A era Bush deixou os EUA em recessão e odiados em todo o mundo. No Iraque, estão atolados, sem saber como retirar suas tropas. Em casa, o governo convive com protestos de imigrantes, negros e mulheres. Uma herança da qual o imperialismo tenta se livrar, aA situação aberta após a política de “combate ao terror” de Bush é o ponto de partida para qualquer análise das eleições presidenciais dos Estados Unidos.
O presidente prometia uma vitória rápida no Iraque. Planejava invadir o país, derrubar Saddam e criar um governo fantoche que desse estabilidade para as empresas norte-americanas saquearem o petróleo. Contudo, os planos do imperialismo foram bloqueados pela enorme resistência iraquiana.

Mesmo depois de Bush enviar mais soldados e torrar bilhões de dólares na guerra, as forças coloniais de ocupação não conseguem “estabilizar” o Iraque, nem garantir que o governo fantoche consiga governar. A ocupação se transformou num pântano que encurralou as tropas invasoras. A situação é crítica para o imperialismo – por um lado, não pode retirar as tropas, exceto se admitir a derrota; por outro, não sabe como mantê-las. Por isso, um dos grandes temas nestas eleições presidenciais é sobre o que fazer com a ocupação do Iraque.

Crise do imperialismo
Poucas vezes na história um presidente dos EUA foi tão repudiado. Sua política despertou uma consciência antiimperialista em todo o mundo. O representante do maior país imperialista é recebido em todos os países com manifestações de repúdio.
Outra conseqüência da crise do governo Bush foi a perda de apoio interno. O presidente dos EUA amarga os piores índices de popularidade da história recente do país. Bush hoje tem apenas 30% de aprovação.

Além da guerra do Iraque, outros temas internos contribuiram para a perda de popularidade de Bush. Entre eles estão os escândalos de corrupção no governo, envolvendo até o seu vice; a crise do sistema de saúde, o descaso com as vítimas do furacão Katrina e as grandes mobilizações dos trabalhadores imigrantes.
Para piorar, a impopularidade de Bush se aprofunda em pleno ano eleitoral diante dos sinais concretos de uma recessão econômica nos EUA.

Reciclagem
A crise do governo Bush aponta a necessidade de o imperialismo reciclar sua imagem dentro e fora do país. Por isso, a principal surpresa da disputa eleitoral não é a disputa em si. A “novidade” está justamente nos perfis dos próprios candidatos: pela primeira vez em sua história, os EUA discutem, seriamente, a possibilidade de terem uma mulher, Hillary Clinton, ou um negro, Barack Obama, na Casa Branca.

Isso tem grande importância. Com uma nova cara (mas com mesma velha política de dominação) é possível que o imperialismo norte-americano tenha um presidente com apoio popular. Visto, inclusive, com mais simpatia pelo mundo, diferente do ódio generalizado contra Bush que existe. Ao contrário de Bush, que enfrentou manifestações de repúdio em sua viagem ao Brasil, uma visita de Obama como presidente dos EUA, por exemplo, certamente não levaria manifestantes às ruas. Ao contrário. A confusão que causaria na consciência dos trabalhadores, poderia ser transformada em apoio por organizações oportunistas.

Há sinais de reciclagem até mesmo entre os candidatos republicanos, que não querem ver sua imagem associada a Bush. O único que representava o grupo de Bush, Mitt Romney, saiu-se tão mal nas prévias que retirou-se da disputa. Os republicanos devem disputar a eleição com John McCain, um candidato visto como mais “liberal” que tenta unificar seu partido.

Como conseqüência da crise do governo Bush, o imperialismo procura uma saída viável, diante da eminente crise econômica e do pântano iraquiano. Uma saída que está sendo montada por dentro do regime, cujo objetivo é enfrentar uma onda gigantesca de demandas reprimidas. Nesse sentido, essas candidaturas de Obama e Hillary Clinton, podem ser de grande utilidade para a burguesia imperialista. Suas campanhas despertam expectativas de “mudanças”. Uma eventual eleição de Obama, por exemplo, certamente vai provocar ilusões na população negra do país, que vai se sentir representada, e ver “um dos nossos na Casa Branca”. Uma expectativa que pode ser comparada com as ilusões geradas em torno dos governos de centro-esquerda da América Latina, embora Obama não seja sequer formalmente de esquerda.

Toda estas máscaras, apesar de apontadas como sinal de uma enorme mudança no cenário político dos EUA, lembram uma passagem do livro “O leopardo”, do italiano Giuseppe di Lampedusa. Adaptado ao cinema, o texto traz uma frase que pode ser utilizada para entender o que se passa nos EUA: “É preciso que as coisas mudem de lugar para que permaneçam onde estão”.
Post author Jeferson Choma e Wilson H. Silva, da redação
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