreais nas bolsas de valores. Porém, o castelo de cartas começou a ruir quando os tomadores de empréstimos começaram a não pagar mais suas dívidas.
Agora os grandes bancos norte-americanos, europeus e japoneses estão em crise aberta e já perderam US$ 353 bilhões em valor de mercado (pela queda nos preços de suas ações). Além disso, os prejuízos destes grupos já chegam a US$ 120 bilhões e podem alcançar US$ 500 bilhões em 2008.

É possível que esses bancos não tenham capital para bancar essas perdas e existe a possibilidade de falências e crises bancárias sem precedentes no pós-guerra. George Soros, por exemplo, um conhecedor do assunto (por ser ele próprio um dos maiores especuladores do mundo) afirma que essa crise será a maior desde a segunda Guerra Mundial.

Quais são as perspectivas?
A dessa gravidade da crise já está definida de antemão? Não. Os governos imperialistas têm um arsenal de instrumentos para tentar diminuí-la ou repassá-la para os países dependentes. Mas essas ações têm um limite, exatamente pelo agravamento das contradições acumuladas ao sair da crise de 2000-2001.

Até agora, o efeito das medidas têm sido muito pequeno. O governo Bush lançou um pacote de US$ 145 bilhões para retomar o crescimento. No dia seguinte, as bolsas de todo o mundo caíram fortemente. O Banco Central dos EUA cortaram os juros em 0,75% e Bush chegou a um acordo com o congresso para impor medidas econômicas. As bolsas reagiram positivamente por dois dias, para retomar a queda logo depois.

Está claro, portanto, que a crise começou. Mas não há certezas sobre suas perspectivas. Mesmo assim, é importante considerar, desde já, a possibilidade de que ela tenha uma gravidade bem maior que a de 2000-2001.

O crescimento econômico dos últimos seis anos foi um importantíssimo fator político de estabilidade para governos como o de Lula (assim como da ditadura chinesa). Agora tudo isso está questionado.

Não existe uma relação automática entre crises econômicas e ascensos revolucionários. Vários fatores interferem na evolução das classes sociais em luta, como a dimensão das mobilizações, o peso das direções, etc.

Mas é inegável que a crise anterior (2000-2001) esteve na base de grandes comoções na América Latina, como as insurreições que derrubaram governos na Argentina, Equador e Bolívia, assim como na vitória eleitoral dos governos de “centro-esquerda” (como Lula e Evo Moralez). Agora, as crises políticas cairão no colo desses governos e da democracia burguesa.

A evolução da luta de classes também interfere na dinâmica econômica. A resistência iraquiana, por exemplo, colocou claros limites à exploração do petróleo pretendida pelo governo Bush. A não concretização da Alca também afetou a pretendida ampliação dos lucros das empresas norte-americanas.

É possível que, mais do que a uma nova crise cíclica, estejamos assistindo ao início de um novo período de grandes comoções sociais e políticas em todo o mundo.

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