No dia 29 de agosto, comemora-se, em todo o país, o Dia da Visibilidade e Consciência LésbicaO Dia Nacional da Visibilidade Lésbica foi instituído em 29 de agosto de 1996, quando ocorreu o I Seminário Nacional de Lésbicas, que reuniu mais de cem mulheres lésbicas para discutir seus direitos e os rumos do movimento. Embora se tente afirmar que vivemos numa sociedade democrática, onde existe igualdade de direitos e oportunidades, sabemos que a coisa não é bem assim. A mulher lésbica é duplamente oprimida e explorada.

Até hoje, apesar da intensificação das lutas por direitos, as lésbicas não conseguiram incorporar suas reivindicações específicas nem no movimento feminista nem no movimento gay. Diante disso, lésbicas do mundo inteiro estão se organizando e tomando as ruas para lutar pela “visibilidade lésbica”.

Em nossa sociedade, a invisibilidade lésbica é tamanha que tornou a relação entre mulheres um verdadeiro mito. Inclusive, pouquíssimos dados sobre as condições de vida da mulher lésbica são encontrados (violência, doenças, etc.).

As conseqüências sociais dessa invisibilidade são terríveis. Nas escolas, a educação machista e homofóbica é irresponsável, pois não garante informações necessárias para o exercício livre e seguro da sexualidade. A homossexualidade feminina jamais é abordada nas aulas de educação sexual. Os professores nem mesmo estão aptos. Nos raros casos em que os professores apresentam uma postura que fuja a regra estabelecida, sofrem acusações de incentivar práticas imorais, homossexualidade e outras.

Na saúde pública, a mulher lésbica encontra profissionais que não apresentam preparo para lidar com as especificidades. Segundo pesquisa recente, 60% das lésbicas que vão ao ginecologista sequer dizem que se relacionam com mulheres. O mercado até hoje não oferece, nem mesmo foram desenvolvidos, produtos de proteção contra DSTs específicos para relações entre mulheres. Ainda que existam formas “artesanais” de improvisar tais produtos a partir de luvas de látex, camisinhas, etc., este tipo de informação não é socializado, tampouco está ao alcance da maioria.

Importante elemento a ser colocado é a ameaça aos direitos que já foram conquistados (e que a mulher lésbica da classe trabalhadora não consegue exercer minimamente). Todos os dias, resistimos a ameaças vindas de deputados do Prona, de médicos e psicólogos que propõem retrocessos no que diz respeito à saúde e ao exercício da sexualidade de forma livre. Ora é a igreja católica apelando aos políticos a revisão de direitos, ora é Bush fazendo declarações contrárias a união civil entre casais do mesmo sexo. Enfim, a ofensiva tem sido intensa.

Interessante também é o fato de que estas ofensivas não permaneceram sem resposta. Contribuíram para a organização e politização do movimento, que aprovou moções, tomou as ruas, promoveu campanhas, etc.

A saída é a luta
Estima-se que 10% das mulheres brasileiras são lésbicas ou bissexuais. Em São Paulo, este número representa cerca de 750 mil mulheres. Entre elas, apenas 1,4% assumem publicamente sua orientação sexual, em grande medida por temerem a intolerância e preconceito de sua família, amigos, filhos e demais pessoas.

De fato, ser lésbica nessa sociedade não é fácil e significa enfrentar problemas em todas as esferas da vida: social, pessoal, profissional e até mesmo política. Mas isso ainda não é tudo. Muitas vezes, a discriminação atinge graus ainda mais violentos como estupros e violência sexual. No Brasil, não existem dados oficiais quanto a crimes de ódio, fato que torna mais difícil ainda dimensionar a opressão.

Ao enfrentar os desafios cotidianos, percebemos que, de fato, não há solução individual possível para conseguirmos superar definitivamente a vida opressiva e explorada que vivemos.

Seja no âmbito familiar ou social, principalmente para aqueles que vivem distantes das grandes metrópoles ou simplesmente não têm poder aquisitivo para escapar desse mundo e entrar nos guetos (lugares como bares e casas noturnas, onde a vivência da homossexualidade é “permitida” e tolerada), a única saída é a organização e a luta.

Dividir para reinar
A opressão é utilizada para dividir a classe trabalhadora e fazer com que, em momentos de ofensiva imperialista como vivemos hoje, os trabalhadores não vejam a burguesia como sua principal inimiga, mas sim uns aos outros. Com essa divisão, conseguem dividir a resistência frente a qualquer ataque aos nossos direitos.

Utilizando-se dos pensamentos mais conservadores, o imperialismo dissemina preconceitos e hipocrisias e com isso solidifica a exploração. Temos que ser capazes de superar essas diferenças e unificar nossas lutas. É tarefa das mulheres lésbicas pautarem suas reivindicações junto às organizações dos trabalhadores da mesma forma que devem tomar para si as lutas mais gerais contra a exploração e opressão.

Só com a unificação das bandeiras de todos os oprimidos e explorados é que conseguiremos a transformação concreta da sociedade.