Por que dizemos que é uma completa farsa a transferência de poderes?

Em primeiro lugar, porque o chamado “novo” governo é uma escandalosa continuidade da representação norte-americana no país e sequer foi eleito. O primeiro-ministro Iyad Allawi já era primeiro-ministro quando foi formado o primeiro governo provisório das forças de coalizão. Todo o resto da composição tem ligações diretas com o governo norte-americano ou com grandes empresas multinacionais.

Em segundo, porque as resoluções votadas na reunião do Conselho de Segurança da ONU simplesmente legalizam a atuação dos EUA no Iraque e delegam ao “novo” governo a execução de inúmeras medidas. A maioria delas atinge diretamente a soberania do país. A escolha do interlocutor político seria (e já foi) dada pelo país ocupante. Além disso, o controle da renda petrolífera seguirá sob responsabilidade do chamado Conselho Internacional de Assessoramento e Controle, integrada pelo FMI, Banco Mundial e Banco de Desenvolvimento Árabe.

As medidas estabelecem ainda que a reconstrução do país será através de “ajuda humanitária”, advinda de vários países, sob o controle dos EUA; obrigam o Iraque a pagar as “dívidas de guerra”, existentes desde de 1991, e a dívida externa, além de acabar com a soberania militar, mantendo as tropas de ocupação nos territórios iraquianos e proibindo o Estado iraquiano de adquirir armamento para sua defesa.

Como se vê, a transferência de poder é uma tentativa de amortecer a resistência iraquiana e legalizar a ocupação sob um disfarce nacional. Além disso, o governo quer amenizar o enorme desgaste pelo qual vem passando em seu próprio país e afastar o fantasma da derrota eleitoral que poderá sofrer nas eleições presidenciais de novembro.

Por isso, Bush está numa corrida contra o tempo. Pretende legitimar interna e internacionalmente as bases de uma nova etapa de dominação colonial no Iraque, depois da grave crise aberta este ano pela resistência, que deixou a ponto de um colapso seu projeto inicial.

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