Diante do horror e da revolta provocada pela matança na Baixada Fluminense, todas as autoridades reagiram indignadas e exigiram a imediata solução do caso. Contudo, nenhuma delas apontou para a real solução do problema.

Tanto o prefeito Lindberg Farias (PT), a governadora Rosinha Garotinho (PMDB) como o governo Lula (através do secretário dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, que acompanhou os enterros) exigiram a punição dos responsáveis, como se não tivessem nenhuma responsabilidade no caso.

Essas declarações caem no vazio na medida em que omitem uma realidade que está por trás de toda e qualquer chacina: são as polícias defendidas por eles próprios os responsáveis por episódios lamentáveis como os Baixada.

Em momentos como este, em que é evidente o envolvimento direto de policiais em chacinas, volta-se a falar em acabar com a “banda podre” das polícias. No entanto, não existe “banda podre”, é o aparato policial de conjunto que está podre. A infiltração do tráfico de drogas no aparelho central das polícias leva a que a ação policial seja muitas vezes contra um determinado grupo de traficantes a favor de outro. Os grupos de extermínio formados por policiais são protegidos pelos comandos, explicando assim a completa impunidade com que atuam.

Não se trata de um ou outro grupo, mas de todo o aparato policial que está corrompido. Este é um dos motivos centrais pelos quais as exigências de “mais polícia” não surtem nenhum efeito. Mais polícia significa mais corrupção e mais violência. Tampouco adianta a intervenção do exército, que logo estará tão infiltrado e corrompido como as polícias.

Soluções para enfrentar a violência contra os trabalhadores

É necessária a dissolução imediata das polícias militar e civil. A população precisa de uma nova polícia, unificada, civil, democraticamente organizada e controlada pela população. Por que a população trabalhadora, a mais afetada e carente de segurança, não pode eleger os delegados que controlem a polícia de um bairro? Por que esses policiais não podem ter direito de sindicalização e de greve? Por que a polícia não é proibida de reprimir manifestações populares, e seja diretamente controlada pela própria população trabalhadora?

De nada adianta “soluções” como o “desarmamento da população” defendida pelo governo. Os bandos de traficantes com armas poderosas não se desarmarão. Os bandidos fardados, como estes que agora fizeram estes assassinatos em série, também não. Ao contrário, utilizaram as armas da própria polícia para o crime.

Seria muito mais efetivo ter a própria população armada através de Grupos de Auto-proteção Comunitários para combater a criminalidade e defender os trabalhadores. Esses grupos seriam controlados pelas associações de moradores, pelos sindicatos, movimentos de moradia sem-teto e entidades de defesa dos direitos humanos e, também, deveriam ser unificados em um Conselho Municipal de Segurança, com atuação em toda a cidade. Os trabalhadores e o povo pobre e majoritariamente negro dos bairros das periferias têm que se defender dos bandidos e da polícia.

Neste sentido, qualquer declaração “indignada”, seja de Lula, Rosinha ou Lindberg, não passa de demagogia, que, lamentavelmente, pode voltar a ser repetida daqui a poucos meses, quando novas chacinas e atrocidades voltarem a acontecer.