A partir deste apoio incondicional à luta do povo palestino, queremos analisar mais profundamente a política do Hamas, organização que reconhecemos como a direção das massas palestinas da Faixa de Gaza.

Esta política teve profundas contradições. Por um lado, o Hamas respondeu corretamente, com ações de luta, às recentes agressões do sionismo e de seus agentes palestinos e árabes (Abbas, Al Fatah e o governo egípcio), libertando primeiro a Faixa de Gaza, de onde continua atacando Israel com foguetes, e agora rompendo o bloqueio na fronteira com o Egito. Essas ações trouxeram ao Hamas um imenso prestígio entre os palestinos e os povos árabes.

Mas, ao mesmo tempo, o Hamas lançou permanentes chamados à conciliação com Abbas e o Fatah e mostrou sua disposição a aceitar uma trégua de fato com Israel. Ou seja, uma política destinada a alcançar uma situação que lhe permita co-governar os territórios da atual ANP ou, pelo menos, conseguir um mini-estado na Faixa de Gaza, dirigido por eles. Uma política que mostra, por um lado, o caráter burguês e as profundas limitações da direção do Hamas.

Por outro lado, é totalmente absurdo pensar que a terrível situação dos palestinos possa ser superada apenas mantendo o controle sobre Gaza. A história demonstrou várias vezes que os problemas sociais de uma nação economicamente atrasada não podem ser resolvidos dentro das fronteiras nacionais. Diante disso, a perspectiva de solução para os problemas da Palestina resulta ainda mais impossível se a considerarmos restrita a um pequeno território, quase sem base produtiva e de infra-estrutura de serviços, como é a Faixa de Gaza.

Por isso, a recuperação da totalidade do território palestino não é só um objetivo histórico, mas também um primeiro passo imprescindível para começar a resolver essa situação. O que leva, sem alternativas, à necessidade de destruir o Estado de Israel.

É esta perspectiva estratégica que impõe as tarefas mais urgentes. Em primeiro lugar, é necessário derrotar os agentes de Israel e do imperialismo infiltrados entre o povo palestino, como Abbas e Al Fatah. Em segundo lugar, é preciso chamar o conjunto dos povos árabes à luta para derrotar os governos pró-imperialistas da região, especialmente a ditadura de Mubarak. De modo imediato, está colocada a possibilidade de que essa mobilização imponha ao governo egípcio a abertura permanente da fronteira com Gaza e o fornecimento de alimentos, medicamentos e combustível. Também está colocada a necessidade de que a mobilização exija de governos como o da Síria que deixem de respaldar acordos como o de Annapolis e apóiem de modo efetivo a luta dos palestinos.

A atual situação da Faixa de Gaza apresenta duas alternativas possíveis. A primeira é que vitórias parciais como a libertação do território ou a ruptura da fronteira conduzam a uma coexistência temporária. Uma situação que, como ensina a experiência, será rapidamente rompida por Israel e seus agentes palestinos, com novos ataques. A outra, é que essas vitórias sirvam de impulso a uma grande mobilização conjunta dos povos árabes e muçulmanos que permitirá avançar na luta pela destruição do Estado de Israel.

Por uma grande campanha de solidariedade ao povo palestino

Em uma política que lembra a ação nazista frente ao Gueto de Varsóvia, o governo israelense, para conseguir seus objetivos, pretende fazer com que milhares de palestinos morram de fome ou de enfermidades.

Não podemos permanecer passivos frente a esta nova ação genocida de Israel na Faixa de Gaza. Por isso, é necessário desenvolver uma grande campanha internacional de solidariedade e apoio ao povo palestino para romper o bloqueio e obrigar Israel a suspendê-lo. Acreditamos que também se deve exigir do governo egípcio que abra de modo permanente a fronteira com Gaza e forneça aos palestinos que entram no país os elementos de que necessitam para sobreviver.

Para a LIT-QI, também devemos exigir dos governos de todos os países que, em resposta à criminosa ação israelense, decretem um boicote de exportações a Israel, até que acabe o bloqueio a Gaza. A ação das organizações sindicais, promovendo ações neste sentido, é muito importante.

Algumas manifestações já começaram a se desenvolver na Espanha, com atos e manifestações em diversas cidades, e também na Argentina e em outros países. Saudamos também a ação conjunta realizada entre palestinos e israelenses com esta reivindicação (quadro abaixo). Devemos estender esses exemplos a todo o mundo.
Todas as organizações operárias e de esquerda e aquelas que se reivindiquem democráticas e humanitárias devem participar desse chamado para quebrar o bloqueio israelense e salvar a vida de milhares de palestinos.

Rompamos o criminoso bloqueio israelense-egípcio!

Solidariedade e apoio ao povo de Gaza!

Secretariado Internacional da LIT-QI

Uma ação conjunta muito importante

A política genocida do governo de Israel começou a provocar a reação de um setor da população e de organizações da esquerda israelense. Pela primeira vez em muitos anos, foi realizada uma marcha conjunta de ativistas israelenses e palestinos em direção à passagem de Erez, fronteira norte da Faixa de Gaza com Israel, para exigir o fim do bloqueio e levar alimentos e medicamentos para seus habitantes.

É evidente que, por ora, trata-se da expressão de um setor ainda muito pequeno da sociedade israelense já que sua grande maioria, até agora, apóia a política de “mão dura” com os palestinos. Mas, ainda assim, é um fato de enorme importância, porque, caso se estenda, representará outro “buraco” na política do sionismo.

GLOSSÁRIO

Acordos de Oslo
Em 1993 foram assinados os Acordos de Oslo entre Israel e o líder palestino Arafat, que representou a definitiva cooptação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) por parte do imperialismo norte-americano. No acordo, a OLP reconheceu o Estado de Israel.

Nasserismo
Corrente política de conteúdo nacionalista-burguês criada por Gamal Abdel Nasser, presidente do Egito entre 1954 e 1970.

Bantustões
Espécie de guetos sul-africanos, onde era confinada a população negra durante o regime racista do apartheid.

Sionismo
Movimento político criado no final do século 19, que defendia que o povo judaico tinha o direito de constituir uma nação no local dos territórios palestinos. A partir de 1948, ano da criação do Estado de Israel, o sionismo foi encorajado pelo imerialismo e passou a ser um movimento que incentivava a imigração de judeus para Israel e defendia a expulsão dos palestinos.
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