A reportagem publicada pelo jornal norte-americano The New York Times (NYT) sobre os supostos excessos alcoólicos do presidente Lula causou um estardalhaço na mídia na semana passada. O artigo, imbuído de uma forte dose de preconceito já que associa o consumo de bebidas alcoólicas ao passado sindical e metalúrgico de Lula, faz parte da mesma campanha de desgaste do governo instrumentada pelos partidos da oposição burguesa no Brasil. A burguesia utiliza Lula para aplicar o plano neoliberal e as reformas que lhes interessam. Mas não deixa de dar suas cotoveladas quando pode, na tentativa de enfraquecer o governo.

A reação de Lula foi típica de um governo em crise. Até hoje, ele tinha feito praticamente tudo que o imperialismo queria: pagar a dívida externa em dia ao FMI e negociar a Alca. Na mesma semana da publicação do artigo, tropas do exército brasileiro começaram a ser treinadas para se juntar ao exército de Bush no Haiti.
No entanto, perante a matéria publicada, decidiu tentar uma jogada de apelo popular, expulsando o jornalista, para mascarar sua submissão às imposições do FMI.
A reação da grande imprensa brasileira foi violenta contra a decisão, dizendo que a expulsão era um atentado contra a liberdade de imprensa, pois foi tomada com base numa antiga lei da ditadura.

Isso detonou mais uma crise no governo. Lula, então, recuou da expulsão, tentando fazer passar como uma “retratação”, a nota do jornalista que solicitava a revisão da medida. O NYT se encarregou de desmentir que tivesse feito qualquer retratação, e reivindicou a “justeza da matéria”.

De todo o episódio, sobram duas lições. A primeira é sobre o cinismo da grande imprensa. Falar em “liberdade de imprensa” nos EUA é uma piada. Os principais meios de comunicação aceitavam até um mês atrás todas as imposições do governo Bush em relação ao noticiário do Iraque. Agora, publicam as fotos da tortura pela divisão inter-burguesa existente. Mas até pouco tempo atrás, nem sequer as fotos dos caixões dos soldados norte-americanos mortos eram publicadas.

Em segundo lugar, o governo saiu mais fraco de todo o episódio. Tentou aparecer forte perante um jornal dos EUA, mas como é completamente submisso ao imperialismo e à burguesia brasileira, não se sustentou nem uma semana. Foi um tiro no pé.

Infelizmente, o governo só é capaz de ser intransigente com o funcionalismo em greve.

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