No dia 22 de fevereiro, um atentado a bomba destruiu a Mesquita Dourada (ou Mesquita de Askariya), na cidade de Samara, no Iraque. Logo após a explosão do templo, considerado o quarto local sagrado para os mulçumanos xiitas, uma onda de assassinatos e de destruição de mesquitas sunitas varreu o país. A violência entre sunitas e xiitas vitimou centenas em várias cidades e aumentou os temores sobre a explosão de uma guerra civil.

A grande imprensa mundial vem classificando os assassinatos como “violência sectária e religiosa” entre xiitas e sunitas, ocasionada por um antigo ódio. Nada mais distante da verdade. Durante a maior parte de sua história sunitas e xiitas conviveram pacificamente no Iraque. Prova disso é que existem inúmeros casamentos mistos entre os adeptos das duas maiores vertentes do islamismo. É artificial, portanto, dizer que há um histórico conflito religioso no país.

Provocação
Por outro lado, existem fortes suspeitas de que muitos atentados contra a população civil xiita são obras das tropas de ocupação (dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha). O objetivo seria criar uma divisão artificial no país, jogar sunitas contra xiitas e vice-versa, e assim fortalecer a ocupação.

Tais suspeitas são reforçadas pela forma como o atentado de Samarra foi organizado. Informações dão conta de que homens vestindo uniformes do Ministério do Interior do Iraque renderam cinco guardas e instalaram os explosivos. Contudo, nos dias anteriores ao atentado a mesquita era vigiada por um efetivo de 35 soldados. Uma pergunta não quer calar: por que o número de soldados na proteção do santuário foi reduzido de 35 para somente 5, justamente no dia dos ataques?

Até agora nenhuma resposta oficial foi dada. Outra questão que levanta muitas suspeitas é o assassinato de uma equipe de jornalistas da rede Al-Arabiya, que foi à Samara entrevistar moradores para investigar o atentado.

Outras prisões e assassinatos foram quase simultâneos às explosões. Estimulando e se aproveitando da furiosa onda de destruição de mesquitas sunitas, esquadrões da morte ligados ao governo fantoche iraquiano mataram centenas de pessoas em plena luz do dia. Essas execuções não foram a esmo. Os alvos eram muito bem selecionados, sendo que as principais vítimas eram suspeitos de colaborar com as forças de resistência à ocupação. Uma das ações foi contra um ônibus com 47 pessoas – xiitas e sunitas – que participaram de uma manifestação perto de Bagdá pela união do povo iraquiano. Todos foram mortos por homens armados.

Ações dos bandos
Não é a primeira vez que esquadrões da morte agem impunemente no Iraque. Há inúmeras acusações sobre a ação desses bandos, que têm a mais completa cobertura e colaboração por parte das tropas ocupantes e do governo marionete do país.

São verdadeiros grupos de extermínio, financiados e treinados pelos serviços secretos anglo-americano, cujo objetivo é perseguir e assassinar membros e simpatizantes da resistência iraquiana. Um dos principais esquadrões da morte é Organização Badr, uma milícia armada ligada a um partido xiita, o Conselho Supremo para a Revolução Islâmica (CSRII), principal partido do governo títere. Seu objetivo é atacar os sunitas em nome da “defesa dos xiitas”, para fomentar o ódio entre as distintas confissões religiosas.

Recentemente, também, foi encontrada uma prisão subterrânea em pleno Ministério do Interior, em Bagdá. Pelo menos 173 presos, a maioria iraquianos de orientação sunita, estavam encarcerados. Vários deles apresentavam sinais de tortura e maus-tratos. Segundo o jornal norte-americano New York Times, a prisão é gerenciada por um comando do Ministério que estaria recrutando membros da Organização Badr e de outras milícias xiitas.

Estes e outros atentados contra a população civil contam com a colaboração explícita dos serviços secretos imperialistas. No ano passado, por exemplo, em Basora (no sul do Iraque), foi realizada a prisão de dois homens com roupas árabes, armas e explosivos. Detalhe: eles se identificaram como membros do serviço secreto britânico, o que revelou essa intima colaboração. Na ocasião, os soldados foram violentamente liberados por tanques britânicos, que destruíram uma delegacia, o que gerou profunda revolta da população.

Guerra suja
Nos corredores da Casa Branca, o apoio prestado aos bandos assassinos é chamado pelo nome “Operação Salvador”. Esse modelo não tem nada de inédito e já foi adotado entre os anos 1970 e 1980, na América Central aterrorizando a população com extermínios e seqüestros.

No Iraque, esse plano foi adotado quando Bush enviou o Diretor Nacional de Inteligência, John Negroponte, um dos apoiadores dos Contras na Nicarágua.

Na época as ações dos Contras visavam desestabilizar o governo da Frente Sandinista de Libertação Nacional e custou mais de cem mil vidas de civis. Negroponte também organizou esquadrões da morte em El Savador que assassinou o arcebispo Oscar Romero, morto dentro catedral de São Salvador, em 1980.

Diante do recrudescimento da heróica resistência iraquiana, o imperialismo resolveu adotar esse modelo. É uma forma espúria de delegar o trabalho sujo que não pode ser feito diretamente pelas tropas ocupantes.

Dividir para reinar
O crescimento da resistência iraquiana vem aprofundando a crise da ocupação colonial imperialista. O plano dos EUA de apostar tudo nas eleições, elegendo um governo fantoche com a burguesa ligada à hierarquia xiita, vinculada ao Irã, está diante de um impasse.

O plano era preparar as forças armadas locais, com um governo submisso menos desgastado, que pudesse garantir o controle do petróleo e da região, sem manter tantos soldados por mais tempo. Tal objetivo parece estar muito distante e o seu fracasso poderá impor uma outra solução, que significa dividir o Iraque através da religião.

Parte desse plano está embutido na adoção da constituição que forma as “zonas autônomas”. De acordo com este projeto, o país seria dividido em governos próprios. No Norte do país, com os oligarcas curdos; no Sul, com os colaboracionistas de CSRII e Dawa. Esses governos controlariam as áreas que possuem os poços de petróleo.

Esse plano também teria muita serventia diante de um forte aumento da resistência iraquiana tratando de evitar um cenário de derrota militar dos EUA.

Fora tropas imperialistas do Iraque
O que o imperialismo pretende é converter uma guerra de libertação nacional em guerra civil, estimulando as ações dos esquadrões da morte e do terrorismo “explosivo” da Al Qaeda, que ao atacar a população civil xiita, no Iraque, coincide com os objetivos dos EUA.

Bush lança mão de uma velha prática de administrações coloniais imperialistas: “dividir para reinar”. Plano esse que já foi aplicado pelo imperialismo britânico na África, Índia e Irlanda.

No próximo dia 18 serão realizados atos internacionais contra os três anos de ocupação colonial no Iraque. Mais uma vez o mundo vai se mobilizar para essa jornada de lutas. Frente aos planos do imperialismo de dividir o país para derrotar a resistência, essa mobilização terá uma importância fundamental.

É preciso sair às ruas chamando o fim da ocupação, denunciando os planos de divisão imperialista e defender incondicionalmente as ações da resistência. Somente assim o povo iraquiano realizará sua libertação nacional, derrotando o imperialismo.

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