A outra face da contra-ofensiva dos governistas são os ataques diretos contra o encontro do dia 25 de março, em particular contra a presença, ainda que como observadores, do MST e da Corrente Sindical Classista (PCdoB).

Em seu blog, José Dirceu (que atua como um ministro sem pasta) afirmou sobre o encontro: “Seus organizadores não propuseram nenhuma pauta positiva, apenas uma plataforma contra as reformas trabalhista, previdenciária, sindical e universitária. Quanto às duas primeiras, lutam contra fantasmas criados em sua própria cabeça. Não há qualquer projeto do governo, público ou reservado, que altere as relações trabalhistas ou os direitos previdenciários”.

Depois criticou a presença do MST e da CSC: “O segundo fato que despertou interesse foi a presença do MST e da Corrente Sindical Classista na reunião (…), ao lado da Conlutas, do PSOL e do PSTU. Muito preocupante. O que significa esse comparecimento? Esses setores estão caminhando para romper o bloco democrático-popular forjado nos últimos vinte anos? Vão se juntar aos grupos que identificam no governo Lula e no PT os principais inimigos a serem combatidos?”.

Mentira que repetem a prática do governo
Zé Dirceu utiliza o método do engano, característica do conjunto deste governo, ao negar que exista um projeto de reforma previdenciária. Duas horas antes de negar em seu blog a existência dessas reformas, uma outra nota postada por ele mesmo tinha o título “Volta o debate sobre a Previdência”. Nela, o ex-ministro informa que “muitas propostas querem aumentar a idade para se aposentar por tempo de contribuição, outras transformar o sistema em privado e de capitalização individual, a exemplo do modelo chileno”.

Ou seja, José Dirceu mente conscientemente quando, ao atacar o encontro, nega que exista “qualquer projeto que altere direitos previdenciários”. É tão acostumado ao hábito da mentira, que é capaz de contradizer uma informação dada por ele mesmo.
O ex-ministro repete a mesma prática do governo Lula. Este governo fez uma reforma da Previdência logo no início de seu mandato, mentindo para os trabalhadores das empresas privadas ao dizer que era necessário combater os “privilégios” dos funcionários públicos. Agora quer fazer uma segunda reforma, com o apoio da Rede Globo, dizendo que o Brasil é o país com a aposentadoria mais liberal do planeta e que é necessário combater os “excessos”.

Contra quem vamos lutar?
José Dirceu afirma que é preocupante a presença do MST e da CSC no encontro. Diz ele: “Tenho pleno acordo de que é necessário intensificar a pressão social, como um dos vetores fundamentais para disputar os rumos do governo”. Ou seja, só é possível mobilizar para “empurrar o governo para a esquerda”, porque quem rompe com Lula está “fazendo o jogo da direita”.

Esta postura é típica do stalinismo: é preciso que o movimento social se discipline a um governo burguês, porque se não o fizer estará “se aliando com as oligarquias”. Zé Dirceu chega a comparar essas mobilizações com situações que antecederam os golpes militares contra João Goulart (1964), Salvador Allende (1973) e Hugo Chávez (2002). O stalinismo sempre se opôs violentamente à existência de uma oposição de esquerda a esses governos burgueses. A tragédia é que, quando não existe uma oposição de esquerda construída nas massas, a derrota destes governos termina sendo uma derrota também dos trabalhadores.

O ex-ministro, para justificar essa tese, é obrigado a inventar um “choque entre o governo e as oligarquias”. Trata-se de mais uma mentira. Lula é o principal ponto de apoio na América Latina do mais importante representante das oligarquias de todo o mundo, George W. Bush. O presidente chamou os mais tradicionais representantes das oligarquias, os latifundiários usineiros, de “heróis”. Os banqueiros comemoram lucros históricos com o governo do PT. Por isso, não existe nenhuma ameaça de golpe contra Lula. Ao contrário, o imperialismo e a grande burguesia apóiam o governo, e a oposição de direita está dividida e enfraquecida.

O choque real que existe no Brasil é entre Lula e as oligarquias de um lado, e de outro os trabalhadores. A grande preocupação de Zé Dirceu e outros governistas é que começa a surgir uma alternativa pela esquerda para as lutas, com a Conlutas e o encontro do dia 25.

A resposta do PCdoB
O PCdoB foi obrigado a responder às críticas de Zé Dirceu. Altamiro Borges, da direção deste partido, defendeu a participação da CSC no encontro, pela participação de seis mil lutadores sociais, apesar do “sectarismo” e do “voluntarismo esquerdista” de correntes como o PSTU. O dirigente critica José Dirceu por não reconhecer a proposta do governo da reforma previdenciária e defende o encontro.

Mas o PCdoB afirma a mesma estratégia de Zé Dirceu de “apoio crítico a Lula”. A grande diferença é que, segundo o próprio Altamiro, “os movimentos sociais já perceberam que a disputa de rumos do governo, como propõe o ex-ministro, não se fará apenas nos corredores do Palácio do Planalto”.

O PCdoB é parte do governo, com o Ministério dos Esportes, e dirige a UNE governista. Por isso não se propõe a romper com Lula, mas apenas ser mais “crítico” para evitar que os “sectários” dirijam essas lutas. Por isso, é um dos grandes defensores da mobilização chapa-branca em defesa do veto à emenda 3.

Post author Dirceu Travesso, de São Paulo
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