Não será tarefa fácil para o governo esconder o acordo que fez com a Meia Lua. As mudanças tão aguardadas não virão e, além disso, a crise econômica já traz conseqüências. O preço do minério caiu mais de 40% e em outubro quatro minas foram fechadas. Essa situação certamente trará novos enfrentamentos.

Com a inevitável queda do orçamento em função da crise, o governo também terá dificuldades em preservar as medidas assistencialistas que rendem o apoio de milhares.

Para evitar que o provável desgaste com toda essa situação se transforme em lutas, Evo se apressa em tentar cooptar as direções dos movimentos sociais.
Um exemplo foi a doação de carros e de uma enorme sede ao sindicato dos mineiros de Huanuni, que recentemente se enfrentaram com tropas do governo, resultando na morte de dois trabalhadores.

Apesar de o governo estar conseguindo atrair Pedro Montes, principal dirigente da COB, transformando-o em co-autor da traição da NCPE, o movimento mineiro não se entregou. Tanto o sindicato de Huanuni quanto a federação de mineiros, por exemplo, enviaram apenas uma delegação à marcha e se recusaram a participar da vigília em frente ao Congresso, na Praça Murillo, como forma de demonstrar sua independência. Em El Alto, cidade vizinha a La Paz e centro das mobilizações da Guerra do Gás, também surgem dirigentes populares e estudantis com postura semelhante. Alguns se recusaram a participar da marcha, em protesto às mudanças no texto.

Esse questionamento com o governo são iniciais, mas significam uma valiosa reflexão de setores operários e dirigentes do movimento. Essa experiência poderá significar as bases para a construção de uma verdadeira e necessária oposição de esquerda na Bolívia.

Retomar as ruas e derrotar a burguesia
Os fatos recentes demonstram mais uma vez que os trabalhadores só podem confiar em sua própria mobilização e organização para conquistar mudanças reais.

A combinação entre traições do governo e os efeitos da crise econômica vai trazer grandes desilusões. Com isso, a burguesia da Meia Lua pode ver facilitada sua estratégia de retomar o controle do país.

Para acabar com as traições e evitar que a Meia Lua continue se fortalecendo, as manifestações devem voltar às ruas com a energia e disposição revolucionárias tantas vezes demonstradas. Exigindo que a COB retome sua plena independência política e que o MAS rompa seus acordos com a burguesia.

Os setores que já enxergam a cilada que o governo colocou o movimento devem imediatamente explicar ao povo a real atitude de Evo e organizar as lutas contra os efeitos da crise econômica e por um verdadeiro governo socialista da classe trabalhadora.

Somente a retomada das lutas pode evitar que as decepções com o governo sejam transformadas em derrota. No mundo inteiro, os trabalhadores devem manifestar a solidariedade às lutas na Bolívia. No Brasil, devemos denunciar o papel do governo Lula e exigir o fim do saque feito pela Petrobrás e pelo agronegócio, responsáveis diretos pela exploração no país.

A Conlutas e o ELAC devem seguir buscando a organização dos trabalhadores em todo o continente, fortalecendo a unificação das lutas contra o imperialismo na América Latina.

Trotsky afirmava que uma grande possibilidade de a classe trabalhadora superar suas falsas lideranças e construir uma verdadeira direção revolucionária é sob um governo de Frente Popular. Apenas com uma direção revolucionária pode-se romper as correntes que sufocam a vocação do povo boliviano. A vocação revolucionária, presente na classe trabalhadora de todo o mundo, encontra nos operários, camponeses e índigenas bolivianos alguns de seus mais perfeitos representantes.
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