O partido mundial da revolução é a única ferramenta que pode derrotar o imperialismo. No entanto, para a maioria da esquerda, a idéia de uma Internacional aparece como utópica. Para que serve uma Internacional?Desde seu nascimento, o marxismo levantou a bandeira da organização dos trabalhadores num partido internacional. Em 1948, o Manifesto Comunista, redigido por Karl Marx e Friedrich Engels, conclui: “Proletários de todos os países, uni-vos!”.

O chamado foi concretizado na criação da I Internacional, em 1863. Na época, a Internacional reuniu alguns pequenos grupos e tendências do movimento operário da Europa, que tinham a necessidade de dar uma resposta comum às suas lutas.
Em outro trecho do Manifesto, pode-se ler: “os operários não têm pátria” – e acrescenta – “o desenvolvimento do capitalismo determina o caráter internacional da revolução proletária”.

Nessa passagem, o Manifesto já mostrava a necessidade de construir uma Internacional a partir da análise do caráter mundial da economia capitalista, em plena expansão na segunda metade do século 19.

Mas o caráter mundial do capitalismo se consolidou na época imperialista, em princípios do século 20, com o domínio do mundo pelas grandes potências e empresas multinacionais.

O imperialismo aplica uma só política mundial, por meio de planos neoliberais ou “ajustes estruturais” do FMI, em todos os países do planeta. Problemas como o pagamento da dívida externa, privatizações, desemprego e crise econômica são sentidos pelos trabalhadores de todo o mundo. A globalização é mais um passo na internacionalização do capital, aprofundando as características do imperialismo. Um exemplo é o que ocorre hoje com a GM. Acumulando prejuízos nos EUA, a empresa decidiu atacar os trabalhadores brasileiros para manter seus lucros.

Quando um punhado de nações ricas domina praticamente toda a economia mundial, torna-se ainda mais urgente responder a esse fenômeno com uma organização e uma política internacionais.

A Internacional, portanto, é uma necessidade dos trabalhadores tanto quanto a criação de um sindicato para defender seus interesses econômicos. Os operários precisam dos sindicatos para lutar por seus salários, empregos, etc. Assim como os trabalhadores criam seus partidos políticos para defender seus interesses de classe contra a burguesia de seus países.

Contudo, em nossa época imperialista, da economia e da política dirigidas pelo capital financeiro, não há como um partido revolucionário ter em seu programa somente o desenvolvimento da realidade e das tendências de seu país. Seria o mesmo que tentar compreender a realidade brasileira considerando apenas a soma das situações de cada estado.

Como definia Leon Trotsky, para os revolucionários “na época atual, infinitamente mais que durante a precedente, só se deve e pode deduzir-se o sentido em que se dirige o proletariado desde o ponto de vista nacional da direção seguida no domínio internacional, e não ao contrário. Nisso consiste a diferença fundamental que separa, no ponto de partida, o internacionalismo comunista das diversas variedades do socialismo nacional” (Leon Trotsky, “Stalin, o grande organizador de derrotas”).

Dessa forma, “para os marxistas, o fato cientifico primeiro e decisivo é a existência do sistema econômico político, social capitalista mundial, ao qual estão subordinadas as especificidades nacionais. Dito de uma outra maneira, o nacional é uma situação específica do sistema mundial” (Nahuel Moreno, “Conversando com Moreno”).

Se a economia é mundial e está acima do que é típico de um país, deve haver uma política e uma organização mundiais dos trabalhadores para derrubar o capitalismo e impulsionar a revolução socialista. Para se organizar e cumprir essa tarefa histórica mundial, a classe trabalhadora em cada país deve construir um partido socialista revolucionário.

Direção internacional
O surgimento das Internacionais foi antes da própria criação dos grandes partidos operários nacionais que surgiram na Europa no final do século 19. Foi a fundação da I Internacional, por exemplo, que preparou a construção dos grandes partidos nacionais da social-democracia.

É claro que a construção da Internacional e dos partidos nacionais é um processo combinado. Não se deve negar a importância das características nacionais. Para atuar na luta de classes, é obrigatório partir de uma análise correta da situação nacional, cuja tarefa é do partido nacional. Mas essa análise só pode ser completa no contexto de uma avaliação correta da situação mundial, levando-se em consideração a experiência do movimento operário de outros países. Como compreender, por exemplo, a situação política do Brasil e do governo Lula sem levar em consideração os fenômenos políticos da América Latina?

“Pois bem, é aqui que a Internacional, ainda que pequena e frágil como a LIT, cumpre uma papel indispensável, ao recolher experiências e opiniões de militantes e dirigentes de muitos países. A análise sempre será mais ampla, mais rica, do que possa elaborar um partido nacional, por mais brilhantes que sejam seus dirigentes” (“Conversando com Moreno”).

Daí se conclui que uma direção internacional não tem apenas a tarefa de organizar campanhas internacionais de solidariedade com grandes lutas operárias. Ela deve atuar e ajudar na elaboração política dos partidos nacionais.

Recuperar o internacionalismo proletário
O partido mundial da revolução é a única ferramenta que pode derrotar o imperialismo. Mas, para a maioria da esquerda, a idéia de uma Internacional aparece como utópica, uma fantasia ou apenas uma expressão do desejo dos trotskistas.

Mas não foi sempre assim. Há 70 anos, a vanguarda operária de todo o mundo pedia uma Internacional. Os princípios da independência de classe e do internacionalismo proletário guiaram a formação das principais organizações do proletariado na segunda metade do século 19 e no início do século 20 – I, II e III Internacionais.

Os bolcheviques, por exemplo, não mediram esforços para a construção da III Internacional. Logo após a tomada do poder, tiveram de enfrentar uma guerra civil contra exércitos imperialistas. Para enfrentar essa situação na arena internacional, chamaram a solidariedade do proletariado, com mobilizações e greves. Mas não foi só isso. Apesar de todas as dificuldades causadas pela guerra, eles garantiram a fundação da III Internacional, em 1919, para organizar o partido mundial da revolução.

Os bolcheviques já tinham clareza de que a Revolução Russa era parte da revolução mundial. Como o próprio Lênin expressou, em 1919: “Mesmo antes da revolução, assim como depois dela, nossa idéia era: imediatamente, ou de qualquer modo muito rapidamente, uma revolução irá começar em outros países, nos países ‘capitalisticamente’ mais desenvolvidos (…). Apesar desta consciência, fizemos tudo para preservar o sistema soviético em todas as circunstâncias e a qualquer custo, já que sabíamos que estávamos trabalhando não apenas para nós mesmos, mas para a revolução internacional”.

Mas essa tradição foi quebrada pelo stalinismo, que elaborou a teoria da “revolução num só país”. Tal teoria significava o abandono da luta pela revolução mundial, afirmando que o socialismo seria construído nos limites das fronteiras da URSS.

Como conseqüência desta política, a III Internacional, criada por Lênin, se transformou num aparato contra-revolucionário a serviço do stalinismo e da coexistência pacífica com a burguesia e o imperialismo. Finalmente, a Internacional Comunista foi dissolvida por Stalin, em 1943, obedecendo às vontades do imperialismo britânico e norte-americano, aliados da URSS, na Segunda Guerra Mundial.

Esse golpe do stalinismo provocou um atraso na consciência do movimento operário, que deixou de compreender a necessidade do internacionalismo proletário.
Por outro lado, com a restauração capitalista no Leste Europeu, ficou comprovado que é impossível construir o socialismo “num só país” sem derrotar o imperialismo em escala mundial.

Isso porque “o socialismo não pode ser nada mais que mundial. Todas as tentativas de se fazer um socialismo nacional fracassaram, porque a economia é mundial e não pode haver solução sócio-econômica dos problemas dentro das estreitas fronteiras nacionais de um país. A quem se deve derrotar é as transnacionais à escala mundial para abrir espaço à organização socialista mundial” (Nahuel Moreno, “O trotskismo hoje”).

Nacional-trotskismo
Mas o atraso quanto à necessidade do internacionalismo proletário teve conseqüências inclusive dentro das próprias fileiras da IV Internacional, com o nacional-trotskismo.

O nacional-trotskismo ocorre quando um partido defende formalmente o internacionalismo proletário, mas abandona, na prática, a luta pela construção de um partido mundial da revolução. Em geral, essas organizações defendem a existência de “condições excepcionais” em seus países e priorizam a construção apenas de seu próprio partido.

O partido trotskista norte-americano SWP, por exemplo, degenerou-se na medida em que se isolava internacionalmente. Depois da Revolução Cubana, terminou virando um aparato ligado à burocracia castrista.

Em geral, todo partido nacional que abandona a construção de uma direção internacional comete cada vez mais erros nas suas formulações de políticas nacionais. O destino do nacional-trotskismo, termina, inevitavelmente, na negação da IV Internacional e na adoção de posições oportunistas ou sectárias.

Uma questão decisiva
A IV Internacional surgiu a favor de toda a experiência do internacionalismo proletário formulado por Marx, Engels e Lênin. E também incorporando novas lições, produto da burocratização dos primeiros Estados Operários construídos na história.

É necessário, portanto, retomar a tradição do internacionalismo proletário, ou seja, da existência de um partido mundial da revolução que encare a tarefa de derrotar as grandes transnacionais que dominam o mundo e impulsionar a revolução socialista.

Apesar de sua decadência, o imperialismo continua existindo, atacando e destruindo a humanidade. A única explicação para isso é a falta de uma direção revolucionaria mundial e, como conseqüência, a derrota dos novos processos revolucionários que explodem mundo afora, em particular na América Latina.

Fazer parte de uma organização internacional, por menor e mais débil que ela seja, é fundamental para o avanço de um partido revolucionário. Para todos os partidos revolucionários e correntes internacionais, trotskistas ou não, está colocada a tarefa da reconstrução da IV Internacional, do Partido da Revolução Mundial. O destino dessas organizações e da própria humanidade dependerá da resposta a esse desafio.

A Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-QI) está a serviço da reconstrução dessta organização internacional. Temos uma história, uma experiência acumulada, um programa e o embrião de uma organização revolucionária internacional.
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