Deflagrada no dia 17 de setembro de 2001 e com mais de quatro meses de duração, a greve dos professores e técnicos administrativos das universidades paranaenses já é a mais longa greve brasileira de que se tem notícia. A greve significa a paralisação de 80% dos trabalhadores do ensino superior do Paraná. Eles reivindicam reposição salarial de 50,03%, regularização dos cargos dos novos funcionários, Autonomia Universitária com democracia e verbas para as universidades.

De acordo com Luiz Fernando, presidente do Sintioeste – Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Unioeste – e membro do Comando de Greve, “o último reajuste dado pelo governo foi de 10%, em agosto de 1995”. Quanto à dotação das verbas, o professor Luiz Alan, diretor do Andes e membro do Comando de Greve, explicou que “a Câmara aprovou a liberação de R$ 104 milhões para a Educação, mas o governo só liberou R$ 57 milhões. Se isso for mantido, a Unioeste, por exemplo, só funciona até julho”.

Negociação – Até o início de janeiro, o governador Jaime Lerner, do PFL, – mesmo partido de ACM, Marco Maciel e Roseane Sarney – não havia apresentado nenhuma proposta ao movimento. Para resolver o impasse, os trabalhadores chegaram a recuar com sua pauta. Aceitaram o reajuste salarial de 30% apenas. Mas o governador foi contra. Alegou que se desse um índice de aumento aos trabalhadores do ensino superior, todos os servidores públicos iriam reivindica-lo e isso ele não aceitaria. O movimento de greve fez outra concessão: aceitou o reajuste não linear. Ou seja, os técnicos-administrativos, com salários mais defasados, teriam um reajuste maior. Jaime Lerner aceitou a proposta, mas deixou claro que só assinaria o acordo após o fim da greve e desde que, no Projeto de Lei, não precisasse estipular o montante destinado às universidades. A tentativa de negociação acabou por aí e a greve continua.

Governo Lerner – Obediente ao receituário oligárquico, autoritário e desnacionalizante do seu partido (PFL), Jaime Lerner aplica, no Paraná, a política do FMI. Privatizações, demissões, fome, miséria, enfim, a barbárie neoliberal.

Lerner privatizou o Banco Público paranaense (BANESTADO), a companhia telefônica do estado (TELEPAR) e continua tentando vender a Companhia Paranaense de Energia Elétrica (COPEL), considerada modelo de gestão hidrelétrica e a mais lucrativa do país. Quanto ao ensino superior, ele força a “privatização por dentro”, obrigando-as a instituir taxas e vender serviços.

O desrespeito ao funcionário público é uma marca de seu governo. Assim como os trabalhadores da Educação, o conjunto das categorias do funcionalismo estadual amargam a mesma política de arrocho. Não é à toa que, hoje, Jaime Lerner é o governador mais impopular do país, segundo pesquisa do DataFolha.

Lerner x mobilização – O governador Jaime Lerner e o secretário de Ciência e Tecnologia e Ensino Superior, Ramiro Wahrhaftig, sempre pautaram sua relação com os sindicatos dos docentes e técnicos-administrativos pela recusa ao diálogo e por promessas não cumpridas.

Em 2000, as Universidades Estaduais do Paraná fizeram greve por aumento salarial e adequação orçamentária. Após 42 dias paralisados, retornaram ao trabalho com a promessa, do governador ,de que o reajuste seria efetivado no início de 2001. Encerrada a greve, a promessa foi esquecida.

Agora, Lerner espera o encerramento da greve para apresentar um reajuste. Confunde disposição para o diálogo com ingenuidade. Decidido a acabar com a greve, a qualquer custo, esta reprimindo e intimidando as categorias em luta. Nos primeiros dias da greve cortou os salários, mas foi obrigado a pagar por decisão judicial. Declarou que a greve era ilegal, mas não teve sucesso. Contratou um “Instituto de Pesquisa” que telefonou para os trabalhadores tentando persuadi-los pelo fim da greve. Distribuiu panfletos sem assinatura, feitos com dinheiro público, difamando ativistas. Abriu Processo Administrativo, pela Procuradoria Geral do Estado, contra lideranças sindicais e está multando os sindicatos em R$ 50 mil, por dia de greve. A mobilização continua e Lerner está quebrando a cara na resistência incansável dos trabalhadores. Sua mais nova investida é acabar com a greve via judiciário, por enquanto, sem sucesso.

Demissão – Como se não bastassem as ameaças do governador. A greve de 2000 ainda é motivo de preocupação. Na última quarta-feira, saiu a sentença contra três manifestantes que, naquele ano, haviam participado de uma ocupação na faculdade de Maringá. Um técnico-administrativo e um professor foram demitidos e outro professor foi suspenso por 90 dias. As punições foram atribuídas à lesão do patrimônio Público. Este é mais um dos ataques à Autonomia, posto que, o próprio Conselho Universitário afirma que não houve lesão alguma. Os trabalhadores estão respondendo à altura, com o aumento da mobilização. É greve até o fim.