Muitos dos que apóiam o povo palestino e repudiam os crimes israelenses também se opõem à necessidade de “destruir o Estado de Israel”. Afirmam que, como na Palestina há dois povos diferentes (palestinos e judeus), devem existir dois Estados independentes. A LIT-QI opõe-se a essa proposta. Afirmamos que a única solução é a velha bandeira da OLP (a criação de uma única Palestina laica, democrática e não racista, onde convivam em paz árabes e judeus). Para isso, é preciso destruir o Estado de Israel, principal causa do conflito.

Quem defende os “dois Estados”, parte de três erros: a) a existência histórica de “dois povos” com direitos históricos equivalentes; b) não leva em conta a verdadeira essência do Estado de Israel (um enclave militar imperialista de caráter racista contra os povos árabes), e c) a total inviabilidade de um Estado palestino “independente” nas atuais condições.

Dois povos?
É uma grande falsificação histórica a existência de dois povos “com direitos equivalentes” na Palestina. Em 1918, três em cada quatro habitantes eram árabes. Os judeus tinham apenas 5,5% das terras e não aspiravam a nenhum Estado próprio. A convivência de séculos era absolutamente pacífica.

Foi o sionismo, corrente judaica européia fundada por Teodoro Hertz, no fim do século XIX, que começou a reivindicar o suposto direito bíblico dos judeus sobre a Palestina, para fundar a “pátria nacional de Israel”, sem se importar com o fato de que ali havia um povo árabe radicado havia séculos. Apoiado por ricas famílias judias européias e setores imperialistas, o sionismo alentou a emigração de judeus para a Palestina, financiou a compra de terras e criou grupos armados de “pressão”. Em 1947, os judeus eram 40% da população.

A criação de Israel
A ONU, com a teoria dos “dois povos”, criou o Estado de Israel em 1947 e lhe entregou 55% da Palestina, com o apoio do imperialismo, a concordância do stalinismo, e legalizou a usurpação dos direitos palestinos. Com a suposta intenção de dar um lugar aos sofridos refugiados judeus da II Guerra, criou-se um enclave imperialista contra a nascente onda revolucionária antiimperialista árabe, em meio a uma região estratégica por suas reservas petroleiras. Em 1948, as organizações armadas sionistas invadiram parte do território outorgado aos palestinos e se apropriaram de mais 20%. Na aldeia de Der Yasin, por exemplo, assassinaram 254 de seus 700 habitantes. Mais de 800 mil palestinos (um terço da população) foram expulsos, dando origem ao drama dos refugiados. Os palestinos ficaram reduzidos a Jerusalém Oriental, Gaza e Cisjordânia, territórios que seriam ocupados diretamente por Israel em 1967. Defender o direito à existência do Estado israelense significa, de fato, aceitar essa história de “usurpação armada”.

Um estado racista
O racismo sionista manifesta-se claramente nas leis que definem Israel como um “Estado judeu”. A “lei do retorno” estabelece que todo judeu que viva em Israel tem direito à cidadania, mesmo que tenha nascido em qualquer parte do mundo. Com essa lei, milhões de judeus conseguiram a cidadania. Os não judeus não têm esse direito, mesmo que tenham nascido em território israelense, como ocorre com muitos palestinos. Toda corrente que proponha mudar esse caráter do Estado de Israel fica proibida de concorrer nas eleições. A legislação racista completa-se com a lei da propriedade das terras agrárias: os não judeus são proibidos de comprar terras, justamente para impedir que os árabes tenham terras em Israel. É uma legislação similar à do apartheid sul-africano ou à da Alemanha nazista. Aceitar a existência do Estado sionista significa, então, aceitar sua essência racista.

Um Estado gendarme
Israel é a quinta potência militar mundial. Seu poder de fogo (aviões de combate, mísseis, helicópteros, tanques e mais de 200 ogivas nucleares) é muito maior que o de qualquer país, incluindo os EUA, considerado per capita. Além disso, é um dos maiores fabricantes de armas e um dos principais exportadores. Esse poderio militar é claramente financiado pelos EUA (envia bilhões de dólares anuais para isso) e os países da UE que compram 80% de suas exportações de armas.

Um velho argumento diz que Israel teve de armar-se porque vive rodeado de “países árabes inimigos”. A desculpa hoje é indefensável: desde 1973 nenhum país árabe ataca Israel, mas este se arma cada vez mais. Na verdade, esse poder militar está direcionado, em primeiro lugar, contra o povo palestino e, em segundo lugar, é uma ameaça constante contra a luta dos povos árabes, como mostrou a invasão do Líbano em 1982, ou os ataques com mísseis contra o Iraque, em 1991. Israel é basicamente uma “fortaleza armada do imperialismo”.

Que Estado palestino?
Israel possui 78% do território e, com a “separação unilateral”, tenta ficar com 85%. Nessas condições, um “Estado palestino independente” é totalmente inviável: formado por “ilhas” sem comunicação entre si e sem base econômica, porque Israel se apropriou das melhores terras e dos rios da Cisjordânia. De fato, se negaria o direito de retorno aos emigrados palestinos, já que suas terras foram apropriadas por Israel e não existe nenhuma possibilidade real de que se viva em Gaza e Cisjordânia. “As fronteiras de 1967” pouco mudariam essa situação.

A divisão de 1947, sancionada pela ONU, também não seria uma solução. Deixemos de lado, por um momento, o fato de que isso legaliza a usurpação sionista. No conjunto da Palestina vivem hoje 9,5 milhões de pessoas: 53% judeus e 47% árabes. Se somarmos os emigrados palestinos, chegamos a 5 milhões de judeus e 8,5 milhões de árabes. Os sionistas aceitariam uma divisão proporcional do território e das terras produtivas? A realidade mostra que sua resposta seria uma total negativa. Ou seja, qualquer alternativa relativamente racional de “dois Estados” requer uma grande derrota de Israel. Mas se não for destruída a essência racista e de enclave militar imperialista do Estado sionista, assim que tenha condições, voltará a tentar recuperar o que perdeu, e o conflito renascerá.

A política dos “dois Estados” aparece, então, como uma variante “de esquerda” das propostas das potências imperialistas. Da mesma forma que deveria destruir o “Estado do apartheid” para que houvesse paz na África do Sul, ou liquidar o Estado nazista na Europa, durante a II Guerra Mundial, não há outro remédio: sem destruir o Estado de Israel não haverá paz no Oriente Médio. Pode existir uma Palestina laica, democrática e não racista, onde convivam em paz árabes e judeus? A experiência histórica mostra que, derrotando o sionismo, essa é a única alternativa possível.
Post author Alejandro Iturbe, da LIT-QI
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