Mais de cinco mil pessoas nas ruas de Porto Alegre (RS), debaixo de um temporal, cantando “pode chover, pode molhar! Mais um aumento eu não vou pagar!”. Milhares de jovens nas cidades de todo o país protestando pela saída de Marco Feliciano da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Uma greve nas universidades e institutos federais no ano passado contra o descaso com a educação pública.
Não é só na Europa da crise econômica ou nos países do Oriente Médio e Norte da África que a juventude está lutando. Nestes dez anos do PT, os jovens brasileiros também estiveram nas ruas.
Porém a juventude não conta com a União Nacional dos Estudantes (UNE) para fortalecer as lutas. Por que isso ocorre?

Passado e presente da UNE
A UNE foi protagonista de lutas históricas. Além de defender a educação pública, atuou decisivamente na campanha “O Petróleo é Nosso”, na resistência à ditadura militar e no Fora Collor.
Infelizmente hoje a situação é bem diferente. A entidade que lutou contra o neoliberalismo dos tucanos, virou grande incentivadora da “Reforma Universitária” do governo Lula em 2005, escondendo seu caráter também neoliberal. Apoiando o ProUni, a entidade jogou no lixo a defesa da educação pública, pois defende a transferência de verba pública para o ensino privado. Defendendo a Lei de Inovação Tecnológica, enterrou a luta pela autonomia na produção de conhecimento e contra a mercantilização da educação. A lei legalizou e ampliou a entrada de empresas nas instituições públicas de ensino.
Em 2007, Lula apresentou o ReUni e, mais uma vez, a UNE estava na trincheira oposta à dos estudantes, que se mobilizavam nacionalmente numa enorme onda de ocupações de reitorias. O movimento estudantil avisou que o projeto representaria muito mais precarização que expansão. Não deu outra. Com cinco anos de aplicação, a resposta foi uma enorme greve, contra as consequências do modelo de ensino adaptado ao mercado que o ReUni impôs.          
Mas a UNE não deixou para trás apenas o seu histórico de defesa da educação. Abandonou por completo a luta por um Brasil mais justo. A UNE, hoje, se cala diante dos leilões de petróleo realizado pelo PT. E engana a juventude dizendo que os 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação enfim serão conquistados (para daqui  dez anos!), através dos royalties do petróleo. Escondem que eles equivalem a, na verdade, apenas 0,6% do PIB.
A UNE que lutou pelo impeachment do Collor é defensora do mensaleiro Zé Dirceu e do corrupto Renan Calheiros e nada faz para derrubar Feliciano, porque atua o tempo inteiro com o objetivo de manter a estabilidade do governo do PT.
      
Das ruas para os gabinetes
Há alguns anos, a UNE estava se distanciando dos estudantes e perdendo a democracia interna. Mas o salto na mudança da UNE veio com a entrada do PT no governo federal. A entidade passou a ser diretamente um agente do governo dentro do movimento. Tornou-se um instrumento para convencer a juventude de que as medidas aplicadas por Lula e Dilma não são ataques, mas sim conquistas.
Dizem para os estudantes que o ProUni é uma oportunidade de conseguirem um diploma. Não dizem, porém, que eles poderiam estar numa universidade federal se o dinheiro do governo dado ao dono da faculdade fosse investido na educação pública. Enganam com a promessa dos 10% do PIB através dos royalties do petróleo, ao invés de defender uma Petrobras 100% estatal.   
A UNE, portanto, é um dos sustentáculos em que o PT pode se apoiar para governar. Com o PT no poder, infelizmente, as organizações que os trabalhadores e estudantes construíram ao longo de décadas deixaram as ruas e entraram nos gabinetes. Um bom exemplo é Lindbergh Farias que, aos 23 anos, então presidente da UNE, foi o grande representante dos “caras pintadas” que derrubaram Collor. Hoje é senador pelo PT e é acusado de corrupção em seu mandato na prefeitura de Nova Iguaçu (RJ).
É por isso que a juventude do PSTU rompeu com a UNE. A juventude brasileira não pode ficar à mercê de uma entidade que tem como objetivo sustentar um governo.
A adaptação da UNE ao governo marca um fenômeno muito importante. Hoje, as lutas da juventude não passam mais por dentro dessa entidade. A reorganização, então, abre espaço para a construção de uma alternativa que aglutine os lutadores.

A Juventude tem alternativa
Há um elemento comum nos movimentos juvenis em todo o mundo hoje, independentemente da situação política dos diversos países: a procura por novos caminhos para organizar suas lutas.
O compromisso da UNE com o governo fez com que o movimento estudantil brasileiro passasse a lutar por fora (e contra!) a velha entidade e criasse a Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre! (ANEL) em 2009. A Juventude do PSTU tem muito orgulho de impulsionar essa alternativa, que hoje cumpre o papel de unificar ativistas de diversas posições políticas para lutar por outro projeto de educação e sociedade.
A maior prova disso foi o Comando Nacional de Greve dos Estudantes (CNGE) que articulou, em 2012, a greve das universidades federais, unificando gente de norte a sul do país. Sem a ANEL, dificilmente poderíamos contar essa história hoje.
Nos dez de governos do PT, a juventude não faz festa, mas sim muita luta. Não temos nada a ver com os ex-presidentes da UNE que hoje defendem o Código Florestal, como Aldo Rebelo (PCdoB), ou com Orlando Silva (PCdoB), envolvido em escândalos de corrupção. Não temos nada a ver com o PT que pôs Marco Feliciano (PSC) na presidência da Comissão de Direitos Humanos. A ANEL está do lado do novo, que não está nos gabinetes, mas nas ruas derrubando aumentos das tarifas de ônibus, contra Feliciano e lutando por outro projeto de educação pública.
 

Post author Matheus Gomes, de Porto Alegre (RS)
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