Operação Hurricane (furacão em inglês) revela esquema de venda de liminares e expõe verdadeira face da JustiçaNas últimas semanas, a Polícia Federal e o Ministério Público desencadearam uma série de ações contra o crime organizado, investigando desde indícios de sonegação até o esquema de lavagem de dinheiro mantido pelas casas de bingo. No entanto, o que chamou a atenção foi a revelação das estreitas relações mantidas por policiais, delegados, juízes, advogados, desembargadores e até mesmo um ministro do Superior Tribunal de Justiça com os bicheiros que comandam a jogatina no país.

A chamada Operação Hurricane e a Operação Têmis revelaram um mega-esquema de venda de liminares e decisões judiciais, além de um esquema de corrupção com capilaridade em praticamente todos os setores da Justiça, desde os policiais até o STJ, uma das instituições máximas do poder judiciário. Na primeira fase da operação foram presos, só no Rio de Janeiro, três desembargadores da Justiça Federal, um procurador da República e nada menos que três delegados da Polícia Federal.

‘Hurricane’
O que era para ser uma investigação contra a sonegação fiscal e a lavagem de dinheiro de bingos, que rendesse algumas cenas sensacionalistas da ação da Polícia na mídia, descambou para um caso generalizado de corrupção. Descobriu-se que a distância que separa a máfia do jogo do bicho e o comando da Justiça é bem pequena.

No Rio, foram detidas as principais figuras que comandam o jogo do bicho, os caça-níqueis e o bingo. Um personagem em especial ilustra bem a relação que se dá entre polícia e o crime. O chamado Capitão Guimarães, na verdade o bicheiro Ailton Guimarães Jorge, dirigiu comandos de extermínio durante a ditadura e cresceu na carreira torturando presos políticos. Com o know how adquirido durante os anos de repressão, o bicheiro disputou espaço dos jogos com outros contraventores, construindo um verdadeiro império do jogo.

Além de manter as escolas de samba, os chefões do bicho também financiam as campanhas de parlamentares e até de presidente. Em 2002, a campanha de Lula à presidência teria recebido, segundo o depoimento de Rogério Buratti à CPI dos Bingos em 2005, cerca de R$ 1 milhão só em São Paulo. Também teria havido o repasse de dinheiro no Rio de Janeiro.

Dois pesos…
No entanto, como era de se esperar, os juízes não permaneceram detidos e os pedidos de prisão preventiva para os peixes grandes do Judiciário foram negados pelo STF. O único que permanece detido é o desembargador Ernesto Dória, preso em flagrante com posse ilegal de arma.

O peixe maior, o ministro Paulo Medina, do STJ, suspeito de vender liminares permitindo o funcionamento das casas de bingo, continua livre.

Ao mesmo tempo em que os magistrados eram soltos e os demais juízes ficavam livres, uma notícia aparentemente sem a mesma importância expôs o outro lado da Justiça burguesa. No último dia 23, o cozinheiro de um restaurante requintado da capital de São Paulo foi preso em flagrante acusado de furtar dois frangos e algumas cebolas. O próprio funcionário acusado compareceu à delegacia de polícia e foi preso na hora. A Secretaria de Segurança do Estado justificou a prisão afirmando que “o crime de furto é inafiançável”.

O fato, mais trágico que cômico, contrasta com o tratamento dispensado aos magistrados, envolvidos com o crime organizado e responsáveis por milhões em prejuízo ao orçamento através da sonegação e outros delitos. Expõe de forma cabal o caráter de classe da Justiça burguesa, cuja existência serve para manter a desigualdade, proteger a propriedade e os interesses dos ricos.
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