O ano de 2014 no Brasil será marcado por dois grandes eventos: a Copa do Mundo no primeiro semestre e as eleições no segundo. E as mulheres que atualmente correspondem a mais de 50% da população e quase metade da classe trabalhadora estarão no centro das disputas pelos variados partidos. Mas o que reservam as eleições para as mulheres?

A mulher trabalhadora, as lutas e as eleições
As eleições de 2014 certamente expressarão as lutas das jornadas de junho e julho quando a juventude e os trabalhadores tomaram as ruas do país, revoltados com a precariedade e o alto preço do transporte público, o caos da saúde e da educação, os gastos exorbitantes com as obras da copa e a corrupção que corre solta no Brasil. As lutas travadas aqui também traziam muita inspiração dos lutadores que se levantaram contra os planos de ajustes de seus respectivos governos na Europa, nas revoluções no Oriente Médio e norte da África contra seus ditadores e por melhores condições de vida.

As multidões não estão mais nas ruas, porém as lutas são muitas e em todos os lugares. As conquistas obtidas foram arrancadas das lutas, mas um breve olhar sobre a realidade mostra que ainda estamos muito longe de alcançar as condições mínimas desejadas. Pouca coisa mudou de junho de 2013 para cá. E as previsões para 2014, se depender do governo e dos empresários, para quem trabalha e depende dos serviços públicos é que a vida tende a piorar. Ou seja, no ano das eleições vai ter que ter muita luta.

Entre os que ocuparam as ruas, houve a presença marcante das mulheres. E não poderia ser diferente. O trabalho mais precário é das mulheres, assim como a responsabilidade do cuidado com a família. Segundo a ONU, a pobreza é feminina, pois 70% dos mais pobres são mulheres. Logo, são elas quem, no mínimo duas vezes por dia, se submetem ao transporte público superlotado. Além disso, recebem até 30% menos que os homens exercendo a mesma função.

Porém essa presença não se expressa nas principais organizações da classe trabalhadora e nem no Estado burguês. Mundialmente, apenas 17 mulheres comandam países, dentre eles a Alemanha – por Ângela Merkel, uma das principais economias da Europa -, e o Brasil – governado por Dilma, que também representa um dos principais países da América Latina. No Congresso Nacional brasileiro, o número de mulheres é muito pequeno. Das 513 cadeiras da Câmara dos Deputados, apenas 45 são ocupadas por mulheres. No Senado, das 81 vagas, apenas 10 são ocupadas por mulheres. Demonstrando que o espaço das decisões políticas é predominantemente dos homens.

Não é demais afirmar que nem Dilma Rousseff e nem Ângela Merkel governam para as mulheres e para os homens da classe trabalhadora.

Merkel, para solucionar a crise capitalista que se abate sobre a Europa, impõe aos países da zona do euro uma série de medidas que retiram direitos da classe trabalhadora, arrocham salários e aumentam o desemprego. A presidente Dilma sempre deixou claro em sua campanha que as mulheres teriam espaço no seu governo e seus direitos garantidos. E tem cumprido a promessa à sua maneira. Nunca se viu tanta mulher em cargos de mando nesse país, vai da ministra da Casa Civil (Gleise Hoffman) à presidente da Petrobrás (Graça Foster). Ao todo, são sete ministérios e duas secretarias com status de ministérios (a Secretaria de Políticas para Promoção da Igualdade Racial e a Secretaria de Política para Mulheres). Isso, no entanto, não tem se traduzido em melhorias na qualidade de vida e de trabalho para as mulheres trabalhadoras e, principalmente, as mais pobres.

São muitos os descompassos entre o que Dilma promete e o que de fato realiza. A presidenta, em sua campanha eleitoral, se diferenciou de seu concorrente, José Serra/PSDB, afirmando que não privatizaria o petróleo porque era preciso garantir o futuro do país. Porém ela, a ministra da Casa Civil, a presidente da Petrobrás e Edison Lobão/PMDB privatizaram o pré-sal através da 12ª rodada de leilão do petróleo. E o processo de privatização atinge também portos, aeroportos, rodovias, além da terceirização dos serviços em todos os ramos da economia e em todas as esferas dos serviços públicos. E é a esse tipo de emprego que as mulheres, principalmente, têm acesso, com salários e condições de trabalho precário.

Outro exemplo é a violência contra a mulher. No governo do PT, de Lula a Dilma, foram aprovadas a Lei Maria da Penha e a criação da Secretaria de Política para Mulheres. Nem uma e nem outra têm servido de fato como garantia de segurança da vida e dos direitos às mulheres. Falta prioridade e investimento. Por aí se explica o aumento dos casos de violência física, psicológica e a violência cotidiana da falta de moradia, saneamento, saúde, educação, transporte, alimentação, lazer.

Os partidos da direita, de centro, além do PT, alardeiam a importância da igualdade das mulheres e a necessidade da sua participação na vida política. Dizem que as mulheres precisam decidir. O que eles não dizem é que tanto a igualdade quanto o direito de decisão dependem das condições em que se encontram tais e quais mulheres.

Para as trabalhadoras, a participação na vida política está condicionada à dupla e tripla jornada de trabalho, à permissão dos pais, namorados, companheiros, e quando mães, às condições em que criam os seus filhos. Com salários arrochados, às vezes contando apenas com o Bolsa Família, desempregadas e sem creche, fica muito difícil a participação das mulheres na vida política.

As Mulheres trabalhadoras vão votar
Participando ou não ativamente da vida política, as mulheres trabalhadoras vão votar, mas não decidirão os rumos do país através da eleição. Essa decisão será tomada em acordos entre os grandes partidos e os grandes empresários que financiarão as campanhas e os marqueteiros pagos a peso de ouro. Mais uma vez, farão todas as promessas que já foram feitas em campanhas anteriores. Falarão às mulheres que todos os seus problemas serão resolvidos e que quanto mais as mulheres ocuparem postos de trabalho e votarem no candidata ou candidato “certo” tudo será resolvido.

Nós também vamos participar das eleições e vamos apresentar candidaturas. No entanto, os nossos candidatos e candidatas utilizarão o espaço eleitoral para apresentar um programa que aponte as saídas para os problemas das mulheres e dos homens trabalhadores e da juventude. Afirmarão a importância de participar ativamente da vida política, mas que não basta ocupar postos de comandos. Incentivarão as mulheres trabalhadoras a lutar contra a exploração e opressão. Dirão que é importante votar nestas candidaturas, mas que isso somente não basta. Colocaremos as nossas candidatura a serviço das lutas que a classe trabalhadora precisa fazer para ter atendidas as suas necessidades mais sentidas. Os nossos candidatos farão um chamado aos partidos de esquerda e chamarão todos os lutadores para a composição de uma frente, ressaltando a necessidade da independência política e classista e que, para isso, as nossas campanhas não poderão ser financiadas com dinheiro dos empresários e empresas, que o nosso campo de aliança será apenas o da classe trabalhadora.

Logo, o desafio das mulheres trabalhadoras nas eleições é de antes e depois de outubro lutar e e, nas eleições, votar nos partidos que sempre resistiram com suas bandeiras nas lutas.