Imagens da guerra
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Redação

A guerra do Vietnã foi um dos mais impressionantes conflitos armados do século XX. Não só a parte mais conhecida – a guerra revolucionária e de libertação nacional travada pelo povo vietnamita contra os Estados Unidos da América, que entrou para a história, como a Guerra (ou conflito) do Vietnã [1]–, mas também, o que seria sua parte “oculta”: a guerra do povo vietnamita contra a ocupação japonesa e a guerra de libertação nacional contra o Exército Francês, que culminou com a incrível batalha de Dien Bien Phu.

A Revolução Asiática
Com o fim da 2ª Guerra Mundial e a derrota do nazi-fascismo, abriu-se em todo o mundo uma etapa revolucionária. As transformações se deram na Europa Ocidental onde, paulatinamente, os países ocupados pelo Exército Vermelho Russo expropriariam as suas burguesias, e no mundo colonial, com o início de um poderoso movimento de independência nacional.

Na cabeça desse processo revolucionário, estava a China, onde o Exército Vermelho Chinês dirigido pelo Partido Comunista derrotaria o regime de Chang Kai Chek e tomaria o poder após uma longa guerra de guerrilha e após ser parte essencial na derrota japonesa.

Essa revolução, que concentraria em si mesmo uma série ininterrupta de tarefas – unificação nacional, independência nacional, reforma agrária e expropriação da burguesia e do latifúndio no país mais populoso do mundo –, incendiaria a Ásia, em especial uma área que ficaria conhecida como Sudeste Asiático.

Intervenção do imperialismo
O imperialismo não demorou para reagir ao ascenso dos povos coloniais. Na Ásia, interveio militarmente na Guerra da Coréia[2] e impôs a divisão do país. Paralelamente, na Indochina, os franceses tratavam de recuperar o terreno que haviam perdido para a organização nacionalista indochinesa conhecida como Vietminh (Liga para a Independência do Vietnã).

Esta organização, nascida em 1941 e liderada por Ho Chi Minh e Vo Nguyen Giap, seria fundamental na resistência à ocupação japonesa e, posteriormente, com o retorno dos franceses após o termino da 2ª Guerra Mundial, iniciara uma política ambígua, bastante influenciada pelo estalinismo, de fazer um acordo com o imperialismo francês.

As esperanças de um acordo fácil foram sendo, pouco a pouco, destruídas pelo apego dos franceses à sua colônia. Somente depois da famosa batalha de Dien Bien Phu e da fragorosa derrota do país europeu naquilo que, equivocadamente, se considerou uma fortaleza inexorável, é que os franceses aceitam negociar.

As vacilações e traição no campo vietnamita, sob os auspícios do estalinismo mundial, levaram a um acordo que dividiria o país ao meio, constituindo o Vietnã do Norte independente e o Vietnã do Sul, uma monarquia sob influencia francesa e, especialmente, americana.

A Guerra do Vietnã
Como dissemos no principio desse artigo, nunca houve uma declaração de guerra no Vietnã. Talvez porque desde o fim da 2ª Guerra Mundial nunca tenha havido um fim da revolução que se desenvolvia naquele país. Mas o que entraria para a história com esse nome começa com a política de John Kennedy, então presidente americano, de enviar “especialistas militares” para “assessorar” o exército do Vietnã do Sul.

Com a morte de Kennedy, assassinado em 1963, seu sucessor, Lyndon Johnson, começa a enviar combatentes e aumenta a escalada de guerra. Em agosto de 1964 acontece o incidente do Golfo de Tonquim[3] o que justificaria a intervenção maciça dos Estados Unidos.

Essa guerra, custaria mais de um milhão de vidas vietnamitas e a morte 47 mil soldados americanos; outros 313 mil ficaram feridos, a um custo de US$ 200 bilhões. a guerra só terminaria em 1975. Os Estados Unidos saíram, oficialmente, da guerra em 1973. Antes disso, fariam de tudo para sufocar e vencer a revolução na Ásia, pois, além do Vietnã, houve intervenção no Camboja e no Laos.

A lista de crimes é quase interminável: torturas, assassinatos, golpe de Estado, envenenamento massivo por meio do agente laranja, incêndio de aldeias usando Napalm [4], estupros e um muito longo etcétera.

A ofensiva do Tet: quando a balança pendeu para a revolução
“Na madrugada de 31 de janeiro de 1968, durante as comemorações do Ano Novo Lunar (Tet) no calendário vietnamita, tropas do Exército norte-vietnamita (ENV) e guerrilheiros vietcongues efetuaram a maior ofensiva coordenada de todo o conflito, envolvendo mais de 84.000 efetivos, atacando simultaneamente cinco grandes cidades, 36 capitais de província, 64 capitais de distrito e cinqüenta aldeias, de norte a sul do país” [5].

Esse acontecimento, cujos efeitos militares são bastante contestáveis, foi em primeiro lugar o fim de uma prolongada luta política no interior do PC vietnamita. A decisão pôs fim a uma década de amargas discussões no seio do Partido Comunista norte-vietnamita entre duas correntes. Uma pregava a coexistência quase pacífica e a anexação do Vietnam do Sul por meios políticos. Era liderada pelo teórico do Partido Truong Chinh e o líder militar Vô Nguyen Giap.

A outra facção, que pregava o estilo chinês de anexação pela força era liderada pelos irmãos Le. Ou seja, o General que a dirigiria estava, de fato, contra a ofensiva. E a ofensiva foi um completo fracasso militar. Planejada para ocupar 13 das 16 capitais de províncias sul-vietnamitas fracassou rotundamente.

Mas a guerra não se desenrola unicamente no campo de batalha. A retaguarda também tem sua importância, às vezes decisiva.

A propaganda americana dizia que a guerra seria ganha e que o Vietnã do Norte estava destruído pelos contínuos e maciços bombardeios. A ofensiva demonstrou que isso não era bem assim. O Vietnã não estava destruído e podia seguir combatendo. É interessante notar que as primeiras notícias sobre a ofensiva a davam como vitoriosa. O motivo é simples: para quem considerava que o inimigo já estava derrotado, sofrer um súbito ataque em larga escala, parece realmente uma derrota. Além do mais, como os americanos não conheciam o objetivo da ofensiva, também não sabiam qual fora o real fracasso dela.

Quase imediatamente após a ofensiva do Tet, a imprensa e a opinião pública americana passaram a considerar a derrota como uma possibilidade real, e a juventude, já não muito contente em “morrer em um país que ninguém sabe onde fica”, passou para o campo da oposição à guerra. A desmoralização começaria e só aumentaria nos anos seguintes.

Fez-se o impossível
Clausewitz[6] ficou famoso pela frase que diz: “a guerra é a continuação da política por outros meios”. A guerra do Vietnã coprovou a máxima desse genial general.

Se alguém em 1945 tivesse previsto que os Estados Unidos da América perderiam uma guerra para o Vietnã, teria sido ridicularizado e tachado de louco. Sob nenhum aspecto formal parece possível que tal façanha fosse feita. A distância no desenvolvimento desses dois países parecia tão grande que qualquer comparação seria desproporcional.

No entanto, nos anos que seguiram a 2ª Guerra Mundial, o impossível pareceu se repetir em toda parte. Na África, na Ásia e na América, povos se levantaram contra a dominação colonial e imperialista. Em muitos deles, esse levante culminou com a expropriação do imperialismo e de seus aliados internos, as ditas burgueisas nacionais.

Por outro lado, nos países imperialistas, a simpatia ativa que que os povos coloniais conseguiram, tanto na juventude quanto na classe trabalhadora, levou a que nem sempre fosse possível uma intervenção com a força que os chacais capitalistas desejavam.

A guerra do Vietnã foi vencida pela heróica resistência vietnamita e pela solidariedade ativa de milhões de pessoas em todo o mundo. Com isso o imperialismo não contava.

NOTAS:
1.
Nunca houve uma declaração formal de guerra entre Estados Unidos e Vietnã, razão pela qual alguns autores falam em “conflito” e não em guerra.
2. A Guerra da Coréia aconteceu entre 1950 e 1953, opondo a Coréia do Sul e seus aliados, que incluíam os Estados Unidos e o Reino Unido, à Coréia do Norte, apoiada pela República Popular da China e pela antiga União Soviética. O resultado foi a manutenção da divisão da península da Coréia em dois países, que perdura até os dias de hoje.
3. Esse incidente, provou-se posteriormente, foi forjado pelo Pentágono para justificar a intervenção. Um navio americano teria sido atacado por lanchas vietnamitas em águas internacionais (na verdade era o mar territorial norte-vietnamita) quando patrulhava no Golfo de Tonquim. Assim, os norte-americanos consideraram esse episódio um ato de guerra contra eles, fazendo com que o Congresso aprovasse a Resolução do Golfo de Tonquim, que autorizou o presidente a ampliar o envolvimento americano na região.
4. Napalm é um conjunto de líquidos inflamáveis à base de Gasolina gelificada, utilizado como armamento militar. O Napalm, misturado com gasolina, a transforma num gel pegajoso e incendiário.
5. George Abbud, Military Power Review .
6. Carl von Clausewitz foi um general e estrategista militar da Prússia, hoje parte da Alemanha. Foi diretor da Escola Militar de Berlim nos últimos treze anos de sua vida, período em que escreveu a obra Da Guerra, publicada postumamente.