Wilson Honório da Silva, da Secretaria Nacional de Formação do PSTU

Sabemos que, independente de onde for, os meios de comunicação representam e defendem os interesses da classe dominante e, consequentemente, omitem, distorcem e mentem sobre as lutas dos oprimidos e explorados pelo sistema. Em relação este tema, leia o artigo de Romerito Pontes “Como a grande imprensa distorce os fatos sobre a Greve Geral”.

Contudo, exatamente em função da dinâmica da luta de classes e uns tantos outros fatores, isto também é marcado por contradições. Exemplo disto é a razoável diferença que podemos notar na cobertura da Greve Geral na imprensa nacional e estrangeira.

Aqui, pautados pela defesa de seus próprios interesses (afinal, os patrões das empresas de comunicação também têm muito a lucrar com as reformas Trabalhista e da Previdência) e de seus patrocinadores (inclusive o governo, responsável por uma enorme fatia da publicidade em revistas, jornais, TVs etc.), as manchetes, no geral, sequer falaram em Greve Geral e os textos enfatizaram a “violência” e o “vandalismo” dos manifestantes ou a balela de que milhões de trabalhadores (as) só não foram trabalhar porque “alguns sindicalistas”, em defesa de seus próprios interesses, forçaram a paralisação dos transportes.

Basta lembrar alguns exemplos citados do artigo mencionado acima: “A Folha de S. Paulo disse que “Greve atinge transportes e escolas em dia de confronto”. Já o Estadão disse que “Greve afeta transportes e comércio e termina com atos de vandalismo”. O Globo estampava que “Protesto de centrais afeta transportes e tem violência”.

Lá fora, até mesmo porque é necessário informar os investidores estrangeiros sobre a “temperatura” da luta de classes no Brasil, a história foi um tanto diferente. Foi raro o veículo de comunicação que não estampou “greve geral” em sua manchete; muitos chegaram a listar os setores que pararam; quase todos mencionaram que foi a maior paralisação nacional nas últimas décadas e alguns noticiaram que o movimento levou 35 ou 40 milhões a cruzarem os braços contra os planos de austeridade. Seguem abaixo alguns exemplos.

Reuters
Uma das principais agências internacionais de notícias, a Reuters, cujo conteúdo é reproduzido em jornais e revistas de praticamente todo o mundo (uma rápida busca na internet, revela a matéria foi reproduzida nos principais jornais e sites da Europa, Ásia, África e América do Norte), trouxe a manchete Cidades pararam em greve nacional contra austeridade (substituída, no final da noite, por “Manifestantes do Brasil enfrentam confronto policial na primeira greve geral em décadas”.

No artigo, a agência destacou que “os sindicatos convocaram a greve para expressar a raiva em relação aos esforços de Temer para impor medidas da austeridade, através de leis no congresso, que enfraqueceriam as leis trabalhistas e cortar um generoso sistema de pensões”. Apesar do adjetivo “generoso” utilizado para descrever o sistema previdenciário, a agência, mencionando que os membros do “governo de centro-direita de Temer” caracterizaram a greve como um “fracasso”, também deu voz a sindicalistas que afirmaram que “a greve foi um sucesso” e destacaram “a adesão de milhões de trabalhadores de setores-chave, como o automotivo, o petroleiro, as escolas e até os bancos”, atingindo “26 estados e o Distrito Federal”.

Em relação ao setor automobilístico, em particular, o artigo ressaltou que “a General Motors, a Ford, a Toyota e Mercedez-Benz paralisaram suas atividades, de acordo com os representantes das empresas, dos sindicalistas e dos analistas de mercado”, enquanto a Fiat/Chrysler, segundo a empresa, operou normalmente. No que se refere à Petrobras, a matéria menciona a contradição entre os relatos dos sindicalistas (que registraram a paralisação da maioria dos trabalhadores) e da empresa, que divulgou que a greve “não teve impacto significativo na produção”.

O artigo ainda destacou que, apesar de que “muitos analistas afirmarem que a greve teria pouco impacto imediato sobre ofensiva de austeridade feita pelo presidente e que, ainda, se espera que as leis sejam aprovadas em função de Temer continuar a ter apoio entre os parlamentares”, esta foi a maior paralisação nacional em duas décadas e que “as reformas enfureceram profundamente muitos brasileiros”, em uma situação em que o presidente já está “pressionado por um índice de 10% de aprovação” e as muitas denúncias de corrupção.

Al-Jazeera
A mais importante rede de mídia do mundo árabe, responsável pela transmissão de conteúdo jornalístico para o Oriente Médio, a África e a Ásia (além dos países ocidentais), reproduziu parte do artigo da Reuters, estampando a manchete Greve contra Temer paralisa as principais cidades no Brasil. A reportagem ainda menciona que “São Paulo, a cidade mais populosa e centro financieiro do país foi a cidade mais fortemente atingida pela greve” e que, apesar das investidas da polícia com bombas de gás, na tentativa de liberar as ruas, todo os serviços de ônibus, metrô e trem ficou paralisados. O mesmo que ocorreu em Brasília, Belo Horizonte e Curitiba.

Em uma reportagem em vídeo, com pouco mais de dois minutos, divulgada pela TV na véspera da greve, a Al Jazeera deu destaque para um casal de professores de Poá (São Paulo) – que além de dois empregos vendem bolos para poderem se suspentar – discutindo o porquê do amplo apoio à paralisação e oposição às reformas.

SAPO
Na véspera da Greve Geral, o portal português que oferece conteúdo principalmente para os países africanos de língua portuguesa (Angola, Moçambique e Cabo Verde), além do Timor-Leste, estampou a manchete Brasil. Adesão à greve geral ultrapassa o tradicional ‘Fora Temer’, destacando que “sectores da Igreja Católica, trabalhadores do sector privado, associações de polícias manifestam adesão à greve geral convocada para amanhã pelas principais centrais sindicais brasileiras”. Destacando que “alheios ao clima de contestação reinante no país, os deputados aprovaram ontem em primeira leitura o projeto de reforma do mercado de trabalho”, a agência informou que “por todo o país são esperadas esta sexta-feira perturbações nos transportes terrestres e aéreos, nas escolas públicas e privadas, bancos, hospitais entre outros sectores de atividade”.

No dia 28, com a Greve ainda em curso, a SAPO trouxe a manchete “Protestos, voos cancelados e transportes públicos afetados. A manhã da ‘greve que quer voltar a parar o Brasil’” (termos emprestado do artigo publicado pela BBC Brasil). No artigo, a agência destacou que “protestos nas ruas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, atrasos e cancelamento de voos, autocarros e metros a circularem de forma parcial, lojas e bancos fechados. Mais de uma dezena de pessoas detidas. No Aracaju, cidade do estado de Sergipe, vários lojistas fecharam as portas, e em Alto dos Rodrigues, município no estado brasileiro do Rio Grande do Norte, os funcionários da Petrobras fecharam os portões de uma das bases e juntaram-se aos protestos”. Além disso, citando as edições brasileiras do “El País” (Espanha) e o site da revista “Exame”, foram destacadas as mobilizações em Brasília, Fortaleza, Porto Alegre, Recife e Belém.

Deutsche Welle
O jornal e empresa de radiodifusão da Alemanha, estampou No Brasil ouve-se o rugido de manifestações durante greve nacional, destacando que o movimento, convocado pelos sindicatos e apoiado por vários movimentos sociais, tendia a ser, segundo os organizadores, “o maior da História do Brasil”.

Também dando destaque à violência policial, principalmente no Rio de Janeiro, e à paralisação dos transportes país afora, o artigo destaca que, para além das reformas, da substituição de Dilma por Temer e dos escândalos de corrupção, o combustível para o protesto foram o aumento do índice de desemprego (13.7% contra 13.2% no trimestre anterior, que elevou o número de desempregados para 14 milhões) e a contração da economia, atingida pela recessão desde 2015.

The New York Times
Um dos principais jornais dos Estados Unidos publicou matéria com o título Brasil tomado por greve geral contra medidas de austeridade afirmando que o movimento foi uma resistência às medidas apresentadas por um governo mergulhado em escândalos.

BBC
A agência de notícias britânica, que também repercute mundo afora, estampou que o Brasil foi atingido pela primeira greve geral em duas décadas, destacando que, apesar de enorme impopularidade de Temer e da classe política em função dos escândalos de corrupção, o presidente “ainda não tinha enfrentado uma demonstração de massas como a que ocorrer na última sexta-feira”. No calor da greve, em um texto intitulado “Ruas desertas em São Paulo”, o repórter Daniel Callas relatou que “em todo o país, muitas escolas públicas e privadas estão fechadas. Em São Paulo – a maior cidade do país – a maioria dos serviços de ônibus, metrô e trem também não estão operando”.

El País
Com a chamada Uma greve geral desafia as reformas do governo brasileiro, o jornal espanhol destacou que o movimento encontrou “apoio inesperado para além do âmbito tradicional da esquerda” e que pode se transformar na “prova de fogo” para um presidente que, segundo o jornal (em base à pesquisa do Instituto Ipsos) é apoiado por apenas 4% da população. A matéria ainda se destaca que “os riscos para Temer são enormes”, já que o Brasil “é um dos países americanos com maior tradição sindical”, tendo realizado sua primeira greve geral em 1917.

No seu site em português, o “El País” publicou uma matéria intitulada “Greve geral: cidades esvaziadas e bombas em frente à casa de Temer”, destacando que o movimento “contra as reformas da previdência e trabalhista propostas pelo Governo afetou grande parte dos transportes públicos (ônibus e metrô), bancos, escolas (públicas e privadas), comércio, entre outros setores de São Paulo e outras capitais. Protestos foram realizados em várias partes da capital paulista, no Rio de Janeiro, em Brasília, Porto Alegre, Fortaleza e outras cidades do país, e mobilizaram milhares de pessoas”.

Wall Street Journal
O jornal norte-americano especializado em economia trouxe a manchete Greve Geral no Brasil interrompe os transportes, destacando que o movimento “pode forçar o governo a amenizar as reformas propostas”.

France 24h
Em seu site, a rede formada por três emissoras de TV que transmitem programação 24h em inglês, francês e árabe, destacou que O Brasil foi paralisado por uma greve geral contra a austeridade. Apesar de enfatizar a paralisação nos transportes nas capitais, o noticiário menciona que a maioria das escolas também não funcionou e o movimento se estendeu para todas as principais cidades do país.

The Guardian
 Em um artigo intitulado Cansados com a corrupção política, brasileiros vão às ruas contra as medidas de austeridade, o jornal britânico colocou ênfase na oposição ao governo Temer desde sua chegada ao poder, depois da saída de Dilma, afirmando que, agora, “os sindicatos aumentaram a pressão sobre o presidente” através de “uma greve geral que fechou escolas, interrompeu os serviços de transporte e levou a confrontos com a segurança pública em diversas cidades”.

Apesar de reproduzir o discurso de políticos próximos ao governo e afirmar que “a paralisação não foi total”, o jornal também destacou que esta foi “a maior greve em décadas, com protestos registrados em 26 estados e a paralisação de professores, motoristas de ônibus, servidores da saúde, petroleiros e trabalhadores dos serviços públicos”.

Le Monde
Com a chamada Brasil: uma greve geral histórica, mas de menor amplitude do que o esperado, o jornal francês destacou que, “segundo os sindicatos, 40 milhões de pessoas participaram da mobilização nacional contra as reformas trabalhista e da previdência”. Apesar do título (que o jornal justifica pela baixa presença de pessoas nas ruas), o artigo ressaltou “que escolas públicas e privadas, os correios, bancos, lojas, transportes e hospitais foram paralisados em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e na maioria das grandes cidades”. O artigo, baseado em informações da agência de notícias francesas, a AFP, também foi reproduzido, com poucas alterações, por dois outros importantes jornais do país, o Liberation e o Le Figaro.

Clarín
 O jornal argentino publicou uma matéria sob o título Brasil: enfrentamentos entre manifestantes e a polícia em greve contra Michel Temer, destacando que “o Rio de Janeiro se transformou em um campo de batalha e houve repressão às  mobilizações contra o plano econômico do presidente”. Para além da repressão, o noticiário destacou que “metalúrgicos, petroleiros, os funcionários dos hospitais e dos correios também aderiram ao protesto” e que “cerca de 60 mil trabalhadores não ocuparam seus postos nas fábricas do cinturão industrial de São Paulo, paralisando montadoras como as da Mercedes e da Ford”.

ANSA Latina
O título da matéria distribuída pela agência de notícias italiana, que repassa conteúdo também para a América Latina, foi Distúrbios e cidades desertas devido a greve geral e sua principal chamada — “Governo considerou que foi um ‘fracasso’. Sindicatos eufóricos” – sintetiza o tom da reportagem.

Jornal de Angola
Sob o título Refoma Laboral paralisa o Brasil, o jornal africano também destacou a paralisação dos transportes na Greve Geral (principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília), ressaltando, contudo, que o movimento, convocado por diversas centrais sindicais e movimentos sociais, teve “outras acções e paralisações” em “Belo Horizonte, capital de Minas Gerais; Porto Alegre, no Rio Grande do Sul; Curitiba, no Paraná, e Salvador, na Baía, e em quase todas as outras capitais.”.