Liga internacional dos trabalhadores – Quarta internacional, www.litci.org

Os golpistas de Honduras deram nova demonstração de sua sanha assassina e de seu ódio ao povo. Por mais de cinco dias, mantiveram o cerco aos que foram à fronteira receber o presidente deposto, Manuel Zelaya. Os militares são responsáveis pela morte de Pedro Magdiel (encontrado com marcas evidentes de tortura) e por prender milhares de pessoas em locais insalubres, sem água e comida. Manifestantes tiveram que se arriscar em atalhos pelas montanhas. Na capital, Tegucigalpa, militares colocaram uma bomba num sindicato onde ocorria uma reunião da Frente de Resistência contra o Golpe.

As mortes e a “prisão ao ar livre” mostram claramente as atrocidades do regime. As organizações do movimento de massas e amplas camadas dos povos da América Central e de todo o mundo reagem indignadas às barbaridades. E a resistência atrai setores cada vez mais amplos da população. Estão dadas as condições para ampliar ainda mais o repúdio e multiplicar as mobilizações até derrotar o golpe.

A armadilha do acordo de San José
Dos EUA, Barack Obama percebe a difícil situação em que os golpistas se meteram. Através de seu homem de confiança, Oscar Arias, presidente de Costa Rica, lançou um plano cujo centro é a volta controlada de Zelaya ao poder, com o mandato reduzido.

Tudo para garantir o objetivo do imperialismo, dar estabilidade ao regime e impedir que a mobilização de massas escape do controle. Por isso, os imperialismos norte-americano e europeu evitam condenar a repressão e legitimam, na prática, os golpistas. Aceitam que Zelaya volte, mas desde que concorde com o acordo reacionário.

Nada é mais revelador do que os termos do acordo. Primeiro, garante que os golpistas não sejam julgados, mantendo intacta a atual cúpula militar assassina, o Parlamento e a Corte Suprema de Justiça, que orquestraram o golpe. Propõe um “governo de unidade e reconciliação nacional” com os golpistas, a antecipação das eleições, encurtando o mandato de Zelaya, e o fim da consulta sobre a assembleia constituinte.
O acordo deixa os golpistas impunes e preserva as instituições. O regime político reacionário e ditatorial de Honduras seguiria intacto e voltaria cedo ou tarde a atacar o povo.

O acordo necessita da aprovação de Zelaya, visto pelos setores populares como dirigente indiscutível. Ele declarou repetidas vezes que apoia a proposta, abandonando as reivindicações mais sentidas do povo: a assembleia constituinte, o fim das velhas instituições e o julgamento e punição dos militares e civis responsáveis pelo golpe.

Essa posição é coerente com a trajetória de Zelaya, com origem num dos partidos burgueses tradicionais da elite. Com as pequenas reformas que fez, chocou-se com o setor majoritário dos empresários e as Forças Armadas. Seu caráter de classe o levou, desde o início, a negociar o retorno e evitar que a resistência se transformasse numa autêntica insurreição popular que ameaçasse o regime e a estrutura semicolonial do país.

Por isso, Zelaya se submeteu rapidamente à negociação. Ao aceitar plenamente a proposta de Arias e do imperialismo, aposta na saída imperialista e na conciliação.

Post author
Publication Date