O governo reagiu às denúncias de corrupção, que paralisam seu governo a quase dois meses, com uma contra-ofensiva pomposa. A CUT, a UNE e o MST divulgaram uma “Carta aos Brasileiros”, em que atribuíam as denúncias a um suposto golpe da direita, que estaria querendo derrubar o governo Lula. No Congresso, essa mobilização teria um reforço com a presença de José Dirceu em discursos que acuariam a oposição burguesa. A reforma ministerial traria para o lado do governo o PMDB, e daria, afinal, a estabilidade ao governo.

A montanha pariu um rato. A contra-ofensiva está desmoronando aos golpes das novas denúncias. Bastou a comprovação da ligação direta entre Marcos Valério e um empréstimo ao PT para detonar agora a direção do próprio PT, com o afastamento de Silvio Pereira, e a provável queda de Delúbio Soares e José Genoino. Depois da queda de Dirceu, agora é a executiva do PT que vem abaixo.

O discurso de CUT, UNE e MST está se esfarelando. Como vai se manter a tese da “conspiração da direita”, se o próprio Lula quer a cabeça de Genoino, Delúbio e Sílvio? Se tudo não passa de uma invenção, como se explica o pagamento do empréstimo do PT por Marcos Valério?

A “contra-ofensiva” de Dirceu resumiu-se a um discurso defensivo em sua reapresentação ao Congresso, seguido de um silêncio quase absoluto. Ao contrário de qualquer postura de luta, Dirceu tenta sair de cena e evitar ser cassado.

A reforma ministerial de Lula vai colocar mais corruptos do PMDB e PP no ministério, acabando por detonar as esperanças da esquerda petista de uma “virada à esquerda” do governo. Mesmo indo mais à direita, não há no horizonte nada que assegure a estabilidade do governo. O PMDB estava dividido antes da reforma e vai seguir dividido depois. A alteração real é que a ala governista do PMDB vai passar de dois ministérios a quatro no governo, sem ampliar qualitativamente o apoio a Lula no Congresso. Quer dizer, o governo pagou mais pelo mesmo.

Toda semana, novas denúncias expõem duramente o que a maioria dos trabalhadores já sabem: o governo Lula é tão corrupto como a oposição burguesa do PSDB e PFL. Os que acreditavam cegamente no governo, hoje duvidam. Os que aceitaram a tese do “golpe da direita”, hoje vacilam. A própria direção do PT começa a implodir, cada um querendo jogar a culpa no outro, com os ratos começando a abandonar o navio.

Nos bastidores, os dirigentes do PT confirmam a corrupção, mas argumentam que ela é necessária para governar tendo minoria no Congresso. Aceitam a lógica da corrupção, como aceitaram a lógica da manutenção da mesma política econômica neoliberal, como parte das “regras do jogo”.

Nós dizemos não, BASTA! É mentira que não existem alternativas! Basta com os juros altos que só trazem lucros recordes aos banqueiros! Basta com os altos superávits primários a serviço do imperialismo! Basta com a corrupção deste governo e deste Congresso! Não temos porque escolher entre os corruptos do PT ou do PSDB-PFL!
É preciso começar a construir desde já uma alternativa. E isso se pode fazer em dois planos. O primeiro é articular uma resposta unitária do movimento de massas, em alternativa tanto ao governo como à oposição burguesa. É preciso passar da indignação para a ação das massas. Até agora não houve nenhum grande ato do movimento contra o governo. Não se pode confiar na CPI. Se ficarmos dependendo deste Congresso corrupto, tudo terminará em pizza novamente.

Para isso, é necessário passar por cima da cortina de fumaça de CUT, UNE e MST e construir uma ação política nacional unificada, ao redor do ato em Brasília chamado pela Conlutas para o dia 17 de agosto. É preciso que a esquerda da CUT e do PT, assim como o P-SOL, venham conosco construir esta ação unitária. É lamentável, nesse sentido, o divisionismo do P-SOL em um ato em Goiânia (GO). Só uma resposta unitária do movimento pode se contrapor às forças do governo e da oposição burguesa. Todos às ruas unificadamente no ato do dia 17 de agosto!

O segundo passo, mais estratégico, implica em discutir profundamente as razões da crise atual. O ciclo do PT e da CUT, que cumpriu um papel relevante no movimento de massas no Brasil nos últimos 20 anos, esgotou-se, não resistindo a dois anos de governo Lula. Uma discussão estratégica impõe-se a toda a vanguarda, para a necessária e imprescindível construção de uma alternativa à CUT e ao PT.

Post author Editorial do jornal Opinião Socialista 224
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